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Crise na sardinha: Governo desvaloriza, Bruxelas pressiona

Conhecidas as conclusões científicas, o Governo prepara-se agora para reunir-se com Espanha e Bruxelas. Da Comissão Europeia surgem os primeiros avisos de que os dados divulgados na sexta-feira são para “levar muito a sério”.

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22 de Outubro de 2017 às 18:30
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Os dados recolhidos pelos cientistas não deixam margem para dúvida: há uma enorme escassez de sardinhas na Península Ibérica, resultante de baixos níveis de recrutamento (nova sardinha em idade reprodutiva) e altos níveis de mortalidade. Por isso, o ICES, organismo que aconselha a Comissão Europeia sobre estas matérias, pede capturas zero em 2018.

Já depois do Governo ter reagido desvalorizando as conclusões científicas e recusando a suspensão ou sequer uma redução substancial das capturas, a Comissão Europeia veio a terreiro pedir cautela a Portugal. "O facto é que as práticas de sobrepesca e o aumento da poluição levam a um empobrecimento nas unidades populacionais", disse um porta-voz à agência Lusa no sábado.

[Bruxelas] está muito preocupada com o estado potencialmente precário da pesca de sardinha ibérica". Comissão Europeia
Porta-voz
A mesma fonte reiterou que Bruxelas está consciente da importância socioeconómica e cultural das sardinha em Portugal, sempre sublinhada pelos governos portugueses, razão pela qual "está muito preocupada com o estado potencialmente precário da pesca de sardinha ibérica". "As autoridades têm que levar isto muito a sério", concluiu.

Na sexta-feira, o Governo reagiu de imediato ao parecer do ICES: se por um lado, reconhece problemas relacionados com o stock de sardinha, o Ministério do Mar revela-se bastante mais optimista e mais afoito na gestão que propõe para a sardinha.

Em declarações aos jornalistas, a ministra do Mar chamou a atenção para as pequenas melhorias nos níveis de biomassa e anunciou que o Governo vai propor  a Espanha e Bruxelas limites de captura para os dois países até 14 mil toneladas. "O intervalo que vamos propor para os limites de captura para os dois países situa-se entre as 13,5 e 14 mil toneladas, disse a ministra em conferência de imprensa, citada pela Lusa.

Vamos  propor limites de captura [de sardinha] entre 13,5 mil e 14 mil toneladas. Ana Paula vitorino
Ministra do Mar

"É um decréscimo que nos permite, ainda assim, um crescimento expectável da biomassa de 5,8%", acrescentou. O decréscimo é de 18% face ao que terá sido oficialmente capturado este ano, e o aumento expectável da biomassa é metade do que seria alcançado se a recomendação científica do ICES fosse seguida. 

A ministra adiantou ainda que Portugal irá reunir-se quinta e sexta-feira com Espanha e a União Europeia para discutir o que fazer em 2018. A linha já assumida pelo Governo é a de tentar conciliar preocupações ambientais com as necessidades das comunidades piscatórias, ao passo que Bruxelas deverá pressionar para que o Executivo valorize mais as conclusões científicas. Se a proibição total da pesca parece fora de questão, fica em aberto se os níveis de captura serão reduzidos de forma ligeira ou mais acentuada.

Para os pescadores, o stock de sardinha no mar não oferece motivos de preocupação. Os dados científicos estão "em total contradição com a percepção dos pescadores de que a abundância de sardinha nas nossas águas é muito mais significativa que a que observaram nos últimos anos", afirmam. Já a organização PONG-Pescas pede ao Governo que siga recomendações científicas e insiste que as frotas pesqueiras devem diversificar as espécies pescadas, apostando em alternativas como a cavala e o biqueirão.
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