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As cinco preocupações do BCE na decisão que marcará 2017

Evolução do euro, expectativas de inflação, perspectivas de crescimento, taxas de juro na periferia e em particular em Itália, e riscos políticos de 2017 são cinco dimensões que marcam o debate em Frankfurt.

DR BCE
07 de Dezembro de 2016 às 19:00
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O Banco Central Europeu tem quarta e quinta-feira a última reunião dedicada à política monetária de 2016. Este será o encontro mais importante desde Março, e o que definirá a política do BCE em boa parte de 2017. Com novas estimativas de crescimento e inflação até 2018, os governadores irão avaliar o prolongamento do actual programa de compra de dívida pública, ao abrigo do qual o banco central está comprometido a continuar a comprar 80 mil milhões de euros de activos por mês até Março de 2017.

Confrontados com melhores sinais da economia, mas maior incerteza na frente política, os governadores procurarão a melhor forma de calibrar as decisões de forma a passarem uma mensagem positiva quanto à solidez da retoma e da recuperação da inflação, ao mesmo tempo que acautelam ao mesmo tempo os muitos riscos que a Zona Euro enfrentará no próximo ano.

"Espere que o BCE enviei uma dupla mensagem esta quinta-feira", escreveu aos clientes Holger Schmieding, economista do Berenberg: "Em primeiro lugar, o BCE quer manter a sua política de estímulos fortes. Por outro lado, à medida que a inflação recupera, o BCE começa a pensar sobre a possibilidade de reduzir o seu programa de compras", lê-se na mensagem que antecipou o encontro. Face ao resultado do referendo em Itália, Schmieding espera que na conferência de imprensa a enfase seja colocada sobre a segunda parte da mensagem.

A expectativa é que o banco central prolongue o programa de compras por seis a nove meses, podendo optar por reduzir o actual ritmo de compras mensais, o que ajudaria a contornar a escassez de títulos no mercado de alguns países, como Alemanha ou Portugal.

Em qualquer dos cenários, o banco central deve anunciar alterações aos actuais parâmetros de elegibilidade de títulos que adquire de forma a poder continuar a comprar dívida pública para além de Março de 2017. Uma das alterações mais prováveis parece ser a alteração do limite de 33% de compra de cada linha de obrigações, como explica o Negócios

A decisão dos governadores terá os olhos postos em cinco variáveis-chave:

Taxas de juro e "spreads" face à Alemanha  

A evolução das taxas de juro da dívida pública na periferia do euro e os "spreads" face à Alemanha, em particular no que diz respeito a Itália, serão um dos indicadores centrais para os governadores.

Na sequência dos resultados das eleições norte-americanas as taxas de juro e os "spreads" da periferia subiram, colocando mais pressão sobre o BCE que, se reduzir o nível de compras de dívida, poderá fazer aumentar ainda mais os custos de financiamento.

A realidade ficou ainda mais complicada pela incerteza resultante da demissão de Matteo Renzi e do subsequente aumento de pressão sobre o frágil sistema financeiro italiano. Nos próximos dias um dos maiores bancos do país, o Monte dei Paschi, poderá ser sujeito a uma intervenção pública. Será o único?


Expectativas de inflação

A inflação na Zona Euro está a aumentar, mas lentamente, tendo atingido os 0,6% em Novembro, acima dos 0,5% de Outubro, o que é uma boa notícia para o banco central.

Ainda assim, as expectativas de inflação a médio prazo (cinco anos) implícitas nos contractos financeiros analisados pelo BCE permanecem distantes do objectivo de 2% que o BCE estabelece como meta para o médio prazo. Este é um argumento para que o banco central prologue o programa de compras. 

Há no entanto outras medidas de expectativa de inflação, nomeadamente inquéritos a especialistas, que admitem que o BCE possa atingir o seu objectivo até ao final da década. A última previsão dos economistas de Frankfurt apontou para uma inflação de 1,6% em 2018. 


Perspectivas de crescimento e inflação

As novas previsões de crescimento da equipa de economista do BCE serão outra peça chave na avaliação dos governadores.

Nas previsões de Setembro, os economistas de Frankfurt apontaram para uma estabilização do crescimento económico da Zona Euro em 1,7% este ano e 1,6% em 2017 e 2018. Estimaram também uma aceleração da inflação de 0,2% este ano, para 1,2% em 2017 e 1,6% em 2018, o que ainda assim fica distante do objectivo de médio prazo de garantir uma inflação abaixo, mas próxima de 2%.

Desde então, Donald Trump ganhou as eleições nos EUA, Matteo Renzi demitiu-se, o euro desvalorizou e as taxas de juros de vários países da periferia subiram, afectando Itália, Espanha e em maior dimensão Portugal.


Risco político

Os governadores terão de procurar o melhor equilíbrio entre os sinais de recuperação na Zona Euro e os muitos riscos que a Zona Euro enfrenta, tanto na frente externa, como interna.

A frágil situação da banca italiana será um tema incontornável, a que se juntarão a avaliação da incerteza resultante das possíveis implicações da política económica de Donald Trump tanto na Europa como na China e nas economias emergentes, assim como os riscos inerentes aos primeiros passos das negociações do Brexit, e aos novos enquadramentos políticos na Alemanha e França que vão a eleições em 2017.


Evolução do euro

Com a ajuda da política monetária expansionista do BCE, o euro tem estado a desvalorizar face ao dólar, o que ajuda a economia europeia tornando as exportações mais competitivas e encarecendo as importações. Será importante perceber se há implicações positivas desta evolução nas projecções de preços e crescimento que possam justificar um alívio dos estímulos.

Esta é uma das dimensões com maior incerteza. Em parte a evolução cambial reflecte a expectativa de uma subida de juros nos EUA; por outro lado, admite-se que a próxima presidência dos EUA pressione para uma desvalorização do dólar que torne mais competitivas as exportações norte-americanas.

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