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Bancos centrais podem ter de rever a estratégia face à queda do dólar

A desvalorização do dólar pode fazer o trabalho dos bancos centrais.

07 de Janeiro de 2018 às 13:00
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O ano passado foi o pior para a moeda americana desde 2003. Para analistas do Bank of New York Mellon e do Crédit Agricole, com uma depreciação adicional, talvez os bancos centrais não precisem apertar tanto a política monetária quanto estão a prever.

 

O argumento é que, ao forçar a valorização de outras moedas, o recuo do dólar pode desacelerar o crescimento económico e a inflação noutras partes do mundo, abrindo espaço para os juros permanecerem baixos.

 

"Um dólar mais fraco potencialmente pode causar impacto sobre outros bancos centrais", salienta Mohit Kumar, estratega-chefe de juros do Crédit Agricole, em Londres. "De uma perspectiva mais ampla, uma moeda mais forte equivale a apertar a política monetária."

 

O estratega sénior de câmbio do BNY Mellon, Neil Mellor, publicou um relatório onde afirma que uma "apreciação cambial notável tem potencial para eviscerar previsões de retoma da inflação, o que indica possibilidade de congelamento dos planos iniciais de mudança da política monetária".

 

Com o euro já próximo do valor mais elevado em três anos em relação ao dólar, uma queda adicional da moeda americana pode ter implicações para a retirada do plano de estímulos do Banco Central Europeu. O presidente do BCE, Mario Draghi, já actuou para conter a subida do euro, alertando, em Setembro, que a volatilidade cambial pode prejudicar a estabilidade de preços.

 

 

"É difícil ver o BCE a acelerar o ritmo de retirada de estímulos se o euro continuar a subir", salientou,  Kit Juckes, estratega de renda fixa do Société Générale. "O risco é nunca atingirmos uma velocidade para escapar."

 

Moedas asiáticas

 

Em 2017, o yuan teve o seu melhor desempenho desde 2008, enquanto o iene registou o maior ganho em relação ao dólar desde 2011. O won, da Coreia do Sul, teve a maior subida desde 2004 e a rúpia indiana teve o seu melhor ano desde 2010.

 

O fortalecimento dessas moedas já "faz o aperto da política monetária que deixaria as autoridades asiáticas à vontade", disse Rob Subbaraman, economista-chefe para mercados emergentes da Nomura Holdings, em Singapura.

 

A valorização cambial tende a conter a inflação porque torna os produtos importados mais baratos e encarece as exportações. Se os preços não subirem, o risco para os bancos centrais é que políticas flexíveis criem bolhas nos mercados de activos e retirem a munição dessas instituições para combater a próxima crise.

 

"Se houver fraqueza do dólar que implique força para moedas de mercados emergentes, isso significa que os bancos centrais de países emergentes não precisam ser tão agressivos ao pôr o pé no travão", disse Dwyfor Evans, responsável por estratégia macroeconómica na região Ásia Pacífico da State Street Global Markets, em Hong Kong.

Ainda assim, a depreciação do dólar pode motivar o banco central dos EUA, a Reserva Federal, a elevar os juros mais rápido do que o previsto actualmente, forçando uma resposta por parte dos bancos centrais asiáticos, defende Rajiv Biswas, economista-chefe para Ásia Pacífico da IHS Markit, em Singapura.

 

"Apesar da actual fraqueza do dólar, os bancos centrais da Ásia provavelmente continuarão preocupados com os riscos de inflação acima do esperado e com um aperto mais rápido do que o previsto pela Fed", ele disse.

 

(Texto original: Dollar Drop Could Force Global Central Banks Into Rates Rethink)

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