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Carlos Tavares: O “car guy” chegou à banca

Esta é a história de um português em França. Um português que ganha milhões por ano. Carlos Tavares lidera o grupo automóvel PSA Peugeot Citroën. E aceitou agora o convite para ser administrador não executivo da Caixa Geral de Depósitos.

Reuters
18 de Julho de 2016 às 12:27
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Chega, pontualmente, ao escritório. Às oito da manhã, numa vida que se diz ser bastante regrada. Seguem-se as reuniões, quase sem direito a pausa. Às 18 está a sair da sede do grupo automóvel PSA Peugeot Citroën.

Homem de hábitos, Carlos Tavares permite-se meia hora de leitura diária. Às 21:30 é altura de dormir. Ao fim-de-semana, lá se dá ao luxo de tratar do jardim.


Agora, o gestor precisa de encaixar o cargo de administrador não executivo da Caixa Geral de Depósitos (CGD) na rotina, após ter aceitado o convite de António Domingos, o futuro presidente do banco público português.


Carlos Tavares tem experiência a dar a volta a negócios em dificuldade. É assim na PSA, foi assim na Renault-Nissan. "Quem chega a número dois e é apaixonado pelo que faz, ambiciona chegar ao topo", afirmou à Bloomberg em 2013, com a liderança da General Motors ou da Ford na mira.


Acentuou-se o conflito com Carlos Ghosn e a porta bateria ruidosamente no grupo automóvel onde trabalhou mais de 30 anos, chegando a dirigir a Nissan nos Estados Unidos da América e no Japão. Tavares, com a ambição que se lhe conhece, queria chegar a número um. De preferência, antes dos 60.


A oportunidade chegou de um sítio inesperado, do grupo PSA. Havia que substituir Philippe Varin, fazer a fabricante automóvel voltar aos lucros e expandir-se para fora da Europa. Mesmo com a sua pose autoritária, é reconhecido a Tavares o rigor e a paixão.


"Back to the Race" foi o nome dado ao plano de recuperação, reflectindo o espírito desportista do gestor. Uma corrida contra o tempo: havia de tirar a empresa de uma "crise emocional". Conseguiu o feito seis meses depois, segundo o próprio Carlos Tavares. Em 2015, a reviravolta nas contas: pela primeira vez em cinco anos, o grupo passa de prejuízos a lucros.


Nesse mesmo ano, o salário do gestor nascido em Lisboa em 1958 duplicou. Dos 2,75 para os 5,24 milhões de euros. Cerca de 14.500 euros por dia, contando já com fins-de-semana e feriados. Dividiram-se as opiniões, e o Estado francês, accionista da PSA, acabaria por mostrar o seu desacordo quanto a este cenário.

Outros louvaram-lhe um feito que era considerado praticamente impossível. O "car guy", assim o chamam, veio contrariar a crise interna com um perfil independente e ideias novas. E a mesma paixão pelos motores com que se formou em Engenharia Mecânica pela Écola Centrale de Paris.

A França chegou aos 17 anos, trazendo a língua na bagagem. A mãe era professora de francês, o pai agente de seguros. Carlos Tavares fala hoje o francês, o português, o inglês e o espanhol. Sem traços de desconforto. O automóvel é o seu terreno. Até mandou vender o jacto privado da Peugeot.

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