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Imprensa estrangeira vê “tigre” Costa à esquerda e Chega de “imunidade” à direita

Divergem na leitura europeia da vitória do PS, mas confluem no cinto curto de Centeno e anteveem um PS mais feroz na nova geringonça. O rebentar da "onda de extrema-direita” e o “novo ecologismo” estão também nas páginas dos jornais internacionais.

EPA
07 de Outubro de 2019 às 11:54
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António Costa resistiu à tendência de declínio socialista na Europa ou prosseguiu os recentes sucessos eleitorais do centro-esquerda na Dinamarca, Espanha, Finlândia ou Suécia? A imprensa estrangeira faz uma leitura ambivalente sobre o significado da vitória do PS nas eleições legislativas, sublinhando também a eleição de André Ventura (Chega) no Parlamento português.

 

A partir de Londres, o Financial Times vê a reeleição de Costa como "o mais recente sinal de ressurgimento dos partidos tradicionais social-democratas na Europa", depois das vitórias recentes noutras geografias. Porém, adverte desde já que "as guerras comerciais, o Brexit e uma recessão na Europa podem obrigar um Governo do PS a fazer cortes na despesa pública que seriam difíceis de aprovar pelo BE e pelos comunistas".

 

Tal como a agência France Press, citada por jornais em todo o mundo, também o The Guardian assinala que este resultado "segue os recentes sucessos eleitorais" neste espaço político no Velho Continente, "contrariando a tendência europeia mais geral de declínio na sorte do centro-esquerda". "Ainda associado" pelo eleitorado à austeridade, escreve o jornal, o PSD "não conseguiu lucrar o suficiente com a série de escândalos que atingiu os socialistas, do nepotismo ao alegado envolvimento no encobrimento de um roubo de armas numa base militar".

 

Centeno também brilha lá fora

 

Ainda no Reino Unido, a BBC lembrou também como, na véspera das eleições, "a popularidade dos socialistas foi atingidos por uma série de escândalos, incluindo acusações de nepotismo e um presumível encobrimento de roubo de armas" no paiol de Tancos. E perspetivando os próximos quatro anos de governação, a conceituada estação pública de rádio e televisão lembra que "enquanto a extrema-esquerda pede mais investimento nos serviços públicos, é esperado que o Sr. Costa renove o seu compromisso de seguir as regras orçamentais da Zona Euro".

 

Do outro lado do Atlântico, a norte-americana Associated Press descreve o Executivo de António Costa como aquele que, "ao mesmo tempo que os partidos socialistas na Europa perderam terreno nos anos mais recentes, ganhou respeito ao provar que estavam errados os que duvidavam e diziam que ele gastaria demais". Neste particular, a agência dá o protagonismo a Mário Centeno, frisando ser "esperado que continue no cargo" e atribuindo-lhe o crédito político e financeiro por acalmar a "longa tormenta do défice orçamental" no país.

 

Acabou a imunidade extremista à direita

 

A edição europeia do influente Politico frisa igualmente que "o partido de Costa resistiu à tendência do declínio socialista europeu, graças a uma mistura favorável de eleitores a favor de políticas a favor do crescimento e de um compromisso com as regras de responsabilidade orçamental na Zona Euro". Porém, dramatiza que "a tão apreciada imunidade de Portugal à onda de extrema-direita da Europa foi interrompida com a eleição de um representante em estreia pelo partido nacionalista Chega, que obteve 1,3%".

 

"O Chega, de extrema-direita, elegeu um deputado. É a primeira vez que um partido de extrema-direita consegue um assento no Parlamento português desde o fim da ditadura em 1974", resume a Reuters, antecipando também que Marcelo Rebelo de Sousa "provavelmente vai pedir garantias aos partidos de que a solução [governativa] seja duradoura". De qualquer das formas, assinala a agência que "não é esperado que as negociações sejam tão confusas ou longas como na vizinha Espanha", que está há cinco meses sem governo e vai novamente a votos em novembro.

 

A comparação com o caso espanhol é também dominante no artigo publicado pelo The New York Times, sendo apontadas vantagens ao nível da "estabilidade política" para o panorama deste lado da fronteira. A publicação americana recorda que "o Sr. Costa pode agora tentar formar o seu próximo governo com diferentes aliados, incluindo talvez o apoio de um partido que defende o direito dos animais".

 

O novo ecologismo, o empecilho esquerdista e o Tigre raivoso

 

Aliás, o crescimento e a afirmação do PAN é um dos elementos que mais parecem surpreender a imprensa estrangeira. Enquanto dedica parte do artigo principal a refletir sobre os equilíbrios de forças e disputas à esquerda do PS – "o PCP, em lenta decadência, resiste" ainda, apesar da implantação do Bloco –, o espanhol El Pais conclui que a noite eleitoral mostrou "uma aprovação da gestão do Governo socialista" e destaca, num artigo secundário, "o triunfo do novo ecologismo", em contraponto com Os Verdes, que passaram a campanha "debaixo do manto" do partido liderado por Jerónimo de Sousa.

 

A Folha de São Paulo fala também da "onda de popularidade dos partidos ecológicos na Europa" refletida nestes resultados, assim como da entrada da extrema-direita no hemiciclo, "na esteira da tendência europeia", falando em propostas como a prisão perpétua e a castração química de pedófilos. No que toca à assinatura de novos acordos de Governo, a publicação brasileira conta que "a ultraesquerda pode virar um empecilho", pois "veem pedindo mais investimento público e acusam Costa de se ter aproximado da direita".


Finalmente, de França chega um dos relatos mais curiosos, com o Le Monde a assinalar que "numa era na Europa marcada pelo ‘desengajamento’ e por uma vaga de candidatos antissistema, a vitória imaculada do tradicional Partido Socialista português é uma proeza". Atribui essa performance "em grande parte ao seu líder", a quem atribui o "milagre português", mas também outros epítetos – alguns não tão simpáticos para o secretário-geral.

 

"Chamado de ‘Gandhi de Lisboa’ pela política social que estabeleceu na capital ou "Tigre da Malásia" pelos momentos inesperados de raiva, António Costa sabe que não pode mais seguir uma política de ‘pequenas doses’ e que terá de construir uma sólida maioria" para governar neste segundo mandato, termina o reputado Le Monde.

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