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Do "tabu" de Montenegro ao "fracasso" de Pedro Nuno: a história do debate decisivo

Habitação, saúde, pensões, polícias, educação e o novo aeroporto marcaram a história de um debate onde até Passos e Sócrates tiveram lugar. Sempre em alta tensão, os líderes dos dois maiores partidos, entre críticas e farpas constantes, discutiram as diferenças dos seus programas para o país sem espaço para consensos.

Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro no debate do Capitólio, em Lisboa.
José Sena Goulão/Lusa
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75 minutos de alta tensão. Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro enfrentaram-se esta noite para o debate mais esperado da longa ronda de 30 debates entre todos os líderes partidários. Não houve, como se esperava, espaço para grandes consensos entre os dois, num debate onde as grandes questões do país estiveram em cima da mesa. Pedro Nuno Santos garantiu que viabilizará um Governo minoritário da AD, mas sem grande otimismo sobre a possibilidade de votar a favor de um Orçamento do Estado e admitiu avançar, sem PSD, para a construção do novo aeroporto. Luís Montenegro manteve tabu sobre cenários pós-eleitorais e acusou o PS de "voracidade fiscal". Um debate aceso onde até José Sócrates e Pedro Passos Coelho serviram de arma de arremesso.

Com uma manifestação das forças de segurança à porta do Capitólio, onde decorreu o debate transmitido pelos três principais canais de televisão, foi o tema das polícias que acabou por abrir o debate: Pedro Nuno admitiu a importância de chegar a um acordo, mas ressalvou que "não se negoceia sob coação", Montenegro prometeu, como tem feito, negociações céleres com as forças de segurança no caso de vir a ser eleito.

Da manifestação partiu-se para uma longa discussão entre os dois favoritos a suceder a António Costa que passou pela definição dos cenários pós-eleitorais, o novo aeroporto de Lisboa, os rendimentos, a educação, a habitação ou a saúde.

PS viabiliza Governo minoritário da AD. Montenegro mantém tabu


O pós-eleições tem marcado estes debates e, desta vez, recebeu esclarecimentos diferentes dos que vinham sendo dados pelos dois líderes. O secretário-geral do PS admitiu que está disponível para viabilizar um Governo liderado pela Aliança Democrática, mas nada adiantou sobre se o mesmo vai acontecer aquando da apresentação do Orçamento do Estado. Já o presidente do PSD, Luís Montenegro, manteve o "tabu" sobre o que fará.

"O PS não apresentará uma moção de rejeição, nem viabilizará nenhuma moção de rejeição se houver uma vitória da AD, que esperamos sinceramente que nunca aconteça", referiu Pedro Nuno Santos.

Questionados sobre a possibilidade de viabilizarem a aprovação do primeiro Orçamento do Estado apresentado pelo Governo que sair das eleições, Pedro Nuno Santos considerou que estar a pronunciar-se sem conhecer ainda o documento seria "o pior serviço que poderia prestar à democracia". "Nem me parece que o líder do PSD esteja em condições de assegurar que aprovará um Orçamento de Estado do PS", atirou.

Tal como já vinha fazendo nos últimos debates, Luís Montenegro mantém o "tabu" - como lhe chamou Pedro Nuno Santos - em relação ao que a coligação que lidera fará no caso de o PS vencer sem maioria e, em particular, sobre as hipóteses de vir a viabilizar um Orçamento do Estado apresentado por um Governo minoritário do PS. Frente ao PCP e ao Chega já o tinha feito e voltou a insistir na ideia de que o que interessa à AD é apenas a vitória: "o nosso objetivo, e é para isso que estamos a lutar, é conseguir nas urnas a eleição dos deputados suficientes para garantirem a estabilidade, garantirem a governabilidade".

Aeroporto: Pedro Nuno admite avançar sem AD. Montenegro lembra desentendimento com Costa

Neste frente a frente, o secretário-geral do Partido Socialista admitiu também avançar com a escolha para o novo aeroporto de Lisboa mesmo sem o apoio do PSD. Montenegro devolveu, lembrando o polémico despacho do novo aeroporto que foi, poucas horas depois, desautorizado pelo primeiro-ministro.

"Queremos assegurar um consenso com o PSD e todos os partidos, e procuraremos esse consenso", assegurou Pedro Nuno Santos, para logo de seguida indicar que "avançamos mesmo sem PSD". Em causa as declarações do líder da Aliança Democrática (AD), que afirmou querer constituir um grupo de trabalho depois de apresentado o relatório da comissão independente.

