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Sindika Dokolo: "Reduzir a imagem de Angola à corrupção é uma manipulação desonesta"

Sindika Dokolo, coleccionador de arte, empresário e marido de Isabel dos Santos diz que daqui a 20 anos "o modelo angolano será celebradode forma unânime".

03 de Dezembro de 2013 às 00:01
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Sindika Dokolo, administrador da Amorim Energia indicado pela Sonangol, ‘holding’ que detém 33,34% da Galp Energia, e marido da empresária angolana Isabel dos Santos, defende que "reduzir a imagem de Angola a problemas de corrupção é uma manipulação desonesta e contraprodutiva".

 

Em declarações por escrito ao Negócios, a partir de São Tomé e Príncipe, onde esteve no passado fim-de-semana para participar na inauguração da VII bienal internacional de arte daquele país, na qual estão expostas obras da sua colecção, Sindika Dokolo responde unicamente a três questões e defende que "o modelo angolano, daqui a 20 anos, será celebrado de forma unânime" e refuta as acusações do activista angolano, Rafael Marques, de estar envolvido em actos ilícitos que conduziram à compra de 72% de uma empresa suíça de alta joalharia, a De Grisogno.

 

Sobre a participação da Fundação que tem o seu nome, afirma que aceitou o convite para participar porque acredita "nos laços fortes de amizade entre Angola e São Tomé", e porque considera "importante materializar novas rotas culturais e de cooperação no continente africano".

 

Sobre a sua colecção de arte contemporânea africana, considerada a mais importante do mundo, com cerca de três mil obras de arte, Sindika Dokolo comenta: "não colecciono apenas artistas africanos. Não tenho uma colecção de arte africana, mas sim uma colecção africana de arte. Acho que a mais-valia da cena artística africana contemporânea é a de dar uma perspectiva sensível e inteligente de um continente em plena mutação".

 

Sindika Dokolo salienta os aspectos que vão, em seu entender, projectar o continente africano no futuro. Em termos demográficos, em 2050, existirão 25% mais africanos que chineses, e no plano económico assiste-se a um "crescimento económico estrutural do continente africano". "Numa conjuntura tão única, a arte transcende o quadro da estética para abraçar a perspectiva da história", acrescenta.

Em São Tomé, Sindika Dokolo, que é também administrador da cimenteira angolana Nova Cimangola, desmentiu a informação de que o presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, estaria internado para tratamento em Espanha. "Se houvesse um problema de saúde não estaria aqui, inclusive com a minha filha, a participar neste evento cultural."

 
As perguntas a que Sindika Dokolo respondeu

Angola tem sido alvos de críticas, por ter um poder centralizado e pelo facto de as decisões políticas e económicas se concentrarem num grupo restrito de figuras. Como é que comenta esta avaliação?

 

As críticas sobre Angola fazem-me lembrar o que se dizia sobre Singapura nos anos oitenta. Poder centralizado, autoridade excessiva do Estado, cultura do segredo e aparecimento de operadores privados e públicos com meios financeiros que complementam e reforçam a capacidade do Estado, deixando este de actuar de maneira isolada. As boas estratégias levam tempo para serem reconhecidas e não tenho dúvidas que o modelo angolano daqui a 20 anos será celebrado de forma unânime.

 

É acusado pelo jornalista e activista angolano Rafael Marques de estar envolvido num "esquema de desvio de diamantes de Angola pela família presidencial" e de ter integrado um consórcio com a Sodiam (Sociedade de Comercialização de Diamantes de Angola) que comprou 72% da De Grisogono, uma empresa suíça de alta joalharia. E a forma como constituiu a sua colecção de arte também é alvo de controvérsia.

 

A polémica ligada à minha colecção foi criada logo de início com o objectivo de a apresentar às elites africanas como ilegítima e evitar assim as questões pertinentes que a Fundação pretendia colocar no centro dos debates com o mundo das artes. Tive que justificar as minhas origens. O meu pai foi o primeiro homem negro a criar um banco em África no fim dos anos 60 do século passado e é conhecido como o empresário mais bem sucedido do Congo desde a sua independência.

