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Imprensa internacional antecipa diminuição mais rápida da austeridade em Portugal
Algumas agências e jornais internacionais centraram o seu olhar em Portugal, depois de o Comité Central do PCP e da Comissão Política do PS terem aprovado o acordo de esquerda para governar o país, confirmando “uma aliança sem precedentes” no sistema político nacional.
São estes os textos que grande parte dos investidores internacionais irá ler sobre a situação política portuguesa. A imprensa internacional colocou em destaque aquilo que, em Portugal, já parece certo há algum tempo: a queda do Executivo do PSD e do CDS-PP, por via de moções de rejeição ao seu programa de Governo. "António Costa, o líder do PS que conseguiu atravessar as diferenças ideológicas de 40 anos para formar uma aliança de esquerda, deverá ser o próximo primeiro-ministro, alterando o alinhamento de Portugal na União Europeia de uma defesa da dura disciplina orçamental para o apoio no alívio à austeridade", escreveu o Financial Times logo no domingo à tarde.
Já esta madrugada, a Bloomberg sublinhava a certeza da queda do Governo liderado por Pedro Passos Coelho, falando também de uma "inversão mais rápida dos cortes na despesa impostos [em Portugal] para garantir um resgate da União Europeia". A agência refere a intenção do PS de aumentar gradualmente o salário mínimo e alterar os escalões de IRS, assim como devolver os cortes dos salários dos funcionários públicos e aumentar o rendimento das famílias. Contudo, ao analisar o revisto cenário macroeconómico do PS, não deixa de deixar uma nota importante aos investidores: "Prevê-se que o défice orçamental fique abaixo do limite da União Europeia de 3% do PIB até 2019."
Já a agência francesa AFP opta por referir o carácter histórico deste acordo. "A aliança entre o PS, os comunistas e os seus aliados é a primeira deste tipo desde o nascimento de um Portugal democrático em 1974 e parecia ser uma perspectiva pouco provável apenas há algumas semanas devido a diferenças entre [estes] grupos de esquerda", escreve.
Esta solução governativa terá uma maioria clara na Assembleia da República – 122 de 230 deputados – mas não agradará a todos. O Financial Times recorda que 100 líderes empresariais assinaram um manifesto em que avisam os responsáveis políticos sobre os perigos de uma inversão da estratégia de consolidação orçamental, temendo que ela afecte os custos de financiamento e de investimento, ameaçando o crescimento, o emprego e a estabilidade orçamental.
Os mercados financeiros podem ser outro foco de pressão. Um pouco por toda a Europa está-se a sentir um agravamento dos juros da dívida, devido à expectativa de subida de juros da Reserva Federal dos EUA, mas em Portugal a tendência é mais acentuada. Esta manhã, as taxas de juros implícitas na dívida portuguesa estão a subir em todos os prazos. A "yield" a 10 anos está a avançar 8,3 pontos base para 2,763%, o que corresponde ao valor mais elevado desde 14 de Julho. A subida desta manhã eleva para mais de 200 pontos base a diferença face à dívida alemã com a mesma maturidade e que se encontra nos 0,698%.
Contudo, ainda não está garantido um Governo do Partido Socialista. A última palavra cabe ao Presidente da República, que anteriormente falou com aspereza sobre a possibilidade um Executivo apoiado pelo Bloco e pelo PCP, partidos que defendem a reestruturação da dívida pública portuguesa e se opõem às regras de disciplina orçamental da União Europeia. O FT nota, no entanto, que a solução a que a esquerda chegou "deixa Cavaco Silva poucas alternativas para além de indigitar Costa como o próximo primeiro-ministro, caso Passos Coelho perca a votação [da moção de rejeição do programa de Governo] de terça-feira".
No sábado, o New York Times já tinha escrito que a emergência deste "bloco de esquerda" poderá ameaçar as intenções de austeridade em Portugal. Os resultados das eleições legislativas de 4 de Outubro deixaram o país num "limbo político que irá quase de certeza diminuir o ímpeto de austeridade e reavivar o debate por toda a Europa sobre se as dores da austeridade valeram a pena". "Este impasse é revelador da forma como muitos portugueses acham que os efeitos da austeridade não foram bem distribuídos, um sentimento partilhado por muitos no Sul da Europa", acrescenta o NYT.