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S&P alerta para incumprimento de dívida de empresa estatal moçambicana
A agência de rating considera que a reestruturação do encargo da Mozambique Asset Management, uma das empresas estatais beneficiadas com as dívidas escondidas, pode sinalizar um incumprimento do Governo de Moçambique.
"A reestruturação potencial da Mozambique Asset Management (MAM) ou dos empréstimos externos da Proindicus [outra das empresas estatais beneficiadas] pode ser vista como um incumprimento por parte do Governo central de Moçambique", advertiu esta sexta-feira a agência de notação financeira Standard & Poor's, em alusão à revelação de avultados encargos garantidos pelo Executivo à revelia das contas públicas.
A S&P recorda que, em Abril, logo após a reestruturação da dívida da Ematum (Empresa Moçambicana de Atum), avalizada pelo Estado, a MAM falhou o pagamento da primeira prestação de outro encargo garantido pelo Governo e uma terceira firma, a Proindicus, tem programada uma avultada transferência para o início de 2017.
"Na medida em que a dívida destes três empresas públicas é suportada por garantias do governo central, se os pagamentos não forem realizados as garantias podem ser executadas e nós podemos voltar a baixar o rating soberano de Moçambique, para incumprimento selectivo, adiantou a S&P.
Só no final de Abril é que o Governo moçambicano reconheceu a existência de dívidas escondidas das contas públicas de 1,4 mil milhões de dólares (1,25 mil milhões de euros), justificando com razões de segurança e infra-estruturas estratégicas do país.
A revelação de empréstimos com aval do Governo, contraídos entre 2013 e 2014, levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a suspender a segunda parcela de um empréstimo a Moçambique e a deslocação de uma missão a Maputo. O grupo de 14 doadores do Orçamento do Estado também suspendeu os seus pagamentos, uma medida acompanhada pelos EUA, que anunciaram que vão rever o apoio ao país.
Com a revelação dos novos empréstimos, a dívida pública, segundo assumiu recentemente o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, representa 86% do Produto Interno Bruto (PIB) e traduz uma escalada de endividamento desde 2012, quando se fixava em 42%.
Em Maio, a MAM falhou o pagamento da primeira prestação de 178 milhões de dólares (160 milhões de euros). O Governo moçambicano declarou entretanto que a MAM procurava renegociar a dívida, que totaliza 535 milhões de dólares, (478 milhões de euros) com os credores, mas não são ainda conhecidos resultados.
Ainda em Maio, a S&P cortou a avaliação do crédito de Moçambique em dois níveis, de B- para CCC, devido ao aumento do risco de incumprimento pela interrupção de financiamento externo. "A combinação de uma dívida maior do que o previsto e a interrupção do financiamento externo oficial provavelmente irá diminuir a capacidade de Moçambique para atender suas obrigações de dívida no prazo e na íntegra", considerou.
Na sua comunicação de hoje, a S&P mantém os ratings de Moçambique no "vermelho", reflectindo o seu "ponto de vista de bases fracas das políticas macroeconómicas de Moçambique, ausência de financiamentos externos" e ainda os posicionamentos políticos do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A S&P admite a revisão das suas perspectivas para estáveis, caso os credores não accionem as garantias - "por exemplo, de modo a não acelerar outra dívida do sector público nas quais possam interesse" -, ou se as garantias não previrem prazos de execução. "Este seria um sinal da nossa visão de que existe um risco contínuo de incumprimento, dada a elevada dívida externa de Moçambique sem suporte financeiro oficial, mas o risco de incumprimento iminente seria menos agudo", afirma a agência.
A agência Fitch manteve em Julho o rating da dívida de curto e longo prazo de Moçambique no nível de "lixo", enquanto a Moody's alertou que o país entrará em incumprimento financeiro quando terminar a renegociação dos empréstimos da MAM por resultarem condições menos vantajosas para os credores.
Na visita de uma delegação a Maputo em Junho, o FMI defendeu uma auditoria internacional e independente ao serviço da dívida moçambicana.