"Estamos há 50 anos para decidir a localização do novo aeroporto", afirmou Pedro Nuno Santos, para depois sublinhar que é preciso decidir. Na resposta, Montenegro lembrou que o PS "teve oito anos para decidir, decidiu mal e contra a vontade do primeiro-ministro", referindo-se ao episódio em que Pedro Nuno Santos, então ministro das Infraestruturas, anunciou a decisão sobre a localização do aeroporto.


Montenegro acusa PS de "voracidade fiscal". AD prevê "ato de fé", diz Pedro Nuno

Também os programas económicos vieram ao de cima. O secretário-geral do Partido Socialista acusou a Aliança Democrática de assentar o programa eleitoral num cenário macroeconómico que é um "ato de fé". Já Luís Montenegro falou de um "ato de sensibilidade social".

"O vosso cenário macro é um ato de fé. É uma irresponsabilidade orçamental", acusou Pedro Nuno Santos, referindo-se ao cenário macroeconómico desenhado pela AD. Para o líder socialista, para prometer medidas é preciso que tenham cabimento orçamental, servindo-se do exemplo francês. "Ainda agora soubemos que França vai avançar com um plano de austeridade de 10 mil milhões de euros", indicou. "O PSD apresenta uma aventura fiscal. O vosso cenário macro é um ato de fé. É uma irresponsabilidade orçamental", reforçou.

Luís Montenegro respondeu com um cenário que foi construído por economistas reconhecidos e validado por independentes. E quanto à perda de receita com a redução de impostos, afirmou que "é um ato de sensibilidade social", acusando "o PS de voracidade fiscal completa. Nunca está satisfeito", apontou. Importa recordar que o programa eleitoral da AD prevê um corte de 5 mil milhões de euros em impostos para as famílias e empresas na legislatura, até 2028.

Habitação: "fracasso" de Pedro Nuno, diz Montenegro


No campo da habitação, Luís Montenegro acusou o seu adversário de ter seguido um caminho de "fracasso" no que às políticas de habitação diz respeito durante os seus tempos de Governo. O líder da AD lembrou também a promessa de que "nos 50 anos do 25 de Abril não haveria ninguém sem casa digna". "Falhou, Pedro Nuno Santos. Diz que faz, mas não faz", acusou.

Na resposta, o líder do PS acusou o Montenegro de querer contornar, com o seu programa, as normas do Banco de Portugal em relação à concessão de crédito à habitação. A coligação promete uma garantia pública até aos 35 anos para a obtenção de crédito a 100% e Pedro Nuno lembrou que há uma recomendação do BdP de que "que os bancos só podem conceder crédito até 80%".

Pedro Nuno quer descongelar carreiras dos professores. Montenegro pergunta porque é que não sugeriu isso a Costa


Um dos temas sobre a Função Pública trazido a debate foi o do descongelamento das carreiras dos professores. Luís Montenegro defendeu a recuperação do tempo, de forma faseada nos próximos cinco anos. Pedro Nuno Santos concordou e garantiu que "antes das eleições" já defendia a reposição do tempo de serviço dos professores.

O líder do PSD apontou incoerência no discurso do secretário-geral do PS, dizendo que "só o disse depois de sair do Governo", e questionou-o sobre o porquê de não ter sugerido isso a António Costa. Pedro Nuno Santos defendeu ainda que devem ser aumentados os escalões de entrada dos professores na carreira e frisou que, entre 2008 e 2015, saíram 28 mil professores do ensino público.

Pedro Nuno e Montenegro trocam acusações sobre pensões


Sobre as pensões, Luís Montenegro deixou três garantias aos pensionistas: a atualização das pensões de acordo com a lei, uma atualização maior nas pensões mais baixas e um "rendimento mensal mínimo de 820 euros" para todos os pensionistas, "equivalente no final de duas legislaturas igual ao salário mínimo". Acusou ainda o PS de propor a atualização das pensões tendo em conta a variação da massa salarial como "reconciliação" depois de tirado "meia pensão a todos os pensionistas" em 2023.

Já Pedro Nuno Santos lamentou que Luís Montenegro insista na "mentira" de que o PS cortou pensões em 2023 e garantiu que "nenhum pensionista teve corte nas pensões". "Em outubro foi antecipada meia pensão, não houve corte", referiu, assegurando que a atualização anual das pensões prevista na lei foi "respeitada" e que houve "seis aumentos extra nos últimos anos".

A "aparição" de Sócrates e Passos Coelho


O debate ficou marcado também por várias farpas entre os dois candidatos sobre quem irá marcar presença na campanha eleitoral de cada partido. Luís Montenegro atirou a Pedro Nuno Santos que "o engenheiro Sócrates virá da Ericeira" para apoiar o PS nestas eleições. Em resposta, o secretário-geral do PS atirou que "quem não convidou Passos Coelho para a convenção da AD foi Luís Montenegro".

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