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Escândalo com "apagão" de nomes pode abrir crise política no Japão

O primeiro-ministro e o ministro das Finanças do Japão estão novamente debaixo de fogo devido à adulteração de documentos relativos à venda de um terreno público por um valor inferior ao preço de mercado.

Shinzo Abe tinha prometido demitir-se se fosse provado o envolvimento na polémica venda de terrenos ao grupo Moritomo Gakuen. Reuters
12 de Março de 2018 às 10:58
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Um relatório divulgado esta segunda-feira, 12 de Março, mostra que as referências ao primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, à sua mulher e ao ministro das Finanças, Taro Aso, foram deliberadamente apagadas de um total de 14 documentos oficiais relacionados com um caso de favorecimento a um grupo privado da área da Educação.

 

Foi há pouco mais de um ano que o líder do Executivo japonês, que está há seis anos no cargo, se viu envolvido neste processo de venda de um terreno público ao grupo conservador Moritomo Gakuen, com ligações à sua mulher, Akie, por um valor muito abaixo do preço do mercado. Nessa altura, o governante prometeu que se demitiria do cargo de primeiro-ministro e de deputado caso houvesse provas desse envolvimento.

 

Ora, depois de um documento de 80 páginas fornecido ao Partido Democrático Liberal, maioritário e no poder, evidenciar o apagão de alguns dos nomes mencionados, o ministro das Finanças, Taro Aso, 77 anos, classificou o episódio como "extremamente lamentável", mas argumentou que "apenas alguns funcionários do Ministério estiveram envolvidos na alteração" dos documentos relacionados com esse negócio, recusando afastar-se do cargo.

 

Segundo escreve a Reuters, também o primeiro-ministro veio de imediato a terreno pedir perdão pelo sucedido. "Como chefe da administração pública, peço imensas desculpas", referiu Shinzo Abe. O político de 63 anos, eleito pela primeira vez em Dezembro de 2012 com a promessa de reabilitar a economia e reforçar a área da Defesa, acrescentou apenas esperar que a nova investigação que se seguir venha a "revelar toda a verdade".

 

No entanto, na sequência da pressão imediata dos partidos da oposição e até de alguns membros do partido no poder, os analistas acreditam que este encobrimento pode vir a causar mais danos do que o próprio caso original. "Isto altera materialmente as perspectivas para o futuro [político] de Abe. A base para que ele consiga um terceiro mandato está a evaporar-se", referiu ao The New York Times um responsável da Teneo Intelligence, Tobias Harris.

 

Acordo de comércio no "currículo"

 

Na perspectiva europeia, independentemente do desfecho desta crise política, uma das maiores heranças políticas de Shinzo Abe, que lidera um país com 126 milhões de consumidores com grande poder de compra, será a negociação com Bruxelas, que durou quatro anos e foi concluída em Dezembro de 2017, daquele que será o maior acordo comercial jamais assinado entre a União Europeia (UE) e um país terceiro.

 

As trocas com o Japão, o sexto parceiro comercial da UE em 2016, representam 3,6% do comércio exterior europeu. Nesse ano, os 28 Estados exportaram para o mercado japonês 58 mil milhões de euros em bens e 28 mil milhões em serviços. Segundo um estudo de impacto da Comissão Europeia, o pacto com os japoneses, acompanhado de uma parceria económica que abrange investimento, direitos de propriedade intelectual, concorrência e contratos públicos, deve fazer o PIB europeu crescer 0,76% a longo prazo.

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