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BCE preparado para descer juros, mas sem sair de terreno restritivo
A não ser que haja "surpresas" pelo caminho, a expectativa do mercado parece estar certa: o BCE deverá começar a cortar os juros em junho, mas dentro do perímetro restritivo, reconheceu o economista-chefe Philip Lane, em entrevista ao Financial Times.
O Banco Central Europeu (BCE) está pronto para anunciar o primeiro corte das taxas de juro diretoras, mas sem sair de terreno restritivo. O aviso foi dado por Philip Lane, o economista-chefe do BCE, responsável por apresentar as projeções e propostas de política monetária, durante as reuniões do conselho do banco central.
"A menos que haja alguma surpresa, nesta altura o que vemos é suficiente para eliminar o nível máximo de restrição" das taxas de juro, começou por dizer Philip Lane em entrevista ao Financial Times, pouco mais de uma semana antes da próxima reunião do BCE, agendada para o próximo dia 6 de junho.
Para Philip Lane, se este passo for executado "é um sinal de que a política monetária está a dar resultados, a garantir que a inflação está a descer de forma atempada". Lane aproveita ainda a entrevista para recolher os louros: "neste sentido fomos bem sucedidos".
As declarações de Lane reforçam assim a expectativa do mercado de "swaps", que já aponta para uma probabilidade de cerca 90% de que o BCE cortes os juros em junho.
Ainda assim, o economista-chefe do BCE não se esqueceu de dar o outro lado moeda, recordando que é preciso que os juros – ainda que aliviados – se mantenham em terreno restritivo, para garantir que a inflação continua a abrandar até à meta dos 2%, já que "seria muito problemático e doloroso" eliminar a inflação, caso esta voltasse a acelerar.
"A melhor maneira de enquadrar o debate deste ano é que ainda precisamos de ser restritivos durante todo o ano", acrescentou. "Mas, dentro do terreno restritivo, podemos descer um pouco", as taxas de juro, salvaguradou Lane.
Daqui para a frente o caminho será "gradual e acidentado", alertou o economista-chefe, que ainda assim mantém algum otimismo sobre o futuro. Olhando para o crescimento, a um ritmo quase recorde dos salários na Zona Euro, Lane sublinhou que a "tendência geral dos salários aponta para uma desaceleração, o que é essencial", um movimento atestado pelos próprios indicadores do BCE sobre os salários na Zona Euro.
No entanto, tal não significa que a autoridade monetária vai baixar os braços. Aliás, o próprio Philip Lane admite que, apesar esta tendência, ainda se observa uma "perssão significativa sobre os custos", que advém da subida dos salário e do crescimento dos preços dos serviços, o que significa que o BCE terá de manter uma política monetária restritiva até 2025.
"No próximo ano, com a inflação a aproximar-se visivelmente do objetivo, haverá um debate diferente sobre como garantir que a taxa de juro desce para um nível consistente em linha com essa meta", afirmou o antigo governador do banco central da Irlanda.
Na última reunião, em abril, a autoridade monetária liderada por Christine Lagarde decidiu, pela quinta vez consecutiva, manter as taxas de referência inalteradas, depois de um ciclo de subidas que vinha desde julho de 2022 e no qual foram concretizados 10 aumentos, num total de 450 pontos base, para tentar domar a inflação na região.
A taxa de depósitos está atualmente no máximo de sempre de 4%, a aplicável às operações principais de refinanciamento em 4,5% e a de cedência de liquidez em 4,75%.
Durante a entrevista ao FT, Lane foi ainda questionado sobre o potencial impacto de o BCE se antecipar à Reserva Federal (Fed) norte-americana na redução dos juros diretores no par euro e dólar, mas o economista-chefe desdramatizou a situação.
Lane garantiu que o BCE teria em conta qualquer movimento "significativo" da taxa de câmbio, mas salientou que "tem havido muito poucos movimentos" neste sentido. "Para qualquer taxa de juro que fixemos, as condições dos EUA são mais restritivas", acrescentou.
(Notícia atualizada às 9:37 horas).