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Qual é a saída para uma economia viciada em dívida? Mais endividamento

Empresas “zombie” na China. Estudantes atolados com contas na América. Hipotecas elevadas na Austrália. Outra ameaça de incumprimento da Argentina.

Russell Boyce/Reuters
02 de Dezembro de 2019 às 19:05
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Uma década de dinheiro barato deixou o mundo com uma dívida recorde de 250 biliões de dólares, incluindo dívida soberana, de empresas e particulares. Tal corresponde a quase três vezes o que a economia mundial produz e equivale a cerca de 32.500 dólares por cada homem, mulher e criança no mundo.

 

Grande parte destas obrigações tem origem nos esforços dos responsáveis pelas políticas de usar financiamento para manter a economia nos carris depois de a crise financeira ter assolado a economia mundial. As taxas de juro em mínimos têm permitido que o fardo seja gerível para a maioria, permitindo que o montante de dívida continue a crescer.

 

Agora, com os políticos a terem de lidar com o crescimento económico mais lento desde a crise financeira, há um conjunto de opções para reavivar as economias que têm um denominador comum: ainda mais dívida.

 

Os proponentes dos "Green New Deals" ou da Teoria Monetária Moderna (um conjunto de propostas económicas para ajudar a combater as alterações climáticas e a desigualdade económica) defendem que os bancos centrais estão esgotados e que são necessários gastos orçamentais para eliminar os temores de empresas e famílias.

 

Os falcões orçamentais [defensores de maior controlo orçamental] argumentam que tais propostas vão ser apenas sementes para mais problemas. Mas a agulha parece estar a mudar sobre qual o montante de dívida que uma economia consegue gerir de forma segura.

 

Os banqueiros centrais e os responsáveis pelas políticas desde a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, ao Fundo Monetário Internacional (FMI) têm reforçado os apelos aos Governos para fazerem mais, argumentando que é uma boa altura para financiar projetos que vão trazer retorno para a economia.

 

"O conhecimento convencional anterior sobre os limites da economia no que se refere aos rácios de dívida pode estar a mudar", afirmou Mark Sobel, um ex-responsável do Tesouro dos EUA e do FMI. Num contexto em que a "fatura com os juros é baixa e é alta a procura do mercado por ativos seguros, as economias mais avançadas podem ser capazes de ter dívidas mais elevadas sustentáveis", acrescentou o mesmo responsável.

 

Um constrangimento para os responsáveis políticos é o legado dos gastos no passado, com carteiras de créditos problemáticos espalhadas pelo mundo.

 

Ao nível soberano, o recente Governo argentino eleito prometeu renegociar uma linha crédito recorde, de 56 mil milhões de dólares, com o FMI, o que trouxe à memória o colapso económico da Argentina em 2001. Turquia, África do Sul, bem como outros países também já fizeram soar os alarmes.

 

Quanto à dívida das empresas, as companhias americanas respondem, sozinhas, por cerca de 70% dos incumprimentos totais registados este ano, mesmo num contexto de expansão económica recorde. E na China, as empresas a entrarem em incumprimento devem atingir um nível nunca antes visto no próximo ano, de acordo com a S&P Global Ratings.

 

As chamadas empresas "zombies" – empresas que são incapazes de cobrir os custos da dívida com os resultados operacionais durante um período prolongado e têm perspetivas de crescimento nulo – aumentaram para cerca de 6% das cotadas não financeiras nas economias avançadas, um máximo de muitas décadas, segundo o Banco Internacional de Pagamentos. Isto afeta tanto os concorrentes saudáveis como a produtividade.

 

No que se refere aos particulares, a Austrália e a Coreia do Sul constam entre os países com as famílias mais endividadas.

A questão da dívida também já afeta a próxima geração de trabalhadores. Nos EUA, os estudantes devem 1,5 biliões de dólares e estão a ter dificuldades em pagar estes empréstimos.

 

"Mesmo que a dívida seja barata, pode ser duro uma vez que o financiamento se torna muito pesado. Enquanto o crescimento económico sólido é a forma mais fácil de resolver [estas questões], nem sempre está no horizonte. Em vez disso, os decisores políticos têm de encontrar um equilíbrio entre austeridade, repressão financeira – em que os que poupam subsidiam os devedores – ou incumprimento e perdão de dívidas. O melhor é crescer gradual e consistentemente, e é a solução para muitos mas não para todos os episódios de endividamento", afirmou Mohamed El-Erian, conselheiro económico chefe da Allianz SE.

 

Crescimento é o alvo

Os decisores políticos estão a trabalhar na esperança de que tal aconteça.

 

Para garantir a recuperação dos EUA, a Reserva Federal baixou por três vezes a taxa de juro este ano, mesmo com um corte de impostos que financiou o estímulo orçamental e que elevou o défice dos EUA para cerca de 5% do PIB.

 

O Japão está a ponderar novos gastos ao mesmo tempo que a política monetária continua muito acomodatícia. E, naquilo que é descrito como as eleições britânicas mais consequentes nas últimas décadas, os dois maiores partidos prometeram elevar os níveis de gastos públicos para patamares vistos, pela última vez, nos anos 70.

 

Por enquanto, a China está a manter-se em linha, ao mesmo tempo que tenta manter um tampão na dívida, com a concessão de injeções de liquidez a conta gostas em vez de implementar medidas de flexibilização monetária de uma só vez. Na frente orçamental, diminuiu impostos e antecipou a venda de obrigações, em vez de recorrer ao aumento dos gastos como fez em ciclos anteriores.

(Texto original: The Way Out for a World Economy Hooked On Debt? More Debt) 

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