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Trump quer acordo comercial "justo" mas Merkel diz que é à UE que cabe negociar

No final do primeiro encontro entre os líderes dos EUA e da Alemanha, Trump insistiu na necessidade de negociar acordos comerciais mais justos para a América, ao que Angela Merkel ripostou que é a UE que tem a incumbência de negociar esse tipo de matéria.

Reuters
17 de Março de 2017 às 20:10
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Foi com uma troca de agradecimentos que Donald Trump e Angela Merkel iniciaram a conferência de imprensa que se seguiu ao culminar do primeiro encontro entre o presidente dos Estados Unidos e a chanceler alemã. Merkel agradeceu ter sido "muito bem recebida", sem esquecer o apoio norte-americano à reconstrucção alemã no pós-guerra (Plano Marshall) e a cooperação durante a Guerra Fria.

 

Os dois líderes falaram sobre o actual posicionamento de Washington em relação ao comércio internacional, com Trump, depois de confrontado por um jornalista acerca da doutrina "América primeiro", a garantir não ser um isolacionista. "Não sou um isolacionista, só quero melhores acordos comerciais", afirmou o residente da Casa Branca, provavelmente tendo em mente os 60 mil milhões de euros de excedente comercial da Alemanha nas trocas comerciais com os Estados Unidos, em 2016.

 

Recuperando muitas das ideias que marcaram a sua campanha eleitoral, Donald Trump sustentou que os negociadores germânicos fizeram um "melhor trabalho" do que os seus congéneres americanos aquando da negociação de acordos comerciais.

 

"Eu só quero justiça", atirou Trump, que prometeu ainda antes de ser eleito deixar cair o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) entre a União Europeia e os EUA, promovido pelo ex-presidente, Barack Obama.


Contudo, Angela Merkel insistiu que gostaria de ver concretizado o TTIP, defendendo que esta parceria seria não só benéfica para ambas as partes, como cumpre os critérios exigidos por Trump.

 

E já depois de Trump ter dito que "temos de trabalhar para, em conjunto, alcançar políticas comerciais justas e recíprocas que beneficiem os nossos países", a chanceler germânica lembrou o líder americano de que "quando falamos de acordos de comércio, negociamo-los sempre através da UE".

 

Ainda assim, Merkel admitiu que o acordo comercial UE-EUA nunca foi bem visto na Alemanha, pelo que é favorável a que sejam feitas alterações e, numa aparente aproximação ao posicionamento de Trump, disse acreditar ser necessário moldar a "globalização para que esta seja aberta mas também justa".

 

Merkel diz que é bom ter um background diferente de Trump

 

Apesar das profundas diferenças entre Merkel e Trump, patentes em questões como imigração, refugiados, livre comércio ou política internacional, a líder alemã considerou ser "bom" haver diferença de background face a Trump. "As pessoas são diferentes", explicou, notando que "por vezes é difícil atingir compromissos, mas foi para isso que fomos eleitos".

 

Um dos compromissos que terá já ficado estabelecido passa pela relação com a NATO. Depois das várias ameaças de Trump sobre o papel dos Estados Unidos no âmbito da Aliança Atlântica – tendo mesmo ameaçado não cumprir a salvaguarda de defesa mútua se a generalidade dos aliados não cumprisse a sua quota-parte no financiamento da organização – Merkel mostrou-se "agradecida" pelo facto de o presidente americano ter "confirmado o importante papel da NATO".

 

Antes já Trump tinha reiterado um "forte compromisso" relativamente à NATO, mas "desde que os nossos aliados paguem a fatia justa do custo da sua segurança". Nesse sentido, Merkel, sublinhando a "importância" da aliança para Berlim, reconheceu que "a Alemanha precisa de aumentar a despesa e assume o compromisso de atingir [o financiamento de] 2% do PIB até 2024".

 

Talvez pelo desconforto que o tema provoca, devido às constantes críticas internas sobre a alegada proximidade de Trump face a Moscovo – o que ditou, por exemplo, a demissão do seu conselheiro para a Segurança Nacional – o presidente americano não se referiu à Rússia.

Já Angela Merkel fez questão de agradecer a Trump a disponibilidade demonstrada para contribuir para a resolução da crise na Ucrânia, país que acusa Moscovo de patrocinar rebeldes independentistas no Leste ucraniano. A líder alemã reiterou que os acordos de paz de Minsk – nunca totalmente implementados no terreno – são um bom ponto de partida, avisando, porém, que a Rússia terá também de "cooperar".

 

A cooperação entre Berlim e Washington foi também reiterada no que concerne às missões em curso no Afeganistão, na Líbia e também na luta contra o terrorismo, esta última carecendo ainda de um reforço. "Os dois países têm de trabalhar em conjunto para derrotar o ISIS", atirou Trump.

Aparentemente insanável é a distância que separa ambos no tema da imigração e apoio a refugiados. Para Trump a imigração "é um privilégio, não um direito". E se Trump já chegou mesmo a referir-se à política alemã de abertura ao acolhimento de refugiados como um "desastre", Merkel frisou a importância e responsabilidade das sociedades em dar "oportunidades" a quem não as teve nos países de origem.


Em resposta aos jornalistas, e já sobre uma questão não relacionada com o encontro bilateral desta tarde, Donald Trump falou finalmente sobre as acusações feitas contra Obama, que terá ordenado a realização de escutas ilegais ao então candidato presidencial. Apesar das críticas, e dos apelos a que apresente provas ou retire a acusação, Trump brincou com a situação. Recordando as escutas realizadas pela NSA (Agência de Segurança Nacional) a vários líderes internacionais, entre os quais Merkel, Trump, voltando-se para a chanceler, disse que "afinal sempre temos alguma coisa em comum, talvez". 

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