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Sócrates garante que não se desfiliou do PS para o atacar
O antigo primeiro-ministro e ex-líder do PS José Sócrates garantiu hoje que não se desfiliou do partido para o atacar, prometendo respeitar a realização do 22.º Congresso Nacional, no próximo fim-de-semana, na Batalha, Leiria.
Num almoço de apoio de homenagem, com cerca de 100 pessoas, em Lisboa, o antigo secretário-geral "rosa" afirmou que o recente pedido de desvinculação, justificado para evitar o "embaraço mútuo" devido às acusações de corrupção que sobre ele recaem, foi "um ato doloroso do ponto de vista pessoal".
"Não desejo fazer nenhum comentário mais sobre o assunto, mas se a alguém passou pela cabeça que eu ia agora começar a atacar o PS ou ferir a sensibilidade dos militantes socialistas que vão agora disputar o seu congresso, estão muito enganados. Nunca faria isso. Tenho grande afecto e ligação emotiva muito forte e tenho por eles o maior respeito", disse.
O antigo secretário-geral socialista reiterou o desejo de continuar a fazer a sua defesa nos casos judiciais em que está envolvido e, sobretudo, "denunciar os abusos" de que se diz vítima por parte da Justiça, nomeadamente o Ministério Público, e da "direita que o nomeou" e cuja "única agenda política" é "atacar a governação Sócrates" e as "suas bandeiras políticas" através de via judicial, ou seja: "criminalizar uma linha política com suspeitas e sem apresentar quaisquer provas concretas".
"Manuel Pinho trabalhava com o PS muito antes de eu ser secretário-geral. O que lamento é que ninguém tenha vindo dizer que foi isso que se passou. Muita gente que sabe que isto não aconteceu, que conhece a história, ficou em silêncio este ano e meio", afirmou José Sócrates, citando o exemplo do antigo ministro da Economia, que chegou a ser constituído arguido, mas que na última semana deixou de o ser, no âmbito de um processo relacionado com rendas energéticas.
O antigo líder socialista, ainda sobre aquele membro do seu Governo, lembrou que Manuel Pinho trabalhava num grupo de economistas ligados ao PS desde o tempo em que o actual presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, era secretário-geral "rosa", aproveitando para esclarecer o episódio no qual se conheceram, durante o Euro2004 de futebol, apresentados pelo actual primeiro-ministro e líder do PS, António Costa.
"Não é verdade, nunca estive em camarote nenhum do BES. Assisti a todos os jogos a convite da Federação [Portuguesa de Futebol], nunca em camarote nenhum. O que se pretende insinuar é que eu tinha uma qualquer relação com o BES. Não tinha", assegurou, referindo-se à entrevista de Manuel Pinho ao Expresso e sublinhando que o encontro com Pinho e Costa se deu já à saída do Estádio da Luz.
José Sócrates reiterou que se trata de "pura infâmia" sugerir-se que era próximo do antigo dirigente máximo do extinto grupo Espírito Santo, Ricardo Salgado, também acusado de crimes económico-financeiros, pois não havia "nenhuma relação social ou de amizade".
"Nunca aceitei dinheiro de um construtor com negócios com o Estado. Aceitei ser ajudado por um amigo de há 40 anos. Essa ajuda foi dada dois anos depois de eu sair do Governo. Não tinha funções políticas", referira antes, num discurso para os seus apoiantes, sobre o caso Operação Marquês e a relação com o empresário Carlos Santos Silva.
José Sócrates, único líder do PS a conseguir uma maioria absoluta, foi primeiro-ministro entre 2005 e 2011 e enfrenta agora, tal como outros arguidos, acusações do Ministério Público de diversos crimes económico-financeiros, nomeadamente de corrupção, no âmbito de diversos processos judiciais, tendo estado detido preventivamente entre 2014 e 2015.
Um dos fundadores do PS, António Campos, e o antigo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações Mário Lino estiveram entre os participantes no evento, organizado pelo movimento cívico 'José Sócrates sempre', num restaurante do Parque das Nações, Lisboa.
O antigo secretário de Estado das Obras Públicas Paulo Campos, também sob a égide de Sócrates e filho de António Campos, juntou-se igualmente ao repasto no qual todas as pessoas abordadas rejeitaram prestar quaisquer declarações à comunicação social.