Notícia
Instabilidade do clima faz afundar produção de vinho e azeite
Os dados do INE mostram que a produção de azeite e vinho afundou no ano passado. As difíceis condições climatéricas estão entre os principais responsáveis.
Os dois últimos anos foram complicados para a agricultura portuguesa. E o clima esteve no centro do problema. Um Verão e Inverno mais quentes e uma Primavera mais fria e chuvosa fizeram parte de um período de "instabilidade meteorológica" que criou dificuldades à produção agrícola nacional. "Condições climatéricas afectaram as produções das culturas de primavera/verão, pomares, vinho e azeite", pode ler-se no relatório publicado hoje pelo INE.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2015/2016 registaram-se temperaturas médias do ar "muito superiores ao normal", acabando como o 6º e o 11º anos mais quentes desde 1931. O Inverno teve as temperaturas mais altas dos últimos 18 anos e a falta de frio "condicionou a diferenciação floral nos pomares". O Verão foi o mais quente desde o início da década de 30. Ao mesmo tempo, Abril foi o mais chuvoso desde 1931 e Maio teve a maior precipitação em 22 anos. Estas condições na Primavera dificultaram a entrada de máquinas nos terrenos, obrigaram a intensificar os tratamentos de combater a doenças e penalizaram o desenvolvimento dos pomares.
"Ano agrícola 2015/2016 caracterizado por temperaturas médias do ar muito superiores ao normal para a generalidade dos meses, posicionando-se quanto à quantidade de precipitação entre um ano seco (2015 foi o sexto mais seco desde 1931 e o quarto desde 2000) e um ano considerado normal (2016)", refere o INE.
Como é que estes diferentes máximos históricos se materializaram na produção? A produção de azeite, por exemplo, caiu 36,4%, muito influenciada por uma Primavera chuvosa. As vindimas decorreram "sem problemas", mas a produção recuou 15% devido a acidentes fisiológicos e ataques de doenças. Em 2016, a produção de maçãs afundou 25,7%, o pêssego 31% e a cereja 58,4%.
Estas quebras sentidas nos pomares levaram ao aumento das importações. A compra de "Frutas; cascas de citrinos e de melões" ao exterior aumentou quase 22%, passando de 5ª para 3ª categoria mais importada entre os produtos agrícolas e alimentares.
O que se pode esperar para este ano? As previsões feitas até ao final de Maio apontam para uma melhoria de algumas culturas em 2017. Deverá ser um "bom ano" para as fruteiras. A cereja, em especial, poderá recuperar a produtividade, depois de ter sofrido o pior ano da última década. Por outro lado, os cereais deverão ter um ano pior, devido às elevadas temperaturas e falta de humidade no solo.
Clima também fez aumentar incêndios
Outra consequência negativa da instabilidade meteorológica de 2016 foi a duplicação da área ardida face aos anos anteriores. "As condições meteorológicas de 2016 facilitaram a propagação dos incêndios florestais, tendo nos meses de verão (Julho, Agosto e Setembro) o estado de alerta amarelo e laranja de risco de incêndio ocorrido em 41 dias deste período", escreve o INE. "A área florestal ardida em Portugal mais que duplicou face a 2015, totalizando 160,7 mil hectares. A área ardida por ocorrência de incêndio mais que triplicou, atingindo uma média de 12,3 hectares por ocorrência de incêndio (4,1 ha em 2015)."