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BCE de mãos atadas para combater boom imobiliário, alerta especialista
O Banco Central Europeu (BCE) está de mãos atadas, já que as suas ferramentas de política monetária parecem ser insuficientes para lidar com o boom dos preços do imobiliário, alerta John Muellbauer, professor da Universidade de Oxford no estudo "Real estate booms and busts: Implications for monetary and macroprudential policy in Europe", divulgado no âmbito do fórum do BCE que continua a decorrer esta quarta-feira em Sintra.
O estudo conclui que o BCE tem pouca margem para "remar contra a maré", devido ao ambiente heterogéneo entre os 19 Estados-membros, pelo que apela a uma mudança nos modelos aplicados pelo Conselho de Política Monetária liderado pela presidente Christine Lagarde.
Para o especialista, existe uma relação direta entre os mecanismos de transmissão de política monetária e os preços de compra e arrendamento de imóveis, fenómeno que, por sua vez, apresenta sinais sobre a saúde económica de um país.
O documento frisa que as crises financeiras são frequentemente precedidas por um alívio dos padrões de concessão de crédito e o consequente aumento de empréstimos, bem como o aumento dos empréstimos, acompanhados do disparar dos preços do imobiliário.
E no epicentro de uma crise de imobiliário está uma crise bancária. "Existe uma ligação importante entre as condições de crédito e os NPL (sigla inglesa para créditos não produtivos, ou seja, crédito malparado). Os NPL são componentes importantes nos ciclos e crédito [e consequentemente] nas crises bancárias", explica John Muellbauer.
Os créditos não produtivos representam um problema para os bancos por diversas razões. Por um lado, a instituição que concedeu o empréstimo pode perder parte ou a totalidade dos fundos que emprestou e deixa de ter o ganho esperado com a cobrança de juros e comissões.
"Este é um bom 'paper'. É preciso saber calibrar a política monetária em momentos de tranquilidade e momentos mais agitados [para o mercado]", comentou Giovanni Dell’Ariccia, durante o fórum.
O diretor adjunto do departamento de "research" do Fundo Monetário Internacional fez ainda questão de distinguir entre o que classificou de "bom" e "mau" boom do imobiliário, apontando como "um bom critério" o crescimento ou abrandamento do emprego em vários setores, desde construção às "utilities" entre estes dois fenómenos.