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Decisão de crédito no Eurobic "não passa de Lisboa" para o estrangeiro
Teixeira dos Santos está apreensivo com a ausência de capital português na banca e com uma eventual deslocalização dos centros de decisão, destacando, por outro lado, o atual modelo de supervisão "mais intrusivo".
O EuroBic tem a empresária Isabel dos Santos e o luso-angolano Fernando Teles como acionistas, mas Fernando Teixeira dos Santos assegura que "[faz] questão que a decisão" sobre a concessão de crédito não seja transferida para outra localização no estrangeiro. "Em último caso, a decisão começa na agência, passa pela região, mas não passa de Lisboa", sublinhou.
O presidente executivo do antigo banco BIC – foi forçado em 2017 a mudar a marca para não se confundir com o banco BIG - Banco de Investimento Global – mostrou-se esta quinta-feira, 28 de fevereiro, preocupado com a deslocalização dos centros de decisão na banca, o que pode gerar "dificuldade em perceber algumas operações, necessidade de financiamento e alguns projetos que são subjacentes".
"O crédito não é um produto homogéneo, há uma relação e informação assimétrica entre o banco, que lida com a empresa, e os demais agentes económicos. Porque o banco conhece da empresa o que mais ninguém conhece. Ora, quando deslocalizamos os centros de decisão e não transmitimos esta informação, é óbvio que quem vai decidir longinquamente, não dispondo deste contacto e relação direta, pode não estar na posição de tomar as decisões mais adequadas", justificou.
Durante um debate na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), em que a vice-governadora do Banco de Portugal alertou que "as coisas nunca estão seguras no sistema bancário", o ex-ministro das Finanças atestou que "a presença de capital estrangeiro, seja na banca ou noutros setores, é sempre positiva". Pela concorrência e por introduzir "modelos de gestão e de negócios diferentes, que acabam por sacudir o ‘status quo’", recordando a entrada do espanhol Santander quando reinava uma "lógica corporativa" no setor.
"Não me incomoda a presença de capital estrangeiro no nosso sistema bancário, mas a ausência de capital nacional. Isso é que é motivo de preocupação. Sou um liberal [nessa matéria] até ao ponto em que vejo que o capital nacional também não está presente. Aí começo a ficar preocupado", completou Teixeira dos Santos, acrescentando que é por isso que defende que a Caixa Geral de Depósitos deve manter-se como um banco público.
Supervisão "intrusiva" e baixa rendibilidade
Independentemente de o regulador estar em Frankfurt ou em Lisboa, o líder da instituição que em 2012 comprou o BPN por 40 milhões de euros (altura em que o economista ainda não estava no cargo) – ficou com a rede comercial do banco nacionalizado em 2008 pelo próprio enquanto governante – sustentou que o atual modelo de supervisão é "claramente mais intrusivo", o que permite ao supervisor "andar mais em cima do acontecimento". E confere "um grau de conforto acrescido porque sempre que há comportamentos desviantes das normas, tem avisos que lhe permitem intervir mais atempadamente".
Apesar desta maior robustez, neste debate inserido na cerimónia de entrega dos Prémios Oliveira Marques, Teixeira dos Santos também identificou fragilidades. Devem-se sobretudo aos "legados" em termos de crédito malparado – "ainda comparamos mal com outros mercados bancários a nível europeu" – e também no que "tem a ver com os episódios negativos que pesaram nas contas dos contribuintes e que pesam agora nas contas dos bancos, que estão a contribuir para o fundo de resolução".
"Isso prejudica de forma significativa a rendibilidade dos bancos. Os bancos têm um problema de rendibilidade baixa e, sendo necessário e havendo exigências acrescidas de capital nos bancos, é muito difícil atrair capital. É preciso resolver rapidamente esta situação para conseguir atrair mais capital e estarem mais robustos do ponto de vista financeiro", concluiu o presidente executivo do EuroBic.