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Paraguai muda de presidente em dois dias

O Paraguai destituiu o presidente eleito Fernando Lugo. Frederico Franco já assumiu a Presidência. Os parceiros do Mercosul contestam e prometem retaliações.

24 de Junho de 2012 às 18:56
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O Paraguai vive por estes dias uma crise política que está a deixar os países vizinhos na expectativa. Na sexta-feira o Senado paraguaio aprovou a destituição do presidente Fernando Lugo, que tinha sido eleito em 2008.

No Senado a sua destituição recebeu 39 votos a favor e apenas quatro contra. O processo de destituição durou menos de dois dias. Fernando Lugo optou por não ir ao Senado, defender-se, e acabou por aceitar a destituição. No sábado, declarou que aceitava a "injusta" destituição em nome da paz, mas acusou os deputados de "menosprezarem a democracia", noticia a Lusa.

Frederico Franco, que era vice-presidente, assumiu a liderança do Paraguai, apesar do protesto da comunidade internacional, em particular os vizinhos da América do Sul.

A Argentina já retirou o seu embaixador de Assunção, a capital paraguaia, enquanto o Uruguai e o Brasil já chamaram, para consulta, os seus embaixadores, o que pode, também, levar à sua saída do país. Dilma Rousseff, presidente do Brasil, aproveitou, aliás, na quinta-feira, a presença de muitos chefes de Estado no Rio de Janeiro, na Cimeira Rio+20, para fazer uma reunião de emergência, que aconteceu antes da destituição formalizada na sexta-feira.

Para a Argentina, o que aconteceu no Paraguai foi um golpe de Estado. Para o Governo do Uruguai, a destituição "não teve as garantias necessárias", pedindo que se convoquem novas eleições "tão depressa quanto possível" no país vizinho.

O Brasil diz, em comunicado, que o "procedimento adoptado compromete o pilar fundamental da democracia, condição essencial para a integração regional", garantindo que estão a ser avaliadas as medidas a tomar, nomeadamente no âmbito do Mercosul e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), tendo Brasília admitido suspender a presença do Paraguai nestes dois blocos.

A resposta paraguaia já foi dada ao Brasil. "Espero que o Itamaraty [Ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro] entenda que tudo que se passou no Paraguai foi constitucional, institucional e republicano. Trata-se de uma mudança que teve de ser feita e foi apoiada em um consenso no nosso Congresso. O Brasil tem de respeitar a nossa escolha, feita de acordo com as nossas leis", declarou Alfredo Luis Jaegli, senador paraguaio e articulador da destituição de Fernando Lugo ao jornal brasileiro "Estado de S. Paulo". O novo presidente do Paraguai, que ainda não foi reconhecido a nível internacional, já declarou que o Brasil poderá sair prejudicado caso avance com retaliações comerciais contra o Paraguai, já que há muitas empresas e empresários brasileiros no país.

De qualquer forma, Franco já anunciou que não iria estar na reunião do Mercosul, que se realiza sexta-feira, na Argentina. O Mercosul é uma união de livre comércio entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Franco nas suas várias declarações já garantiu que não há mudanças comerciais, e disse mesmo que as relações com os Estados Unidos até são melhores agora do que eram com Lugo. Quem vai à reunião do Mersoul é o já escolhido novo ministro dos Negócios Estrangeiros, José Félix Fernández Estigarribia, que já disse que irá dialogar com os colegas sul-americanos. "Vamos seguir fazendo os esforços possíveis para dialogar. Para nós é importante a relação com Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, a região... Vamos seguir trabalhando nesse sentido. Vamos encontrar os pontos de contato", disse Estigarribia, citado pela Reuters.

Canadá, Espanha, Alemanha e o Vaticano são alguns dos países que, segundo a imprensa internacional, reconheceram o novo governo paraguaio com o argumento de que Lugo aceitou a decisão de destituição. Do governo português, a única declaração conhecida é a de Passos Coelho que, ainda durante a sua visita à Colômbia, disse não pretender comentar a situação, garantindo, apenas, que a situação está a ser acompanhada.

O novo presidente paraguaio, Frederico Franco, médico, pediu a colaboração do presidente destituído para manter a paz social, mas Lugo já fez saber que não está disponível para colaborar com um governo que não foi eleito democraticamente.

A destituição de Fernando Lugo começou depois na quarta-feira, quando a Câmara de Deputados avançou com um processo sumário contra o que considerou ser o mau desempenho das funções de Lugo. A crise política iniciou-se quando a 15 de Junho seis polícias e onze agricultores morreram num confronto, depois da ocupação de terras no norte do Paraguai. Depois deste episódio, o Partido Liberal Radical auténtico, que governava em coligação com Lugo, retirou o seu apoio na quinta-feira e uniu-se ao Partido Colorado para a destituição de Lugo e que recebeu o apoio do seu vice-presidente que acabou na presidência.
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