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Elisa Ferreira: "As coisas nunca estão seguras no sistema bancário"
A vice-governadora do Banco de Portugal alerta que a "ilusão de que está tudo controlado é perigosa" para o sistema financeiro, garantindo que o supervisor segue agora regras mais apertadas na avaliação dos banqueiros.
Elisa Ferreira regressou esta quinta-feira, 28 de fevereiro, à Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) para alertar que "as coisas nunca estão seguras no sistema bancário e financeiro", sublinhando que "essa ilusão de que está tudo controlado e seguro é perigosa em si mesmo".
Embora a situação da banca esteja "bastante mais robusta" do que antes da crise – e aludiu à introdução de rácios prudenciais mais elevados, de rácios de liquidez ou ao facto de se ter começado a olhar para a qualidade de capital –, a vice-governadora do Banco de Portugal avisou, sem detalhar, que "provavelmente era a altura de afinar o que foi feito na supervisão e completar algumas peças que faltam na união bancária – e a ausência dessas peças é gravíssima".
Durante um debate sobre o sistema bancário português, inserido na cerimónia de entrega dos Prémios Oliveira Marques, a antiga ministra e eurodeputada do PS admitiu que os responsáveis do setor têm de "aceitar com humildade as lições que a crise trouxe e assumir as responsabilidades perante os cidadãos e, sobretudo, os contribuintes que pagaram mais do que aquilo que deviam no processo de estabilização" da banca.
Uma das alterações destacadas esta tarde por Elisa Ferreira, que partilhou o palco com o ex-ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, foi ao nível da cultura e das condições em que se faz a chamada ‘governance’ dos bancos, mesmo reconhecendo que "nem sempre é fácil mudar hábitos e práticas". Até porque a frase "Trust me, I’m a banker" [confie em mim, sou um banqueiro], disseminada pelo setor até 2008, "ficou um bocadinho difícil" de ser repetida no pós-crise.
"Aí o quadro mudou completamente. Nós [BdP] fazemos ‘fit and proper’ para todos os elementos do conselho de administração, combinando elementos de idoneidade pessoal, mas também experiência, conhecimento do setor, diversidade de perspetivas, o questionar as decisões e o evitar o comportamento de grupo, em que toda a gente se influencia a toda a gente. E garantindo que as pessoas têm tempo e disponibilidade para se dedicarem à instituição e que não vão [lá] para se servirem dela ou meterem [o cargo] no cartão-de-visita", resumiu.