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Acções da Petrobras caem mais de 11% após resultados incapazes de quantificar custo da corrupção

Após uma reunião de 11 horas, com dois meses de atraso e sem o aval da auditora, a direcção da petrolífera brasileira decidiu não avançar com qualquer número para os prejuízos da corrupção.

Bloomberg
Negócios 28 de Janeiro de 2015 às 18:48

As acções da petrolífera brasileira Petrobras na bolsa de valores de São Paulo (BM&F Bovespa) caíram mais de 11% após a divulgação dos resultados da empresa no terceiro trimestre de 2014, feita na madrugada de hoje. 

 

No início da tarde, as acções ordinárias (sem direito a voto) recuavam 11,51%, para 8,53 reais (2,91 euros), enquanto as preferenciais chegaram a cair 12% 8,95 reais, seguindo com uma queda de 10%.

 

O balanço relativo ao terceiro trimestre de 2014 foi divulgado nesta quarta-feira após dois adiamentos, desde Novembro, mas não registou, como era exigido pelos órgãos reguladores, as perdas estimadas com desvios de dinheiro investigados pela Polícia Federal e nem a perda de valor de activos devido ao escândalo das suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais que envolve quadros superiores da empresa.  

 

Após uma reunião de 11 horas, a direcção da empresa decidiu não avançar com qualquer número para os prejuízos da corrupção, anunciando um lucro líquido de três mil milhões de reais no terceiro trimestre do ano passado. O resultado representa uma queda de 38% em relação ao trimestre anterior. No acumulado de Janeiro a Setembro, o lucro foi de 13,4 mil milhões de reais, uma queda de 22% na comparação com o mesmo período de 2013. O documento, divulgado após dois adiamentos e com mais de dois meses de atraso, não tem a aprovação da auditora independente PricewaterhouseCoopers.

 

O Conselho de Administração da estatal não chegou a um consenso sobre como identificar no balanço as perdas provocadas pelos desvios identificados na investigação "Operação Lava Jato".


"A companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correcção dos valores dos activos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos actos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da Operação Lava Jato", refere a estatal em comunicado, citado pela revista Veja, segundo a qual pessoas próximas à Petrobras esperavam que a empresa reconhecesse um prejuízo de até 20 mil milhões de dólares (cerca de 52 mil milhiões de reais), o equivalente a  42% do actual valor de mercado da petrolífera controlada pelo Estado brasileiro mas que é cotada na bolsa de São Paulo e Nova Iorque.

 

Já o valor das perdas dos activos estimado pela Petrobras ultrapassaria os 88 mil milhões de reais (30 mil milhões de euros), mas não foi incluído no balanço pela falta de consenso.

 

Na nota enviada aos investidores, refere que o conselho de administração concluiu "ser impraticável a exacta quantificação destes valores indevidamente reconhecidos, dado que os pagamentos foram efectuados por fornecedores externos e não podem ser rastreados nos registos contábeis da companhia." 

 

A publicação do balanço sem as "perdas contábeis" arrisca não ser suficiente para satisfazer os investidores, mas tem como consequência prática evitar que a estatal seja considerada em situação de "default" técnico, que ocorre se a empresa descumpre cláusulas contratuais com seus credores no exterior, entre elas o prazo para publicação dos resultados.

 

As agências de 'rating' tinham ameaçado cortar a notação da Petrobras caso esta não divulgasse os resultados e não identificasses as perdas potenciais. A empresa está no centro da maior investigação de corrupção da justiça brasileira que envolve as maiores construtoras do país e o Partido dos Trabalhadores (PP) de Lula da Silva e de Dilma Rousseff - actual presidente e antiga presidente da Petrobras - e seus aliados no governo, PP e PMDB. A empresa enfrenta ainda diversos processos judiciais nos Estados Unidos, sendo acusada de ter deliberadamente escondido os esquemas de corrupção, ludibriando quem investiu nas suas acções.

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