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CGD teve posição no BCP mas "o interesse não era nenhum"

A Caixa Geral de Depósitos ficou com uma posição variável entre 6% e 8% no BCP após o desmembramento do grupo Champalimaud mas chegou a ter mais de 20%. O ex-presidente do banco público admite que não era a sua preferência, mas que decorria de um acordo político.

Miguel Baltazar/Negócios
03 de Janeiro de 2017 às 16:49
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A Caixa Geral de Depósitos (CGD) chegou a ser a principal accionista do Banco Comercial Português (BCP) mas essa participação, que chegou a ser superior a 20%, não trazia qualquer interesse para o banco público, segundo considera António de Sousa, presidente da Caixa entre 2000 e 2004.


"O interesse técnico, de gestão, da CGD não era nenhum. Era tentar vender logo que possível", indicou António de Sousa na audição desta terça-feira, 3 de Janeiro, da comissão parlamentar de inquérito.

 

Com o fim do grupo Champalimaud no final da década de 90, a CGD foi chamada a participar com a aquisição da Mundial Confiança, que com ela trazia o Banco Pinto & Sotto Mayor, que seria posteriormente vendido ao BCP. "Mais do que orientações políticas, o acordo foi feito politicamente, o acordo foi feito fora da CGD", admitiu António de Sousa.

 

O entendimento foi feito por Pina Moura, ministro das Finanças da altura, no que foi visto como "uma grande vitória por ter evitado que o grupo fosse totalmente para as mãos dos espanhóis", o Santander. O Santander aceitou que a Mundial Confiança, que pertencia ao grupo Champalimaud, passasse para a CGD que viria a vender, depois, o Pinto & Sotto Mayor. Esta última operação era concretizada através de um aumento de capital do BCP, através do qual havia troca de posições com a participação da CGD no Pinto e Sotto Mayor. E foi daqui, em 2000, que veio a posição de 6% a 8% da CGD no BCP, como previsto nos acordos assinados.

 

"Nunca gostei dessa situação"

 

"Do ponto de vista técnico, o ter uma participação significativa noutro banco comercial é algo muito muito pouco desejável. Nunca gostei dessa situação. Os acordos estavam assinados, alguns deles tinham inclusive cláusulas penais. [A CGD] ficaria com 6% a 8%  [no BCP] para fins de internacionalização, e definiram-se esses fins. Sempre achei que seria uma coisa para um prazo relativamente curto a não ser que se concretizassem essas operações ou troca dessas acções por outras instituições. Nunca foi possível [a internacionalização acordada com o BCP]", confidenciou aos deputados António de Sousa. A redução da CGD no capital do banco fundado por Jardim Gonçalves acabou por ocorrer com a compra da Império e da Bonança ao BCP, em 2004.

 

As acções da instituição pública no banco privado foram mantidas até essa altura mas chegou a deter uma posição superior a 20% "por três a quatro dias", após o aumento de capital do BCP, com o facto de ter tomado firme os novos títulos não adquiridos, contou António de Sousa. Mas foi por pouco tempo porque, explicou o antigo líder da CGD, como os acordos previam apenas a posição variável entre 6% a 8%, o BCP teve uma semana para alienar o excedente.

 

Na audição desta terça-feira, António de Sousa afirmou também que, nos quatro anos em que esteve na presidência da CGD, não foi confrontado com quaisquer intenções de privatização do banco. 


(Notícia rectificada às 17:15 com a indicação de que, em 2004, deu-se a redução - e não a saída total - da CGD do capital do BCP)

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