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Trump interrompe chamada com primeiro-ministro australiano: "O pior telefonema até agora"
A conversa entre Trump e Turnbull, no sábado passado, terá azedado quando o chefe de Governo australiano tentou superar o impasse no acordo de acolhimento de refugiados entre os dois países.
O presidente norte-americano terá interrompido abruptamente no sábado passado uma chamada telefónica com o primeiro-ministro australiano ao fim de 25 minutos, naquele que foi considerado por fontes próximas da administração Trump como o "pior" contacto "até agora" com líderes internacionais.
A consideração terá aliás sido feita pelo próprio Donald Trump ao chefe de Governo australiano, Malcolm Turnbull. A conversa, que deveria ter demorado uma hora, terá "azedado" quando o primeiro-ministro tentou saber se o programa de acolhimento de 1.250 refugiados, acordado entre Camberra e Washington no consulado Obama, seria para manter, procurando vencer este impasse e discutir o conflito na Síria e outros assuntos internacionais emergentes.
"Este [acordo de acolhimento de refugiados] é o pior acordo de sempre," terá respondido Trump segundo as mesmas fontes citadas pelo Washington Post, acrescentando que o contacto com Turnbull tinha sido "de longe o pior" depois de naquele sábado ter falado ao telefone com outros quatro líderes internacionais: Vladimir Putin, Angela Merkel, Shinzo Abe e François Hollande.
A conversa decorreu um dia depois de Trump ter assinado uma polémica ordem executiva que suspende por três meses a entrada de cidadãos oriundos de sete países maioritariamente muçulmanos e por quatro meses o programa de acolhimento de refugiados.
No telefonema, o presidente dos EUA terá acusado a Austrália de tentar exportar os "próximos bombistas de Boston," numa alusão ao ataque dos irmãos Tsarnaev a 15 de Abril de 2013, que matou três pessoas e feriu dezenas de outras na maratona daquela cidade. Além disso, Trump invocou a vitória que teve nas eleições, nomeadamente a dimensão de votos conseguidos no colégio eleitoral, ao passo que o governo Turnbull é apoiado por uma curta maioria.
"Eu não quero essas pessoas," terá dito Trump. Contudo, a posição do presidente parece dúbia. A nova administração norte-americana afirma ter "intenção" de honrar o acordo, algo que também a embaixada dos EUA em Camberra confirma.
Mas esta quarta-feira no Twitter, Trump voltou à carga: "Acreditam? A Administração Obama concordou em receber milhares de imigrantes ilegais da Austrália. Porquê? Vou estudar este acordo parvo."
Do you believe it? The Obama Administration agreed to take thousands of illegal immigrants from Australia. Why? I will study this dumb deal!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 2 de fevereiro de 2017
A interpretação oficial da Casa Branca em relação ao telefonema deixa no entanto um retrato mais brando da troca de palavras, salientando que se sublinhou que "a força e proximidade duradora da relação EUA-Austrália que é crítica para a paz, estabilidade e prosperidade na região Ásia-Pacifico e a nível global."
"Estas conversas foram conduzidas de forma franca, em privado. (…) Se viram relatos dessas conversas, não vou acrescentar nada," afirmou esta quinta-feira Turnbull à imprensa.
Horas depois, foi a vez de Trump falar de viva voz sobre o assunto: "O mundo está com problemas, mas vamos arranjar as coisas, OK? É o que eu faço - arranjo coisas. (...) Acreditem em mim, quando ouvirem falar sobre os telefonemas difíceis que tenho tido - não se preocupem. Não se preocupem (...) Temos sido ultrapassados praticamente por todas as nações no mundo. Isso não vai voltar a acontecer," garantiu ao início desta tarde, segundo a Reuters.
O acordo assinado no final do ano passado, por intermédio das Nações Unidas, comprometeu os EUA em receber metade dos cerca de 2.500 refugiados oriundos, na sua maioria, do Irão, Iraque, Sudão e Somália – países que constam da lista de restrições dos EUA. São pessoas que pediram asilo à Austrália e estão alojadas em condições precárias na Papua Nova Guiné e Nauru. Em contrapartida, a Austrália receberia refugiados de El Salvador, Guatemala e Honduras.
A Austrália tem sido um parceiro também na área militar dos EUA, tendo combatido ao lado dos norte-americanos no Afeganistão e no Iraque.