Antes de ir para Angola, tinha um património que justificava, por si só, a minha importante colecção de arte. No caso das acusações formuladas por Rafael Marques, considero que num país democrático, o direito é ditado por um juiz em função da lei, e não por activistas políticos em função de agendas ideológicas. Parece-me fundamental pelo bem da democracia angolana que assim continue.

 

Em relação ao investimento mencionado e tendo em conta que Angola tem um enorme potencial de matérias preciosas, diamantes, ouro, etc, faz todo o sentido do ponto de vista estratégico querer estender a sua presença desde a fase de exploração até ao mercado internacional do luxo, procedendo-se desta forma a uma integração vertical de toda a cadeia de valor.

 

A grande dificuldade é sempre a de encontrar uma oportunidade para adquirir uma marca de renome, mas estamos no século XXI, e já não há sectores de actividade onde os africanos não possam competir em igualdade ao nível global. Aliás, permita-me recordar que a "Cartier" pertence a um sul-africano. Não vejo portanto o que choca quando investidores angolanos seguem a mesma estratégia de sucesso.

 

Como é que interpreta estas suspeitas de que terão existido actos ilícitos envolvidos no negócio da De Grisogono e de que forma avalia as denúncias que têm sido feitas por Rafael Marques através, por exemplo, do site Maka Angola?

 

Não conheço a acusação específica que proferiu. Contudo, é do conhecimento público que qualquer dólar de Angola que entra na Suíça ou na Europa é objecto de um processo de verificação exaustivo. Por isso, devem tratar-se de informações incompletas e, vindas de Rafael Marques, parciais. Como activista político é livre de exprimir o seu ponto de vista. O que me parece abusivo e ilegítimo, é a postura de autoridade moral que tenta adoptar para dar credibilidade à sua crítica exagerada e sistemática de Angola. Angola tem imperfeições, mas qual é o país que não tem?

 

A política do Governo angolano permitiu atingir uma taxa de investimento público sem igual no continente. Nos próximos 15 a 20 anos teremos taxas de crescimento do produto anual bem acima dos 5%. A este ritmo, o nível de vida médio duplica todos os 10 anos. Reduzir a imagem de Angola a problemas de corrupção é uma manipulação desonesta e contraprodutiva.

 

Por isso, contesto as suas acusações. Ele próprio reconhece no seu website ser financiado, na sua maior parte, por lobistas e especuladores internacionais como George Soros. Se ele fosse um jornalista de investigação, como às vezes se apresenta, devia procurar o que foi escrito sobre Soros na imprensa britânica quando nos anos 90 ele lançou um ataque especulativo à libra esterlina que, a ter êxito, teria precipitado milhares de famílias inglesas no desemprego e na miséria, antes de aceitar o dinheiro dele para falar mal do seu próprio país. Soros é o arquétipo do capitalista ocidental que quer evitar a concorrência dos operadores locais no acesso ao potencial económico africano. Quem trabalha para ele está a jogar contra o sentido irreversível da história e está condenado a perder.

 
Coleccionador de arte por inspiração do pai

Sindika Dokolo nasceu em 1972 no antigo Zaire, hoje República Democrática do Congo. Vive em Angola desde 2003, ano em que se casou com Isabel dos Santos, filha do presidente da República, José Eduardo dos Santos.

 

Em Luanda criou a Fundação Sindika Dokolo, sendo referenciado como o detentor da mais importante colecção de arte contemporânea africana. Está envolvido com o Governo num projecto de criação de um centro de arte contemporânea em Luanda, tendo-se comprometido a oferecer ao centro a colecção da sua Fundação.

 

O seu pai, Augustin Dokolo, falecido em 2001, foi banqueiro, tendo-lhe transmitido a paixão pela arte. A formação académica de Sindika Dokolo foi feita em Paris, onde estudou economia, comércio e línguas estrangeiras na Universidade Pierre-et-Marie-Curie.

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