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Fundadores do BCP e BPI criticam possível privatização da CGD
"Em termos financeiros, o Estado não tem que ter uma instituição financeira. Agora, neste momento, a minha posição é de que o Estado não deve vender nada", disse Jardim Gonçalves.
Jorge Jardim Gonçalves e Artur Santos Silva, fundadores de dois dos maiores bancos privados portugueses (BCP e BPI), consideraram hoje que uma eventual privatização, ainda que parcial, da CGD, aconteceria na pior altura, dada a desvalorização do sector financeiro.
"Num momento de crise, é tudo defensável, menos vender, porque as coisas valem muito menos. Ainda por cima o sector bancário, que nunca esteve tão desvalorizado como está hoje. Acho um absurdo vender-se o que quer que seja da Caixa Geral de Depósitos (CGD)", afirmou Santos Silva (BPI), num debate sobre "O Dinheiro", que decorreu no Teatro Nacional Dona Maria II, em Lisboa.
Uma opinião partilhada no mesmo evento por Jardim Gonçalves (BCP): "Em termos financeiros, o Estado não tem que ter uma instituição financeira. Agora, neste momento, a minha posição é de que o Estado não deve vender nada".
Segundo o antigo banqueiro, o Estado "tem obrigação de melhorar a 'performance' [desempenho] do que tem e esperar o momento para poder alienar", e não vender as suas participações.
"Nem electricidades, nem infra-estruturas de electricidades [em referência à venda das posições estatais na EDP e na REN], nem comunicações, nem instituições financeiras. Nada. Neste momento, a CGD deve continuar a ser do Estado", considerou o fundador do Banco Comercial Português (BCP).
"Sobre a privatização da CGD, eu partilho da opinião do engenheiro Jardim Gonçalves, com uma ressalva: O país apresentou-se aos credores e comprometeu-se a vender determinados activos. Eu acho que é pena que tenhamos que vender, mas nós comprometemo-nos e, portanto, temos que vender", disse Santos Silva.
"Agora, a [privatização da] CGD não está no acordo com a 'troika', como não estão outros activos que estão a ser vendidos ou que foram vendidos", assinalou.
Ainda assim, o 'chairman' [presidente do conselho de administração] do Banco BPI revelou que, em termos pessoais, defende "uma privatização parcial da CGD, num momento de estabilidade económica e de uma situação normal dos mercados".
Isto, porque no seu entender, esta "era uma maneira de exigir que a CGD tivesse uma actuação mais de acordo com os mercados e com os interesses".
Já à margem do debate, em declarações à agência Lusa, Santos Silva reforçou que Portugal não deve alienar activos numa altura em que atravessa grandes dificuldades económicas e financeiras.
"Neste momento, defendo que não devemos vender nada a não ser aquilo que estamos obrigados a vender. Porque estamos num momento em que tudo está subavaliado, estamos num momento de grande crise. Isto, com a excepção das vendas de activos que nos comprometemos no acordo com a 'troika'", afirmou o banqueiro.
"Aquilo que nos comprometemos a fazer, temos que cumprir. Mas eu não venderia nenhum activo, tirando esses, num momento como este, em que tudo está muito desvalorizado devido à crise que alastra por toda a Europa e que afecta muito o valor dos activos", sublinhou à Lusa Santos Silva.
"Por isso, gostaria que não fossem, por esta altura, vendidos activos", finalizou.