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Lagarde pede novas políticas para mundo "sair do buraco da grande recessão"

No encontro anual do FMI, Christine Lagarde inspirou o seu discurso em histórias de mundos mágicos, começando em Alice no País das Maravilhas e terminando com Harry Potter. Pelo meio, e porque a magia não funciona no mundo real, alertou para os riscos de se estar a caminhar para um “novo [período] medíocre”, apontando que “há pouca exposição ao risco económico” e “demasiada exposição aos riscos financeiros”.

Bloomberg
10 de Outubro de 2014 às 14:22
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A história de Alice no País das Maravilhas serviu de mote ao discurso de Christine Lagarde, presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), no encontro anual da instituição em Washington. Lagarde queria notar, de forma figurada, que o mundo encontra-se perante uma bifurcação e tem de decidir qual o caminho a seguir. "É importante saber para onde queremos ir, por forma a decidirmos de que forma o faremos", avisou a francesa que lidera o FMI.

 

Lagarde garantiu que as escolhas passam pela escolha entre três dicotomias. Crescimento ou estagnação, estabilidade ou fragilidade e solidariedade ou isolamento. Ao longo das palavras proferidas, a directora-geral do FMI foi deixando claro que na sua óptica a escolha deve passar pela primeira opção de cada uma destas "bifurcações".

 

Uma das principais mensagens deixadas pela economista gaulesa foi a de que "as políticas monetárias têm de continuar acomodatícias, para atingirmos o crescimento que pretendemos". Porque, lembra, a economia global está perante um "novo [período] medíocre" de fraco crescimento e elevado desemprego. Por isso, Lagarde defende a necessidade de um "novo momentum" em termos de políticas.

 

Nesse sentido, Christine Lagarde refere que as políticas monetárias devem continuar a suportar a recuperação económica "pelo lado da procura", que "as políticas orçamentais devem ser adaptadas às circunstâncias de cada país", devendo estar ser "amigas, quanto possível, do crescimento e criação de emprego".

 

Emprego, demografia e alterações climáticas foram apontados como três importantes desafios que se deparam perante os decisores mundiais e que irão dificultar o crescimento económico no futuro. Aqui, contrariamente à chanceler alemã, Angela Merkel, que na quarta-feira, na Cimeira do Emprego, em Milão, apontou o digital como uma aposta de futuro, mesmo em termos de criação de emprego, Lagarde sublinha que a revolução digital não será um sector de criação intensiva de emprego, pelo que criará "desigualdades".

 

"Demasiada exposição aos riscos financeiros" 

 

"A economia esta a demorar muito a sair do buraco da grande recessão", alerta Lagarde que recorda que o FMI estima "um crescimento de apenas 3,3% [do PIB mundial] e abaixo de 4% no próximo ano".

 

Todavia apresentam-se outros riscos para a economia global. Porque "se a economia real pode sofrer do baixo investimento, o sector financeiro poderá estar a voar demasiado próximo do sol". "Há pouca exposição ao risco económico" e "demasiada exposição aos riscos financeiros", concretizou.

 

"Quanto maior é a bolha, maior é o colapso", insistiu Lagarde que pretende ver concluída uma "reforma do sistema financeiro", para o que "os reguladores e supervisores terão de estar melhor preparados".

 

Ainda assim, depois de reconhecer que foram alcançados progressos, "especialmente ao nível da regulação dos bancos", afirmou serem necessárias "melhores regras para as entidades financeiras, que não sejam bancos, melhor monitorização dos bancos-sombra". "Precisamos de uma mudança de cultura e comportamento", resumiu a líder do FMI.

 

"Novo multilateralismo"

 

Um "novo multilateralismo" foi uma das expressões utilizadas pela directora-geral do fundo que o define como o renovar do compromisso "com os valores do comércio livre e do investimento".

 

Também aqui, Lagarde identifica três áreas vitais: Maior cooperação que contribua para a resolução de crises transfronteiriças relacionadas com os maiores bancos; Dificultar as alterações de taxas alfandegárias entre diferentes países; Em relação aos desequilíbrios externos, os países terão de assumir maiores responsabilidades, quer apresentem défices ou excedentes. Este último ponto parece ter a Alemanha como principal destinatário, já que a maior economia do euro tem um elevado excedente externo.

 

Como tal, Christine Lagarde encontra neste "multilateralismo" um incentivo para que "nesta bifurcação, nos permita escolher o crescimento em vez da estagnação, a estabilidade em vez da fragilidade e a estabilidade em vez do isolamento".

 

Por isso, "escolhamos o caminho seguido em 1944, e não o de 1914", solicitou fechando o discurso com uma expressão da saga Harry Potter: "Harry, são as nossas escolhas, muito mais do que as nossas habilidades, que mostram aquilo que realmente somos".

 

(Notícia actualizada às 15h15 com o subtítulo "Novo multilateralismo"

 

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