Notícia
Ana Gomes: Costa é "político dos pés ao cabelo" e Sócrates "pipi, galarote"
A pré-candidata presidencial Ana Gomes classificou o secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, como "inteiramente político, da ponta dos pés à ponta do cabelo", numa grande entrevista de vida que será publicada em livro brevemente.
11 de Novembro de 2020 às 11:57
A ex-dirigente e eurodeputada socialista lamentou que o responsável máximo do largo do Rato não tenha tido "a coragem de enfrentar o caso" judicial do ex-líder do PS e antigo primeiro-ministro José Sócrates de outra forma, acrescentando que achou o arguido da Operação Marquês "muito pipi, muito galarote" no primeiro contacto.
O livro "Ana Gomes, a vida e o mundo", da autoria do jornalista do Diário de Notícias João Pedro Henriques, tem a chancela da editora Palimpsesto.
"O António Costa é inteiramente político, da ponta dos pés à ponta do cabelo. Vive para a política, respira política e tem noção do que é o interesse público. Tem também um arreigamento ao aparelho partidário, no qual se formou e em que sempre viveu e de que precisa, porque, de facto, não se faz política e não se exerce o poder sem aparelho partidário", analisou.
Para a diplomata o chefe do Governo "tem tremendas qualidades, é um habilíssimo negociador, mas por vezes o negociador perde-se no deleite da negociação e faz-se a negociação por negociar".
"Não o vejo [a Costa] de maneira nenhuma como um sujeito venal e vejo-o a querer fazer o que é certo para o país e a querer defender o país, o partido e o seu próprio bom nome", afirmou.
Ana Gomes defendeu que o PS devia ter lidado com o polémico processo de Sócrates assunto de forma mais assertiva.
"Não acho que tenha sido propriamente tolerância. Acho que [Costa] não teve a coragem de enfrentar o caso. Isso seria bom. Reforçaria o partido perante a opinião pública, mas obrigaria também a introduzir determinados procedimentos que hoje não existem. Eu não gosto nada de ver uma pessoa que eu nem conheço -- dizem-me que é muito inteligente --, o Lacerda Machado, a andar por aí a fazer negócios para o Estado, porque é amigo do primeiro-ministro", disse.
A antiga embaixadora de Portugal em Jacarta defendeu que "o PS tinha que fazer a sua autocrítica, de assumir as suas responsabilidades por se ter deixado instrumentalizar por um indivíduo que tinha esta promiscuidade, esta vulnerabilidade".
"Achei-o muito pipi, muito galarote", contou sobre o primeiro encontro com Sócrates, por casualidade num aeroporto, no Rio de Janeiro.
Ana Gomes reconheceu que, "nas campanhas eleitorais, o Sócrates era carismático, tinha uma estamina extraordinária e essa estamina era contagiante, mesmo nas condições mais duras".
"Sim, dizia-se que ele era rico. Comprei essa história, ele tinha todas as características de um menino mimado em certos aspetos. Era um jovem inteligente, capaz, ambicioso -- mas mimado. Eu não tinha razão nenhuma para duvidar da história de que a mãe era riquíssima [por herança da riqueza de um avô]", afirmou.
Outra polémica, o "escândalo Casa Pia", que atingiu os nomes do atual presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e do porta-voz do PS na altura, Paulo Pedroso (que deixou a militância, mas é agora dirigente da campanha de Ana Gomes), é descrita pela candidata presidencial como "um choque total".
"Eu gostava do Paulo [Pedroso], sempre acreditei nele, nunca tinha visto rigorosamente nada que indiciasse aquelas sinistras acusações. Percebi que havia uma campanha organizada nos média. Comecei a fazer perguntas a amigos no sistema de Justiça e nos média e percebo que há um tipo chamado Pedro Guerra [ex-jornalista do semanário independente e assessor do então ministro da Defesa, Paulo Portas] que é o principal divulgador da informação malévola", acusou.
Ana Gomes contou que viveu aqueles tempos "com muita dor".
"Dor própria e de solidariedade com aqueles dois homens [Ferro e Pedroso], e suas famílias, que estavam a ser miseravelmente vilipendiados. E dor pelo PS, atacar o PS daquela maneira, na base daquelas acusações, era atacar a democracia, porque o PS é um pilar da democracia portuguesa", afirmou.
A diplomata, sem nunca nomear um dos seus anunciados concorrentes ao Palácio de Belém, o presidente do Chega, André Ventura, aproveitou para o atacar.
"Estamos a ver um tipo, que é um vigarista e oportunista encartado, que, ao contrário de tudo o que disse e propagandeou, está no parlamento ao mesmo tempo que está numa empresa que ajuda ricos e empresas a fugir ao fisco", criticou.
