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"Não me estou a esconder nem a fugir". Isabel dos Santos fala de uma "caça às bruxas política"

Apesar de viver no Dubai, um país sem acordo de extraditação com Angola, Isabel dos Santos garante: "Não me estou a esconder nem a fugir. Tanto as autoridades angolanas como as portuguesas sabem o meu endereço", voltando a afirmar que todas as acusações são mentira.

Bloomberg
Negócios jng@negocios.pt 16 de Fevereiro de 2024 às 10:39
"A primeira mulher multimilionária de África". É assim que Christina Lamb, correspondente-chefe do semanário britânico The Sunday Times, descreve Isabel dos Santos, de 50 anos, filha do antigo Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, "estrela do Instagram e do Tik Tok" e procurada pela Interpol, na grande entrevista que o Expresso publica esta sexta-feira e que foi realizada no Dubai. 

Acusada de acumular uma fortuna de quase dois mil milhões de euros à custa do povo angolano, usando a influência do pai, a empresária viu os seus ativos serem expropriados ou congelados em todo o mundo pelos tribunais de Londres, Luanda, Lisboa e Amesterdão. Está proibida de entrar nos Estados Unidos. 

Na entrevista, concedida ao "The Sunday Times" ao fim de quatro anos de acusações, Isabel dos Santos garante que se trata de uma "caça às bruxas política encabeçada pelo sucessor do pai", João Lourenço. Diz ainda: "Todas as minhas contas estão congeladas, o que significa que não tenho acesso a quaisquer fundos". Sobre o seu país, garante não ser um lugar seguro: "Se voltasse a Angola, acho que seria presa. Acho que Angola não é um lugar seguro para mim".

Apesar de viver num país sem acordo de extradição com Angola, garante: "Não me estou a esconder nem a fugir. Tanto as autoridades angolanas como as portuguesas sabem o meu endereço", voltando a afirmar que todas as acusações são mentira. "Quando o nosso pai é alguém poderoso, somos um alvo fácil. É fácil dizer que conseguimos isto ou aquilo por influência, mas não é verdade. Não recebi quaisquer subsídios ou apoios governamentais, nem acesso, nem empréstimos que não foram pagos. É tudo baseado em documentos falsificados".

Quanto às razões que levam o Governo angolano a "persegui-la", diz tratar-se de "traição". "A traição nunca vem do exterior. Vem sempre de dentro", acusando o Presidente João Lourenço de ter medo que se candidate contra ele. "Quando [João Lourenço] tomou posse pela primeira vez, era muito popular, visto como uma mudança depois de décadas com o mesmo Presidente, e, muito rapidamente, a primeira coisa que decidiu fazer foi trair o ex-Presidente ao iniciar ataques contra ele e os seus familiares". 

Portugal também não ficou de fora da entrevista a Isabel dos Santos, país que acusa de executar pedidos judiciais de Angola contra si, sem os questionar. A empresária fala ainda do regime colonial português, "racista brutal e muito injusto", que compara ao apartheid.  

"Ajudei a construir uma ponte entre a ex-colónia e a antiga potência colonial, uma ponte de interesses comuns onde o relacionamento de trabalho e de negócios era mais equilibrado e justo. E isso deixa-me particularmente orgulhosa. Antigamente, as relações entre Angola e Portugal eram mais fortes. Quem me dera que a relação pudesse solidificar-se. Seria bom para os dois países. Mas a posição de Portugal, agora, é a de aceitar todos os pedidos apresentados por Angola contra mim e executá-los sem questionar, o que é estranho. Sobretudo quando esses pedidos violam os princípios e as leis dos direitos humanos. Apresentámos uma queixa junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos [TEDH], que foi aceite. Mas as decisões do TEDH demoram muito tempo. Portugal diz que o arresto e congelamento dos meus bens foi feito a pedido de Angola. No âmbito da CPLP, o pedido foi executado sem qualquer avaliação por parte de Portugal. E eu nem sei do que se argumenta nos inquéritos abertos pelo DCIAP [Departamento Central de Investigação e Ação Penal] português. Não posso defender-me. Está tudo sob segredo de justiça. Mas certamente que o meu direito de defesa deveria sobrepor-se ao segredo de justiça, ou não?"
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