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Brasil: Lula acredita que vai ser o candidato do PT à Presidência mesmo condenado
Lula da Silva diz que a condenação não o impedirá de ser o candidato do Partido dos Trabalhadores nas próximas eleições presidenciais do Brasil. "Na política, quem tem o direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro", considera.
Um dia depois de ter sido condenado a nove anos e seis meses de prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou o juiz Sérgio Moro de estar a tentar acabar com a sua carreira política, considerando que nenhuma das acusações que sustentam a sua condenação estão provadas.
"É uma mentira que nasceu do jornal Globo e que Polícia Federal aceitou, que depois foi para o Ministério Público que preparou a acusação, outra mentira, e depois foi para o Moro (...) A sentença tem uma componente política muito forte; obviamente não vou entrar nas componentes jurídicas porque o juiz Moro escreveu quase 60 páginas para justificar a sua decisão", mas "se Lula pudesse ser candidato, o golpe não fechava", argumentou.
Falando na sede nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo, Lula deu assim a entender que, não obstante ter sido já pesadamente condenado no primeiro de cinco processos que correm contra si, mantém a intenção de ser o candidato do partido nas próximas eleições presidenciais, ao afirmar que o seu julgamento não cabe à justiça mas ao eleitorado. "Quem acha que é o fim do Lula, vai quebrar a cara. Na política, quem tem o direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro", afirmou.
"Eu acredito nas instituições e quero instituições fortes (…) agora as pessoas que as compõem têm de ter mais respeitabilidade. Os procuradores da Lava Jato, os policiais que fazem parte dela, não levaram em conta nenhuma verdade", acrescentou.
O "caso do triplex" é o primeiro cinco processos judiciais contra Lula a conhecer um desfecho, tendo o ex-presidente brasileiro, de 71 anos, sido condenado por ter recebido um apartamento de luxo em Guarujá (no litoral de São Paulo) da construtora OAS como suborno devido à sua influência para beneficiar a empresa em contratos com a Petrobras e com outras instituições públicas brasileiras.
"Entre os crimes de corrupção e de lavagem, há concurso material, motivo pelo qual as penas somadas chegam a nove anos e seis meses de reclusão, que reputo definitivas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva", condenou Moro. O juiz optou, porém, por não decretar a prisão efectiva de Lula, alegando prudência e a necessidade de evitar traumas excessivos por se tratar de um ex-presidente, permitindo a Lula recorrer da sentença em liberdade.
Segundo Moro, há provas de que Lula recebeu 3,7 milhões de reais em subornos, através do triplex do Guarujá, e que "a prática do crime de corrupção envolveu a destinação de 16 milhões de reais (4,3 milhões de euros) a agentes políticos do Partido dos Trabalhadores, um valor muito expressivo. Além disso, o crime foi praticado em um esquema criminoso mais amplo no qual o pagamento de propinas [subornos] havia se tornado rotina".
"O condenado recebeu vantagem indevida em decorrência do cargo de Presidente da República, ou seja, de mandatário maior. A responsabilidade de um Presidente da República é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes".
"Isso sem olvidar que o crime se insere em um contexto mais amplo, de um esquema de corrupção sistémica na Petrobras e de uma relação espúria entre ele o Grupo OAS. Agiu, portanto, com culpabilidade extremada, o que também deve ser valorado negativamente", concluiu o juiz de primeira instância.
Com eleições agendadas para 2018, o Brasil é hoje um país numa situação política sem paralelo, com um ex-presidente e eventual candidato condenado, um presidente em exercício (Michel Temer) denunciado, uma ex-presidente (Dilma Rousseff) destituída por crimes contra as contas públicas e os principais partidos políticos minados de casos de corrupção.