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Angola volta aos défices gémeos

Pela segunda vez na última década, a economia angola volta a ter um défice orçamental ao mesmo tempo que apresenta um défice externo. No centro da crise de Angola está, obviamente, a queda do preço do petróleo e o efeito dominó que se seguiu.

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16 de Outubro de 2015 às 16:22
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A avaliação é feita pelo Banco de Portugal, numa publicação de periodicidade anual sobre a economia dos PALOP e de Timor Leste, divulgada esta tarde, 16 de Outubro. Segundo esse documento, "a acentuada queda do preço do petróleo nos mercados internacionais, iniciada na segunda metade de 2014, fez-se sentir duramente na economia angolana".

"Nesse ano, o ritmo de expansão da actividade interrompeu o crescendo evidenciado desde 2009, devendo abrandar ainda mais significativamente em 2015", acrescentam os técnicos do Banco de Portugal, referindo uma previsão de crescimento económico de 3,5% para este ano, longe dos 6,8% de 2013, por exemplo.

Qualquer análise à crise angolana tem de passar pelo sector petrolífero, representando perto de 40% em 2013 e, em 2014, segundo as estimativas provisórias deverá ainda pesar 35,4%, apesar do seu preço ter afundado. Não só a actividade saiu prejudicada, como as contas externas também se agravaram.

"A diminuição do valor do petróleo exportador (-13,8% em 2014) explica mais de 3/4 da redução do saldo da balança corrente, que entrou em terreno negativo (-2,9% do PIB)  pela primeira vez desde 2009 – ano também marcado por um choque decorrente da crise financeira internacioal", pode ler-se no documento. "A persistência do preço do petróleo em mínimos de mais de cinco anos tem agravado a situação externa em 2015, projectando-se um défice corrente de 17,6% do PIB".

Este ambiente económico interno e externo tem pressionado o kwanza, com o banco central a permitir a sua depreciação mais acelerada a partir de Junho. Uma moeda enfraquecida tem consequências directas na estabilidade dos preços no País. "Desde o início de 2015 que se verifica uma aceleração da cadência inflacionária, reavivando o espectro de taxas de inflação de dois dígitos. Essa ameaça acabaria por se materializar em Julho, mês em que a taxa de inflação homóloga se situou em 10,4%, um aumento de 2,9 pontos percentuais face ao valor registado em Dezembro de 2014 e já acima do prejectado para o final do ano, 9%".

A juntar ao défice externo, Angola enfrenta ainda um problema de contas públicas, com um défice de 2,8% do PIB em 2014, o que também é a primeira vez que acontece desde 2009. Por trás deste regresso aos défices está a perda de receita relacionada com a venda de produtos petrolíferos, que tem representado cerca de 75% do dinheiro arrecado pelo Estado. Recorde-se que, em 2011, Angola tinha um excedente orçamental de 10,2% do PIB. Para corrigir esta degradação, o Governo terá de ser mais rígido na sua execução orçamental e, muito importante, provavelmente reduzir o investimento do Estado para menos de metade do valor observado em 2014.

A dívida pública angolana deverá atingir os 57% do PIB este ano, tendo fechado 2014 nos 37,9%. Já a dívida externa deverá saltar de 28,1% para 36,1% do PIB.

AAngola está a atravessar uma crise económica, mas também política, com um incremento da contestação social no País, que ganhou especial atenção com a greve de fome de Luaty Beirão e a organização de algumas manifestações. Ao mesmo tempo, é ainda uma incógnita que poderá suceder a José Eduardo dos Santos na liderança do MPLA. 

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