O antigo autarca do Porto está "chocado" com a prisão preventiva de José Sócrates e com o tratamento dado ao antigo primeiro-ministro. Rui Rio critica a violação do segredo de justiça em Portugal e considera que a mesma prejudica a democracia em Portugal.

"Para todos nós, que temos preocupações com o regime e com a democracia, é um choque. Confesso-lhe que foi um choque, para qualquer pessoa consciente é um choque", disse, em entrevista à rádio Antena 1, divulgada esta quinta-feira, 4 de Dezembro.

"Para mim, mais do que o choque, foi a forma como foi feito, a violação do segredo de justiça e o chamar a comunicação social para filmar o espectáculo", sublinhou.

Para o social-democrata, a "justiça é um assunto de Estado, não é um show de televisão, não é para concorrer com o Big Brother em audiências de televisão. Porque quando assim se faz estamos a por o poder judicial e político na lama", declarou.

Rui Rio deu um puxão de orelhas aos "protagonistas da justiça e defende que os mesmos devem ter "um sentido de Estado um pouco maior do que o cidadão comum".

"Muitas pessoas estão incomodadas porque é uma humilhação para quem é detido, que foi uma humilhação maior do que devia ser. Devemos fazer com dignidade: um ex-primeiro-ministro não é igual a alguem que não o foi, não é igual. É uma hipocrisia dizer que é igual", defendeu.

O economista defendeu a necessidade do segredo de justiça. "O segredo existe na defesa de quem está a ser investigado para não ser condenado na praça pública, ou para defesa de quem está a investigar para investigar à vontade".

Sobre a violação do segredo no caso Sócrates, Rui Rio afirmou que "para a população em geral isto é um contrasenso. Existe segredo de justiça para quem dá a conhecer a uma ou duas pessoas e não há para quem dá a conhecer a 10 milhões".

Sobre as eleições legislativas do próximo ano, Rui Rio considera que o "PSD tem hoje possibilidades de ganhar", depois do PS procurar apoios nos partidos de esquerda e depois do caso Sócrates.

"Se me fizesse essa pergunta há um mês, eu diria que era muito difícil para o PS não ganhar e o grande desafio para o PS era a maioria absoluta. Eu hoje direi que as eleições legislativas estão completamente em aberto", afirmou.

Sobre se a coligação PSD-CDS se vai manter para as eleições legislativas de 2015, o antigo autarca considera que ambos os partidos "vão coligados. Vão acabar por fazer a coligação".