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Helicóptero de dinheiro pode não conseguir voar na Europa
Neste momento, há muitas discussões em curso sobre os bancos centrais e como estes podem trabalhar com os governos para dar um impulso mais poderoso às economias num cenário de recessão.
Mas não podemos esperar que a Europa lidere a iniciativa.
A região até poderá injetar alguns estímulos. A gigante Alemanha enfrenta a pior contração da indústria em dez anos. Mas os obstáculos às novas ideias, como os chamados "helicópteros de dinheiro" ou a Teoria Monetária Moderna (MMT, na sigla em inglês) - segundo a qual a política monetária deve financiar mais gastos do governo -, são maiores na Europa do que em qualquer outro lugar.
É uma pena, disse o Deutsche Bank num relatório sobre dívida global publicado esta semana.
"Grande parte do debate intelectual sobre essas formas mais extremas de financiamento de dívida ocorreu nos EUA, mas na verdade as políticas são mais aplicáveis na Europa", escreveram analistas como Jim Reid. "Agora, parece um momento oportuno para a expansão orçamental europeia e até para políticas como as do helicóptero/MMT", acrescentaram.
Por enquanto, até uma dose convencional de despesa pública parece ser uma medida extrema na Europa, com as suas rígidas regras orçamentais. Os países que querem gastar mais não podem, e os que podem, não querem.
A falta de apoio orçamental fez com que o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, soasse cada vez mais exasperado. Nos seus últimos dias ao comando do BCE, Draghi tem transmitido uma mensagem clara aos governos: que a política monetária fez tudo o que podia.
Quando cortou os juros para um nível ainda mais negativo e retomou o programa de compra de ativos este mês, Draghi disse que o Conselho do BCE - que ficou dividido sobre algumas dessas medidas monetárias - foi pelo menos unânime em relação a uma coisa: "A política orçamental deve tornar-se o principal instrumento".
Na segunda-feira, Draghi disse ao parlamento europeu que o BCE deveria estar aberto a um novo pensamento económico. Citou a MMT e uma proposta para o helicóptero de dinheiro escrita em conjunto com o seu orientador de tese de doutoramento, o antigo vice-presidente da Reserva Federal, Stanley Fischer.
Mas no que respeita à política orçamental, a Europa não tem uma governança unificada. Não há uma autoridade que possa gastar e tributar em nome do continente.
Os orçamentos são geridos individualmente por cada um dos países, e devem permanecer dentro dos limites estabelecidos pela União Europeia, que proíbe a impressão de dinheiro para cobrir défices. Essa é uma das razões pelas quais a MMT, que se concentra em países que têm controlo sobre as suas moedas, não tem atraído tanta atenção na Europa como nos Estados Unidos ou Japão.
Membros da UE como Itália, cuja economia está estagnada desde que aderiu ao euro, pressionaram os limites do défice e entraram em conflito com Bruxelas.
Mas a Alemanha, o alvo dos apelos de Draghi e da sua sucessora Christine Lagarde para mais gastos, registou excedentes orçamentais nos últimos cinco anos.
Apesar de ter a economia estagnada e uma infraestrutura em ruínas, a Alemanha tem demonstrado pouca vontade de abrir os cordões à bolsa - embora os economistas vejam muita margem de manobra, com os juros da maior parte da dívida alemã abaixo de zero.
Missão de Lagarde
Os defensores de incentivos orçamentais depositam esperanças no know-how político de Christine Lagarde, que está prestes a assumir a presidência do BCE.
"Num cenário ideal, ela faria uma grande pressão para que os políticos aumentassem os gastos", disse Dirk Ehnts, economista alemão que também defende a MMT e escreveu um livro baseado na nova teoria.
Draghi teve um sucesso limitado com os seus próprios esforços, embora ainda esteja a tentar.
Ao falar sobre a MMT e o helicóptero de dinheiro perante os deputados europeus, ele está "simplesmente a dizer que fizemos tudo o que era possível na frente monetária, pelo que agora depende de vocês", disse Peter Dixon, economista do Commerzbank AG em Londres.
Mas quando os deputados perguntaram a Draghi sobre que medidas drásticas poderiam ser tomadas para resgatar a economia, ele lembrou que o banco central só pode operar dentro dos limites acordados pelos Estados-membros.
"Se mudarem o tratado, conseguem o que querem", atirou.