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Crise política? "Eles é que têm de resolver isso", responde Rio
O líder do PSD percebe a preocupação de Marcelo, mas atira a responsabilidade pela aprovação do Orçamento para os partidos que suportam o Governo. Rio chama "filhos da conjuntura" aos indicadores económicos positivos.
Rui Rio recusa dar a mão ao Executivo de António Costa para a aprovação do Orçamento do Estado para 2019, considerando que os partidos da esquerda "é que têm de garantir a estabilidade política", uma vez que "o PSD não faz parte dessa solução de governo".
Perante as duras críticas à esquerda envolvendo as metas do défice, o maior partido da oposição não usará os mandatos na Assembleia da República para evitar essa crise política? "Eles é que têm de resolver isso", ripostou o presidente do PSD, em declarações aos jornalistas à margem do congresso anual da CIP, em Santa Maria da Feira.
Horas depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter avisado que "uma crise política envolvendo Orçamentos do Estado é duplamente indesejável por poder gerar cenários imediatos de elevado preço para o país", Rio concordou que isso "não é algo que Portugal deseje". Frisando, porém, que essas palavras do chefe de Estado "são, acima de tudo, para a coligação parlamentar à esquerda".
E uma crise que abrisse brechas à esquerda e não levasse a legislatura até ao fim, preocupa ou até agrada? "Se não agrada a Portugal não pode agradar ao líder da oposição. Agora, essas tensões entre o BE, o PS e o PCP são algo que já estava à espera há muito tempo. Não vejo com grande admiração que, à medida que nos aproximamos das eleições, eles tenham mais dificuldade em conseguir a estabilidade que até à data conseguiram", respondeu.
Rio chama "filhos da conjuntura" a indicadores positivos
Crescimento económico, défice público, taxa de desemprego, dívida externa, rácio da dívida pública, sistema financeiro mais equilibrado. Rui Rio não pretende "esconder as coisas" e reconhece que "a maior parte dos actuais indicadores económicos são positivos". Porém, recusa-se a aceitar a paternidade do Governo liderado pelo PS e apoiado pela esquerda no Parlamento.
"Estes resultados não têm nada a ver com reformas governamentais que estão a ser feitas, mas com o poder de arrasto que a economia europeia tem sobre a portuguesa. Terminada esta conjuntura, Portugal não se preparou para quando esse poder de arrasto se venha a reduzir. Estes indicadores, embora melhor do que foram no passado recente, são filhos da conjuntura e não filhos de uma política estruturada", apontou o líder do PSD.
Durante a intervenção no congresso da CIP, em que António Saraiva criticou a "diabolização do lucro como causa da pobreza", Rio lamentou que o país não esteja a "aproveitar o crescimento económico para conseguir fazer reformas estruturais que nos preparem melhor o futuro". E apontou também o dedo às "taxas de poupança muito baixas" nas famílias, que estão quase ao nível do início dos anos 1960, quando via gente descalça na rua.
O sucessor de Passos Coelho lamentou a falta de uma "cultura de poupança" e considerou que "há uma pedagogia a fazer". "Em Portugal criou-se a ideia de que quem poupa é rico e quem se endivida é pobre. As coisas não são bem assim. Conheço pessoas com salários relativamente baixos que cuidam de deixar de lado 50 ou 100 euros no final do mês. Esta é uma atitude positiva", sintetizou.
Admitindo, em resposta às perguntas dos empresários, que "não é fácil, efectivamente", ser líder da oposição em Portugal, o ex-autarca do Porto voltou a mostrar disponibilidade para assinar "acordos de regime" com o PS, referiu que a reforma da Justiça "tem de passar também por uma especialização dos juízes e também dos próprios tribunais" e adiantou que está "quase fechado" o acordo com o Executivo sobre os fundos estruturais, válido para o período 2020 a 2030, feito "para dar força ao Governo" para negociar este dossiê em Bruxelas.