Notícia
Banco de Moçambique: Escolha para recapitalização do Moza evitou lavagem de dinheiro
O governador do Banco de Moçambique (BM) disse que a escolha da sociedade Kuhanha, gestora do fundo pensões do próprio BM, para a recapitalização do Moza Banco, evitou que este fosse usado para lavagem de dinheiro.
"Queríamos estar seguros de que o Moza Banco não seria usado para lavagem. Não vou mentir: houve investidores que vieram com essa intenção", avançou Rogério Zandamela esta segunda-feira, durante uma conferência de imprensa em Maputo.
De acordo com aquele responsável, que não avançou nomes, algumas propostas de investidores que queriam o Moza não apresentaram a fonte de financiamento. "Estes investidores até queriam o banco todo, mas eram de conduta duvidosa", explicou o governador, lembrando que o país já estava a ser alvo de notícias más e não podia "dar-se ao luxo" de cometer uma falha de tamanha magnitude.
Zandamela disse que existiam ainda propostas de investidores que queriam apenas "pedaços" do Moza, o que juridicamente era impossível.
A Comissão Central de Ética Pública (CCEP) de Moçambique anunciou no dia 8 ter pedido ao BM informações para avaliar se terá havido conflito de interesses na adjudicação do Moza Banco ao fundo de pensões daquele banco central.
Zandamela admitiu hoje que a escolha do Kuhanha foi um plano B, mas o único viável no actual contexto. "Se não tivéssemos sido pragmáticos, o Moza Banco teria sido liquidado, falando francamente", observou o governador, lembrando que esta foi a primeira vez que o país foi desafiado a intervir num banco com importância sistémica e à luz de uma lei que trata os pequenos e os grandes bancos da mesma forma.
Também a manutenção do presidente do conselho de administração provisório do Moza Banco, João Figueiredo, gerou discussão na sociedade moçambicana, uma vez que aquele responsável é também accionista do Banco Único. Rogério Zandamela referiu que a indicação de Figueiredo para o cargo não fere nenhum regulamento e deveu-se à sua competência e experiência.
A Kuhanha é presidida pelo governador do BM e conta na liderança com administradores do banco central.
O novo accionista passa a ser maioritário (80%), enquanto o português Novo Banco (que detinha 49%) e a Moçambique Capitais (que detinha 50,9%) passam a ter cada um 10% do Moza Banco.
A Kuhanha vai injectar 8.170 milhões de meticais (122 milhões de euros) na instituição bancária.
O Moza Banco já tinha recebido uma injecção de oito mil milhões de meticais (119 milhões de euros) por parte do banco central, na sequência da suspensão, em Setembro de 2016, do conselho de administração e da comissão executiva da instituição.
Na altura, o BM disse que a suspensão tinha como objectivo "proteger os interesses dos depositantes", tendo, no entanto, gerado receios sobre a robustez do sistema financeiro moçambicano, problema agravado pelo anúncio da dissolução do Nosso Banco, de menor dimensão, quase no mesmo período.
Segundo dados do regulador, no final de 2016, o Moza era o quarto maior banco de Moçambique com mais de 93 mil clientes particulares, oito mil empresas e uma quota de 7,71% do mercado, com 48 agências em praticamente todo o país.