Após uma luta relâmpago no seio do Partido Liberal da Austrália, Malcom Turnbull tornou-se, esta segunda-feira, 14 de Setembro, no novo primeiro-ministro daquele país, o quarto desde 2013. Depois de ter defendido que o actual Governo australiano perderia as próximas eleições se Tony Abbott, até aqui primeiro-ministro e líder dos liberais de centro-direita, continuasse à frente dos destinos do país, Turnbull desafiou a liderança protagonizada por Abbott.
Depois de receber 54 votos a favor, contra 44 votos alcançados por Abbott, dos elementos do Partido Liberal, Malcom Turnbull conseguiu assim derrubar Abbott e recuperar a liderança dos liberal-conservadores que detivera entre 2008 e 2009. Turnbull, que tem formação em advocacia e já foi funcionário do Goldman Sachs, ocupava até ao início do dia de hoje o cargo de ministro para as Comunicações, do qual se demitiu para, precisamente, disputar a liderança dos liberais com Tony Abbott.
A rivalidade entre Turnbull e Abbott já vem de há alguns anos. Foi Abbott quem derrubou, por apenas um voto, Turnbull da liderança do Partido Liberal quando o partido, em 2009, ainda se encontrava na oposição. Apesar da vitória na votação interna desta segunda-feira, Malcom Turnbull é visto com alguma desconfiança pelos sectores mais conservadores dos liberais australianos, especialmente devido ao apoio declarado por Turnbull a causas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou ao combate às alterações climáticas.
Turnbull será o quarto primeiro-ministro australiano desde 2013, isto depois de em Junho desse ano, num processo interno idêntico ao desta segunda-feira, mas no Partido Trabalhista australiano, Kevin Rudd ter "deposto" Julia Gillard da chefia do Executivo. Gillard havia feito o mesmo a Rudd em 2010.
Tony Abbott venceria as eleições de 2013, derrotando os trabalhistas, com base na promessa de um Governo estável e duradouro, exactamente aquilo que o Partido Trabalhista não havia conseguido assegurar devido a constantes disputas internas.
A deterioração da economia australiana foi também um factor decisivo para a queda de Abbott, o que levou a uma queda pronunciada dos liberais nas intenções de voto. Há já mais de um ano que os trabalhistas lideram as sondagens. Esta manhã, Turnbull referia ser "suficientemente claro que o Governo não teve sucesso em assegurar a liderança económica de que precisamos". "Ele não foi capaz de garantir a confiança económica necessária", prosseguiu.
A resposta de Abbott não tardaria, lembrando que "desde que assumimos o Governo, a nossa equipa (…) melhorou o orçamento, diminuiu os impostos e aumentou os postos de trabalho", acrescentado que "podem confiar em mim no objectivo de garantir uma economia mais forte e uma comunidade mais segura".
Todavia, quando ainda se espera a nomeação oficial de Turnbull como primeiro-ministro nas próximas horas, os analistas consideram que as profundas divisões no seio dos liberais continuarão a fazer-se sentir, pelo que se espera o continuar da instabilidade política que tem marcado o panorama australiano nos últimos anos.
"A ala mais à direita do Partido Liberal detesta verdadeiramente Turnbull, o que significa que esta disputa não acabará com a instabilidade política", disse Peter Chen, professor na Universidade de Sidnei citado pelo Financial Times.
A líder parlamentar dos liberais foi a outra vencedora a desatacar do processo interno dos liberais, mantendo-se na função depois de receber 70 votos a favor, contra os 30 votos alcançados por Kevin Andrews.