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Assis: "É absurdo fazer apelos à esquerda que está contra nós"
Em entrevista ao DN, o eurodeputado socialista confessa não se rever na linha do PS de ostracizar vozes discordantes como a sua. Diz estar convencido de que se não houver maioria absoluta não será possível nenhum entendimento com a esquerda, porque "a esquerda não quer".
"Eu acho que com este PSD é impossível conversar. Só que a direita em Portugal não se reduz a este PSD ou a este CDS. E estou convencido de que se não houver maioria absoluta não será possível nenhum entendimento com a esquerda. A esquerda não quer. É absurdo fazermos apelos para entendimentos com partidos à nossa esquerda que estão contra nós. Estou convencido de que se não tivermos maioria absoluta –e desejo que tenhamos –a haver um entendimento terá de ser à nossa direita", diz Francisco Assis, em entrevista ao Diário de Notícias.
"Continuo convencido de que o António Costa será um bom primeiro-ministro de um Governo dessa natureza. Mas não alinho com um modelo organizativo que tem um líder parlamentar como Ferro Rodrigues, cuja linguagem e posicionamento político neste congresso considero absolutamente lamentável", acrescenta, argumentando que Ferro Rodrigues fez no Congresso deste fim-de-semana "uma alusão evidente a uma intervenção minha recente com considerações que apontam para uma desqualificação absoluta de quem pensa diferente. É um modelo de partido que não é o meu, não me reconheço".
O líder parlamentar disse no Congresso, que entronizou António Costa como secretário-geral do PS, que uma aproximação entre socialistas e PSD está a favorecer o fenómeno do populismo. "A agenda da década [do PS] não é igual à agenda da austeridade, e a deriva populista não é derrotada com uma lógica de nos colarmos à direita, achando que os mais próximos de nós são os partidos de direita, designadamente o PSD de Pedro Passos Coelho. Por essa lógica não conseguiremos derrotar a agenda populista, que é uma agenda gravíssima para os portugueses". "Os portugueses sabem que aqueles para quem vale tudo na política, na verdade, não valem nada politicamente".
Francisco Assis abandonou o Congresso ainda no sábado ao fim do dia tendo – segundo noticiou a Lusa – explicado que o fazia em sinal de desagrado com a total ausência de indicações por parte da mesa sobre a hora em que discursaria, depois de ter sido inscrito para intervir por um seu colaborador, Afonso Abreu, ao fim da manhã, logo após a sessão de abertura do conclave socialista.
Em relação a António Costa, diz, porém, que sua lealdade "é total e absoluta". "Estou disponível para colaborar como militante de base, mas isto significa um gesto de distanciamento face à actual direcção", precisa Assis, em entrevista ao DN.
O líder do PS disse no domingo, segundo e último dia do Congresso, que parte para as eleições do Outono de 2015 com a ambição de obter "uma maioria absoluta para governar". Se não a obtiver, pretende fazer "acordos de concertação" e "compromissos políticos sólidos e duradouros" mas só à esquerda.
"Não é possível ser alternativa às actuais políticas com quem quer precisamente prosseguir as actuais políticas", defendeu Costa . "O pior que pode acontecer a uma democracia é quando se gera um enorme empastelamento, quando existe um pântano no qual ninguém se diferencia", prosseguiu. E o problema nem é o primeiro-ministro e actual líder do PSD, Pedro Passos Coelho. "Não é um problema de nomes. O meu filho chama-se mesmo Pedro, é um nome de que gosto. É uma questão de políticas", sintetizou.
Agora, acrescentou, "não excluiremos os partidos à nossa esquerda da responsabilidade que também têm de não serem só partidos de protesto, mas serem também partidos de solução para os problemas nacionais", contrapôs o novo líder socialista.