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Os dois lados da barricada no congresso do PS
António Costa enfrenta, pela primeira vez desde que formou Governo com a ajuda da esquerda, os militantes do partido num congresso nacional. Vários dos seus críticos não vão perder a oportunidade de o questionar. Mas Costa também pode contar com as palavras dos seus apoiantes.
Os críticos
Sérgio Sousa Pinto
Era visto como um dos mais próximos de António Costa, que o levou para a direcção do PS quando conquistou o partido a António José Seguro. Porém, o acordo das esquerdas fez o verniz estalar. Sousa Pinto criticou a legitimidade do Governo que Costa acertou com o Bloco e o PCP, porque, defende, o PS não ganhou as eleições. O deputado também preferia um acordo à direita, em vez de à esquerda. Depois disso, abandonou a direcção do partido. Esta quinta-feira, disse ao Público que página da austeridade, afinal, ainda não foi virada.
Francisco Assis
Esteve para avançar contra António Costa depois das eleições legislativas. Se tivesse apresentado a candidatura, hoje seria adversário do líder. Mas não avançou. É crítico do rumo que tem sido seguido pelo PS e também prefere entendimentos com a direita, ao invés de compromissos com a esquerda. No congresso de 2014 abandonou o congresso irritado por a sua intervenção ter sido atirada para horas tardias. Em resultado, ficou fora de todos os órgãos do partido. Afirmou recentemente que o PS está refém do PCP e do Bloco.
António Galamba
Era um dos dirigentes mais próximos de António José Seguro e é um dos principais críticos de António Costa. Também questionou a solução governativa acertada com a esquerda, mas vai mais além: em entrevista ao i denunciou um "clima de medo" dentro do partido que impede os militantes de criticar a direcção de Costa. Não se tem coibido de criticar as políticas do Executivo, acusando o Executivo de não ser "sério" na questão dos contratos de associação. Já antes havia chamado "alienígena" ao ministro da Educação, e denunciou negócios em que interveio Diogo Lacerda Machado, o melhor amigo de António Costa.
Álvaro Beleza
Tem estado discreto do ponto de vista mediático, mas foi o representante da "corrente" segurista logo após as primárias que abriram caminho para António Costa no PS. Foi ele que negociou com o novo líder a construção das listas para os órgãos nacionais. Manifestou disponibilidade para avançar para a liderança do PS em mais do que uma ocasião depois da saída de Seguro, mas nunca o fez. Recentemente, afirmou à Renascença que o Governo devia ser "mais liberal do ponto de vista económico, mais amigo das empresas".
Os apoiantes
Manuel Alegre
Apesar de ter ficado zangado pelo facto de não ter sido convidado por António Costa para o Conselho de Estado (que o terá convidado e desconvidado), Manuel Alegre tem sido um grande apoiante do rumo seguido pelo PS. Ainda esta sexta-feira veio responder a Francisco Assis, defendendo que o partido estaria sequestrado, sim, mas era se "fizesse uma aliança com o PSD". Os elogios a António Costa já são mais contidos, mas também têm existido.
Carlos César
É o presidente do PS e é uma das pessoas que esteve desde o início com António Costa na batalha pela conquista do partido a António José Seguro. Não entrou no Governo, mas foi nomeado líder da bancada parlamentar do PS e nomeado para o Conselho de Estado. Esta semana, disse que um Orçamento Rectificativo pode vir a ser necessário e não é nenhum drama, desvalorizando a eventual necessidade de medidas adicionais.
Ana Catarina Mendes
No primeiro congresso de António Costa, o secretário-geral prometeu que, se fosse para o Governo, ia criar o cargo de secretário-geral-adjunto. Dito e feito: o cargo foi criado e foi preenchido por Ana Catarina Mendes, uma das socialistas mais próximas de Costa, muito elogiada pela sua capacidade organizativa e operacional, particularmente eficaz na manobra do aparelho. É vice-presidente da bancada socialista e tem-se desdobrado em entrevistas em que nega que o PS se tenha descaracterizado com a geringonça.
Pedro Nuno Santos
Foi o homem que António Costa elegeu para coordenar a geringonça no Parlamento. É o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e trabalha na dependência directa do primeiro-ministro. Tem várias reuniões com o Bloco de Esquerda, o PCP e os Verdes para assegurar a solidez da solução que sustenta o Governo. Pertence à ala mais à esquerda do PS e tornou-se conhecido quando ameaçou não pagar a dívida pública. Entretanto, suavizou essa posição: defende a renegociação, mas apenas quando ela se colocar "no quadro europeu".