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Acordos nos créditos em moeda estrangeira na Polónia podem custar 239 milhões ao BCP
O valor é inferior ao pior cenário estimado pelo Caixabank/BPI e pode representar uma deterioração do rácio de capital do banco português em mais de 100 pontos base, considerando os custos a assumir em 15 anos.
Se o Bank Millennium fechar acordos com os clientes com créditos em moeda estrangeira na Polónia, tal como pretende o regulador do país (KNF), o banco detido em 50,1% pelo Banco Comercial Português terá um custo potencial entre 4,1 e 5,1 mil milhões de zlótis (entre 900 e 1.100 milhões de euros) ao longo dos próximos anos.
As contas são do próprio banco e estão incluídas no relatório anual do Bank Millennium, que está a ser citado pela Bloomberg.
Numa nota de research a analisar esta notícia, o CaixaBank BPI calcula que estes montantes representam entre 20% a 25% da exposição original do Bank Millennium a créditos concedidos em moeda estrangeira. E situam-se abaixo do pior cenário que tinha calculado e que apontava para um custo total de 1,6 mil milhões de euros (36% da exposição inicial).
Traduzindo este custo, que poderá ser suportado em 15 anos para o seu valor atual, o BPI calcula que o problema dos créditos em moeda estrangeira, que tem vindo a assolar o setor bancário polaco nos último anos, pode implicar perdas de 469 milhões de euros para o Bank Millennium. Este cálculo assume perdas de 25% da exposição inicial e representa perdas de 239 milhões de euros para o BCP.
No que diz respeito ao impacto no capital, os custos subtraem 430 a 567 pontos base ao rácio CET1 do Bank Millennium e entre 115 a 152 pontos base no BCP. O CET1 do banco português estava em 12,6 no final setembro do ano passado.
Ainda de acordo com o relatório anual do banco polaco, o Bank Millennium deu conta que a anulação de todos os contratos que estão a ser alvo de disputa judicial representaria um custo de 530 milhões de euros, sendo que o banco já constituiu provisões de 960 milhões de euros para fazer face a potenciais custos com este problema.
O Bank Millennium já não concede créditos em moeda estrangeira desde 2008, mas tem ainda uma carteira de cerca de 3 mil milhões de euros em créditos em francos suíços, o que representa 17% de todos os empréstimos concedidos (5% no BCP).
As ações do Bank Millennium têm negociado em alta nas últimas semanas devido às notícias que davam conta que o regulador estava a incentivar os bancos a pedirem aos clientes que assinassem acordos para deixar cair os processos em tribunal até 25 de março, dia em que o Supremo vai tornar pública a sua decisão sobre esta disputa entre banca e clientes que dura há vários anos.
Os investidores acreditam que este será o episódio final num tema que tem obrigado os bancos polacos a registar elevadas provisões nas suas contas para fazer face às indemnizações a pagar aos clientes que contraíram créditos em moeda estrangeira (sobretudo francos suíços) e foram fortemente penalizados pelas flutuações cambiais.
No ano passado o Bank Millennium efetuou provisões de 677 milhões de zlótis (150 milhões de euros ) relacionadas com o tema dos créditos em moeda estrangeira, o que justifica a descida dos resultados líquidos em 2020 para 23 milhões de zlótis (5,1 milhões de euros). No quarto trimestre o banco polaco controlado pelo BCP registou prejuízos de 109 zlótis (24 milhões de euros).