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Brilhante Dias: O eterno segurista cada vez mais costista
Aos 45 anos, o até aqui deputado socialista vai, pela primeira vez, assumir funções executivas ao assumir a secretaria de Estado da Internacionalização. Segurista assumido, Brilhante Dias tem vindo a fazer um percurso de aproximação à liderança de António Costa, de tal forma que agora é escolhido para o Governo.
Antes um crítico da actual liderança liderança socialista e feroz opositor da solução governativa negociada pelo PS com os partidos da esquerda parlamentar, Eurico Brilhante Dias vai agora integrar um Governo chefiado por António Costa e suportado no Parlamento pela chamada geringonça.
Aos 45 anos de idade, Brilhante Dias será o próximo secretário de Estado da Internacionalização, uma pasta sob a dependência do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sucedendo a Jorge Costa Oliveira, um dos três secretários de Estado que pediu exoneração na sequência do "Galpgate".
Até aqui deputado eleito pelo círculo de Castelo Branco, Brilhante Dias é licenciado em Gestão de Empresas e tirou mestrado e doutoramento em Ciências Empresariais. Fora da política, é professor universitário e foi administrador executivo da AICEP.
Esta escolha não deixa de ter contornos inesperados, em especial se for tido em conta o percurso político de Brilhante Dias e a clara demarcação que chegou a traçar relativamente ao actual secretário-geral socialista e primeiro-ministro, António Costa. Porém, também não é menos verdade que nos últimos cerca de dois anos o militante do PS foi percorrendo um trilho de aproximação a Costa.
Por partes. Durante os quase três anos da liderança socialista de António José Seguro, Brilhante Dias foi sempre um dos homens mais próximos do então secretário-geral, tendo ocupado a função de porta-voz do partido.
Durante o processo interno que culminou com a vitória de António Costa nas primárias socialistas e posterior demissão de Seguro, Brilhante Dias foi um dos mais acérrimos críticos à forma como o na altura ainda autarca lisboeta tirou o tapete ao sucessor de José Sócrates na condução dos destinos socialistas.
Eurico Brilhante Dias era claramente um dos mais proeminentes seguristas, junto a nomes como Carlos Zorrinho, António Galamba ou Miguel Laranjeiro. E continuará a ser. Em entrevista concedida há cerca de um ano ao jornal Sol, afirmou o seu eterno segurismo: "Serei sempre um segurista", declarou à jornalista Ana Sá Lopes.
A discordância relativamente a António Costa agravou-se – embora Brilhante Dias tenha sido dos poucos sobreviventes da ala segurista a garantir lugar no actual Parlamento - na sequência das legislativas de 2015 e das negociações com vista à formação de um Governo apoiado pelo Bloco de Esquerda, PCP e Verdes.
Porém, a distância face a Costa foi-se atenuando. Numa altura em que aquele cenário começava já a ser trabalhado, o braço-direito de Seguro rejeitava qualquer tipo de formulação que fizesse do PS o primeiro partido a ser Governo sem ter vencido as eleições.
Estávamos em Outubro de 2015, Costa negociava ainda com a esquerda, o PS não assumia declaradamente o apoio a nenhum candidato presidencial e Maria de Belém apresentava oficialmente a candidatura à presidência da República. Oportunidade aproveitada por Brilhante Dias para, lamentando a ausência de apoio à única candidata com militância socialista, sustentar ao Negócios que "governa quem ganhou. Faz oposição quem perdeu". O recado estava dado.
A confluência
Porém, já diz o adágio popular, o tempo é o melhor remédio. De então para cá o deputado confluiu para o costismo. Isso mesmo fica notório com a reconquista de notoriedade no seio da família socialista.
Enquanto deputado, nesta legislatura Brilhante Dias foi vice-presidente da Comissão de Assuntos Europeus, relator da Comissão de Inquérito ao Banif, coordenador do estudo do PS para definir medidas para o sector financeiro e a supervisão bancária e ainda membro da Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa.
Mas o marco mais importante e demonstrativo da aproximação do deputado a António Costa aconteceu no Congresso do PS de Junho do ano passado, com Brilhante Dias a ser escolhido para o Secretariado do PS, o restrito órgão de direcção socialista. Foi essa a forma encontrada para passar a imagem de um partido unido e já não fracturado pela disputa Costa-Seguro, presidenciais e geringonça.
Na já referida entrevista ao Sol, Brilhante Dias mostrou regozijo com o facto de "ser o símbolo da unidade do PS". Para frisar a aproximação à liderança de António Costa e à empreendida aproximação à esquerda, o próximo secretário de Estado garantia nessa ocasião sempre ter estado mais à esquerda do que Francisco Assis, hoje por hoje o mais mediático crítico interno da geringonça.
A confluência com António Costa e o Governo fica assim consumada.