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Trump escolhe para secretário do Trabalho empresário de fast-food que violava leis laborais

Andrew Puzder é a escolha de Donald Trump para secretário do Trabalho. Um magnata dos restaurantes fast-food, que se opõe à subida do salário mínimo e ao reforço dos direitos dos trabalhadores.

Tudo começou numa noite de Inverno no estado norte-americano do Iowa. Mais precisamente, a 1 de Fevereiro, quando foi dado o pontapé de saída na corrida à presidência dos Estados Unidos. Debaixo dos holofotes estavam dois candidatos improváveis: do lado democrata, Bernie Sanders, associado a políticas de esquerda pouco comuns nos EUA; e Donald Trump, um milionário, estrela de televisão, do lado republicano. Trump perderia no Iowa, mas estavam criadas as bases do maior choque político de 2016.
Reuters
09 de Dezembro de 2016 às 16:46
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O presidente eleito dos Estados Unidos manteve o perfil das suas nomeações e voltou a escolher um milionário para a sua Administração. Andrew Puzder, a sua escolha para liderar o Departamento do Trabalho, é o CEO da CKE Restaurants, dona da cadeia Carl’s Jr. A escolha está a ser interpretada como um favorecimento da gestão face aos trabalhadores.

 

"Ele vai salvar as pequenas empresas do peso insuportável das regulações desnecessárias que estão a travar o crescimento do emprego e a penalizar os salários", sublinhou Trump sobre a sua escolha, lembrando que Puzder "criou e fez avançar a carreira de milhares de americanos".

 

Esta escolha está a deixar os trabalhadores preocupados. Uma análise feita pelo Governo americano às cadeias de restaurantes Carl’s Jr. e Hardee’s - ambas da CKE - concluiu que em seis em cada dez investigações havia casos de violação de leis laborais, normalmente porque não estava a ser pago o salário mínimo ou o trabalho extraordinário não estava a ser remunerado correctamente. A indústria de fast-food é aquela em que se observa a maior incidência de violações. Um dos responsáveis pelo "Fight for $15", movimento de defesa dos direitos dos trabalhadores em cadeias fast-food, disse que escolher "Puzder como secretário do Trabalho é como colocar Bernie Madoff à frente do Tesouro".

 

Nos últimos anos, assistiu-se a um crescimento dos movimentos de protesto no sector, com greves e manifestações de trabalhadores, que pedem aumentos salariais, argumentando que as empresas para quem trabalham têm lucros elevados e os executivos são muito bem pagos. Na McDonald’s, por exemplo, o CEO ganha quase 1.200 vezes mais do que o "trabalhador médio".

 

Daquilo que se conhece das ideias de Puzder, dificilmente ele terá simpatia por estas reivindicações no futuro. Ele tem manifestado uma forte oposição ao aumento do salário mínimo nacional - actualmente nos 7,25 dólares a hora - para valores próximos dos 15 dólares pedidos pelos movimentos de trabalhadores. No máximo, admite que se possa avançar até aos 10 dólares. Hillary Clinton, por exemplo, defendia um aumento para 12 dólares.

 

"As pessoas vão querer contratar estes trabalhadores juniores por estes níveis elevados de salário mínimo, que vêm com Obamacare [seguro de saúde], licenças por doença e outros apoios que o Governo impõe às empresas e a esses trabalhadores?", questionava Puzder em Março, em declarações ao LA Times. O empresário considera que aumentar o salário mínimo apenas incentivará a robotização da economia. "Comecei a servir gelados na Baskin-Robbins por um dólar por hora. Aprendi muito sobre gestão de inventários e apoio ao cliente, mas é impossível que servir gelado valha 15 dólares à hora. Nunca ninguém pretendeu que fosse um emprego para sustentar uma família." O LA Times lembra que, se Puzder ganhava um dólar à hora em 1960, isso é equivalente a 7,5 dólares a preços actuais.

 

Puzder tem-se também manifestado contra a mudança das regras de pagamento de horas extraordinárias, que não são actualizadas desde a década de 70, escreve o New York Times. Outras duas críticas habituais do CEO são dirigidas ao Obamacare, a reforma de saúde implementada por Barack Obama, e ao subsídio de doença obrigatório, que considera ser um fardo muito grande para as empresas. Ou seja, um secretário do Trabalho que está contra leis que terá de defender no governo e que, em geral, favorecem os trabalhadores.

 

Os restaurantes da CKE são também acusados de utilizarem publicidade sexista, colocando normalmente mulheres semi-nuas a comer hambúrgueres. "Eu gosto dos nossos anúncios. Gosto de mulheres bonitas a comer hambúrgueres em bikini. Acho que é muito americano", defendeu.

 

Segundo o Wall Street Journal, a CKE tem 3.750 restaurantes fast-food em 44 estados e 40 países. Emprega cerca de 75 mil trabalhadores nos EUA e quase 100 mil em todo o mundo, com vendas que chegam aos 4,3 mil milhões de dólares.

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