Segundo Ana Gomes, "ele [Ventura] cavalga o sentimento popular relativamente à corrupção, mas de uma forma inconsequente e perversa".
"Quem, no fundo, ajuda e dá gás aos populistas da extrema-direita são aqueles que, estando no poder, seja no parlamento, no Governo, na Presidência da República ou nos tribunais, desvalorizam o combate à corrupção, não facultam os meios para esse combate, não promovem as ações necessárias para combater a corrupção e a impunidade de corruptos e corruptores", concluiu.
O livro "Ana Gomes, a vida e o mundo", da autoria do jornalista do Diário de Notícias João Pedro Henriques, tem a chancela da editora Palimpsesto.
Para a diplomata o chefe do Governo "tem tremendas qualidades, é um habilíssimo negociador, mas por vezes o negociador perde-se no deleite da negociação e faz-se a negociação por negociar".
"Não o vejo [a Costa] de maneira nenhuma como um sujeito venal e vejo-o a querer fazer o que é certo para o país e a querer defender o país, o partido e o seu próprio bom nome", afirmou.
Ana Gomes defendeu que o PS devia ter lidado com o polémico processo de Sócrates assunto de forma mais assertiva.
"Não acho que tenha sido propriamente tolerância. Acho que [Costa] não teve a coragem de enfrentar o caso. Isso seria bom. Reforçaria o partido perante a opinião pública, mas obrigaria também a introduzir determinados procedimentos que hoje não existem. Eu não gosto nada de ver uma pessoa que eu nem conheço -- dizem-me que é muito inteligente --, o Lacerda Machado, a andar por aí a fazer negócios para o Estado, porque é amigo do primeiro-ministro", disse.
A antiga embaixadora de Portugal em Jacarta defendeu que "o PS tinha que fazer a sua autocrítica, de assumir as suas responsabilidades por se ter deixado instrumentalizar por um indivíduo que tinha esta promiscuidade, esta vulnerabilidade".
"Achei-o muito pipi, muito galarote", contou sobre o primeiro encontro com Sócrates, por casualidade num aeroporto, no Rio de Janeiro.
Ana Gomes reconheceu que, "nas campanhas eleitorais, o Sócrates era carismático, tinha uma estamina extraordinária e essa estamina era contagiante, mesmo nas condições mais duras".
"Sim, dizia-se que ele era rico. Comprei essa história, ele tinha todas as características de um menino mimado em certos aspetos. Era um jovem inteligente, capaz, ambicioso -- mas mimado. Eu não tinha razão nenhuma para duvidar da história de que a mãe era riquíssima [por herança da riqueza de um avô]", afirmou.
Outra polémica, o "escândalo Casa Pia", que atingiu os nomes do atual presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e do porta-voz do PS na altura, Paulo Pedroso (que deixou a militância, mas é agora dirigente da campanha de Ana Gomes), é descrita pela candidata presidencial como "um choque total".
"Eu gostava do Paulo [Pedroso], sempre acreditei nele, nunca tinha visto rigorosamente nada que indiciasse aquelas sinistras acusações. Percebi que havia uma campanha organizada nos média. Comecei a fazer perguntas a amigos no sistema de Justiça e nos média e percebo que há um tipo chamado Pedro Guerra [ex-jornalista do semanário independente e assessor do então ministro da Defesa, Paulo Portas] que é o principal divulgador da informação malévola", acusou.
Ana Gomes contou que viveu aqueles tempos "com muita dor".
"Dor própria e de solidariedade com aqueles dois homens [Ferro e Pedroso], e suas famílias, que estavam a ser miseravelmente vilipendiados. E dor pelo PS, atacar o PS daquela maneira, na base daquelas acusações, era atacar a democracia, porque o PS é um pilar da democracia portuguesa", afirmou.
A diplomata, sem nunca nomear um dos seus anunciados concorrentes ao Palácio de Belém, o presidente do Chega, André Ventura, aproveitou para o atacar.
"Estamos a ver um tipo, que é um vigarista e oportunista encartado, que, ao contrário de tudo o que disse e propagandeou, está no parlamento ao mesmo tempo que está numa empresa que ajuda ricos e empresas a fugir ao fisco", criticou.
Segundo Ana Gomes, "ele [Ventura] cavalga o sentimento popular relativamente à corrupção, mas de uma forma inconsequente e perversa".
"Quem, no fundo, ajuda e dá gás aos populistas da extrema-direita são aqueles que, estando no poder, seja no parlamento, no Governo, na Presidência da República ou nos tribunais, desvalorizam o combate à corrupção, não facultam os meios para esse combate, não promovem as ações necessárias para combater a corrupção e a impunidade de corruptos e corruptores", concluiu.