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Costa disse que "não foi informado" sobre intervenção do SIS. Galamba informou Costa sobre o contacto
António Costa disse a 1 de maio que "não foi informado" sobre "intervenção do SIS". Esta quinta-feira, na comissão de inquérito, João Galamba disse que na madrugada de 26 de abril informou Costa sobre reporte ao SIS, que tinha sido recomendado pelo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro.
António Costa garantiu a 1 de maio que "o SIS não foi chamado a intervir" na noite dos desacatos no Ministério das Infraestruturas, que ninguém no Governo deu ordens ao SIS e que não foi informado - "nem tinha de o ser" - sobre uma "intervenção" do SIS.
Esta quinta-feira, na comissão parlamentar de inquérito, João Galamba adensou as dúvidas sobre potenciais contradições. Primeiro, ao revelar que a recomendação de contacto ao SIS surgiu do secretário de Estado Adjunto, António Mendonça Mendes. Depois, ao dizer que nessa mesma madrugada contou a António Costa que contactou o SIS.
Ao longo das mais de sete horas de audição, João Galamba foi questionado sobre os contactos que fez na noite em que despediu o adjunto Frederico Pinheiro, depois de regressar de Singapura, a 26 de abril.
Inicialmente, revelou os contactos com o ministro da Administração Interna, com o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, ou com a ministra da Justiça, mas não revelou a que horas tinha afinal telefonado ao primeiro-ministro (que segundo tinha explicado na conferência de imprensa de abril não atendeu o telefone).
Mais tarde, acrescentou que falou com o primeiro-ministro pela uma ou duas da manhã e que contou o sucedido.
Numa das últimas perguntas da audição, o deputado Bernardo Blanco, da Iniciativa Liberal, interrogou-o sobre o que é que disse a António Costa. "O que é que lhe disse? Se o SIS foi ativado ou não e se o senhor primeiro-ministro respondeu?".
"Senhor deputado, no final contei o que tinha acontecido, contei que tinha ligado ao SIS, o senhor primeiro-ministro só tomou conhecimento das coisas, tudo aconteceu antes disso", respondeu João Galamba, na comissão de inquérito à TAP.
O deputado da Iniciativa Liberal pediu depois ao ministro para confirmar que informou o primeiro-ministro que o SIS tinha sido "ativado".
"Não é ativado. Ninguém ativou o SIS. Eu contei-lhe tudo o que tinha acontecido. Fiz-lhe a descrição dos factos", respondeu o ministro das Infraestruturas.
O deputado insiste na pergunta: "O que disse ao senhor primeiro-ministro? E se lhe disse ou não que o SIS, não vou dizer ativado, mas que tinha feito uma intervenção".
"Uma intervenção não informei porque a única coisa que posso informar é que foi feito um reporte", referiu Galamba, acrescentando que não tinha de saber como agiu o SIS.
De acordo com o ministro das Infraestruturas o "reporte" teria sido recomendado pelo secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes, mas efetuado pela sua chefe de gabinete, por iniciativa própria.
Costa disse que "não foi informado" sobre "intervenção" do SIS
Em declarações à RTP o primeiro-ministro disse a 1 de maio que "ninguém do Governo deu ordens ao SIS" e que o SIS "não foi chamado a intervir". Reconheceu no entanto que houve um "alerta".
António Costa tinha regressado de viagem e a RTP perguntou ao primeiro-ministro se tinha sido informado de que o SIS foi chamado a intervir nesta questão.
"O SIS não foi chamado a intervir. Há um roubo de um computador que tem documentação classificada. O gabinete do ministro fez o que lhe competia fazer: dar o alerta às autoridades e as autoridades agiram em conformidade", disse António Costa.
"Eu não fui informado, nem tinha de ser informado, ninguém no Governo deu ordem ao SIS para fazer isto ou fazer aquilo", acrescentou na altura o primeiro-ministro. "O SIS agiu em função do alerta que recebeu e no quadro das suas competências legais".
Nesse mesmo dia, o gabinete de António Costa garantiu ao Observador que o primeiro-ministro "não foi nem tinha de ser informado sobre o SIS. Nem tomou qualquer diligência. O Ministério das Infraestruturas deu – e bem – o alerta pelo roubo de computador com documentos classificados".
O Negócios questionou esta sexta-feira o gabinete do primeiro-ministro sobre as declarações de João Galamba e o conhecimento do primeiro-ministro dos factos e aguardava resposta à hora de publicação deste artigo.
Na verdade João Galamba já tinha indicado na conferência de imprensa de abril que a ação teria sido articulada com o gabinete do primeiro-ministro e também com a ministra da Justiça (que veio desmentir conversas sobre o SIS).
Nas declarações desta quinta-feira na comissão de inquérito, João Galamba aprofunda a sua mensagem original, não apenas quando diz que foi o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes, que o informou que devia recorrer ao SIS mas quando explica que informou António Costa desse contacto.
Notícia corrigida pelas 12:24 com as declarações completas de António Costa à RTP, a 1 de maio. E atualizada a 20 de maio com a resposta do gabinete do primeiro-ministro.