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Rui Rio alerta para risco de "democracia se perder para sempre"

O ex-autarca do Porto considerou que Portugal está "num dos pontos mais baixos" em termos de reputação internacional e avisa que o poder se está a transferir da política para outros poderes da sociedade, que "não têm um controlo democrático tão evidente".

Miguel Baltazar/Negócios
27 de Novembro de 2014 às 16:29
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Esta semana talvez a resposta seja diferente, dados os acontecimentos recentes em torno da detenção do ex-primeiro-ministro, José Sócrates. Mas se a questão sobre "qual a crise que há no País" fosse colocada na semana passada ou daqui por alguns dias, voltaria a ter a resposta habitual. "Isto é passageiro, na próxima semana as pessoas já acham outra vez que a crise é económica", lamentou Rui Rio, um partidário de longa data de que a maior crise nacional é de índole política.

 

Uma posição que, à luz dos acontecimentos recentes - o escândalo no BES, a corrupção na atribuição dos vistos dourados e a detenção de Sócrates - saiu reforçada. Ao contrário do que acha o Presidente da República, que desvalorizou o impacto destes factos na imagem do País, o ex-presidente da Câmara do Porto considerou esta quinta-feira, 27 de Novembro, que Portugal "está num dos pontos mais baixos da [sua] reputação internacional". "Se se puserem na pele de alguém que está lá fora, é evidente que ninguém pode olhar para este País e pensar que a reputação está no auge", acrescentou.

 

Já no final de uma longa intervenção durante uma conferência sobre o Orçamento do Estado para 2015, Rui Rio deixou ainda um alerta dramático sobre a sobrevivência do próprio regime democrático. Uma mensagem que já deixou por várias vezes, mas nunca com esta ênfase nem "colada" a factos tão concretos da vida política nacional, num recado que não deixou de fora nem o sistema judicial nem a comunicação social.

 

"Em 1974 caiu um regime que estava podre. Tinha 41 anos de idade, levou um encontrão e caiu de podre. O regime que temos hoje está quase com os mesmos 41 anos que o Estado Novo tinha em 1974, face à Constituição de 1933. Achamos que este regime, ao contrário de tudo o mais na nossa vida e no mundo, é eterno. Mas não é. Nem o Sol nem a Terra são. Têm um fim. E se todos os regimes políticos anteriores tiveram um fim, este, vos garanto, que tem fim também", começou por dizer Rio.

 

O social-democrata, que alguns perspectivam como sucessor de Pedro Passos Coelho e que tem uma grande proximidade com António Costa, o candidato socialista nas legislativas de 2015, avisou que "se a sociedade portuguesa, sejam os partidos, seja a Presidência da República, seja o que for, não se capacitar que tem de arranjar formas de revitalizar este regime", então a democracia pode perder-se "para sempre".

 

"Porque cada vez mais os poderes se vão transferir dos órgãos de decisão política para outros poderes da sociedade. E esses outros poderes da sociedade, sejam eles quais forem, não têm um controlo democrático tão evidente como tem o poder político. Se queremos eleger aqueles que verdadeiramente detêm o poder, temos de introduzir as reformas necessárias que nos possam conferir o poder. Senão andamos enganados. Chamamos democracia a isto porque isto tem eleições de vez em quando. Só que a democracia vai muito para lá de termos eleições formais, mesmo com os votinhos bem contados e sem chapelada eleitoral", frisou Rui Rio.

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