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Carlos Silva sai do BCP com "início de nova era"
O vice-presidente não vai continuar em funções do BCP, banco que considera ser "um caso de sucesso" e "uma referência na esfera internacional". Carlos Silva, que está convocado para testemunhar na Operação Fizz, deixa desafios para o futuro.
Carlos Silva não está nas listas dos accionistas para continuar no Banco Comercial Português. Com o "início de uma nova era", o vice-presidente da instituição financeira vai abandonar o cargo. Mas, em carta, deixa elogios ao trabalho feito pelo banco na última década. E assinala, igualmente, a necessidade de a instituição continuar em "contínua transformação".
Numa missiva dirigida a António Monteiro, presidente do conselho de administração do BCP, Carlos Silva admite o ponto final do seu trajecto no banco, para onde entrou em 2011. "Estando consolidado, com sucesso, o ciclo de 'turnaround' do banco, dou por concluída a minha missão nos órgãos de gestão do Millennium BCP, pelo que deixa de fazer sentido a integração de quaisquer órgãos sociais num novo mandato".
Dá-se o "início de uma nova era", fecha-se um "ciclo de vida do banco". E Carlos Silva não continuará. Actual vice-presidente, Carlos Silva não se encontra na lista de novos órgãos sociais proposta pelos accionistas para o próximo mandato. Uma lista em que a Fosun tem uma palavra central, já que retirou à Sonangol a posição de maior accionista. A petrolífera angolana, neste momento, está a estudar a sua participação no banco. Nessa lista, Nuno Amado deverá continuar como presidente executivo.
A carta datada de 15 de Fevereiro, noticiada pelo Expresso e a que o Negócios teve acesso, foi escrita a partir de Luanda numa altura em que Carlos Silva é referido na Operação Fizz, sendo que o seu testemunho foi solicitado, ao qual se dispôs a depor por videoconferência. A investigação judicial que se encontra em fase de julgamento tem o procurador da República Orlando Figueira como protagonista por, alegadamente, ter recebido pagamentos para arquivar investigações ao ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente.
Mesmo assim, o vice-presidente do BCP, que entrou no banco ainda na liderança de Carlos Santos Ferreira e quando a Sonangol era a principal accionista, ressalva o trabalho que foi feito e em que participou. Foi possível, frisou, "concretizar, com sucesso, os ciclos de reforço de capitais próprios do banco" e "adequar a performance operacional" e ainda "melhorar de forma rigorosa os riscos de balanço".
"É inquestionável a transformação concretizada nesta última década. O Millennium BCP de 2018, por si liderado, é, de novo, um caso de sucesso, é, de novo, o maior banco privado português e continua a ser uma referência na esfera internacional", diz Carlos Silva na carta dirigida a António Monteiro, que está na presidência não executiva do banco desde a mesma data.
O futuro
"Com um sólido balanço e uma performance operacional de referência, considero que o principal desafio estratégico do Millennium BCP para o novo ciclo de gestão está estritamente relacionado com a capacidade do banco liderar a sua contínua transformação, para se adaptar aos desafios da era digital, criando ciclos disruptivos de evolução na forma e função que o banco desempenha junto das comunidades das diversas geografias onde opera", assinala o responsável que também fazia parte do conselho de curadores da Fundação Millennium BCP.
Na carta, Carlos Silva deixou elogios à comissão executiva do banco, que conseguiu resolver "equações complexas em contextos adversos". Há uma semana, na conferência de imprensa de apresentação de resultados, Nuno Amado, que preside à comissão executiva do BCP, deixou palavras elogiosas, sublinhando a sua importância para o cumprimento da reestruturação da instituição financeira.
Na vice-presidência, e apenas no exercício de 2016, Carlos Silva, que esteve em três mandatos no órgão de administração do BCP (primeiro no conselho geral e de supervisão, depois no conselho de administração), auferiu uma remuneração de 67,5 mil euros.