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Isabel dos Santos revela gravações secretas para provar “vingança pessoal” em Angola

A empresária apresentou num tribunal de Londres aquilo que diz serem provas de que o regime angolano orquestrou uma “campanha política” contra si. Incluindo os Luanda Leaks, divulgados pelo “hacker” português Rui Pinto.

29 de Março de 2021 às 11:14
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Isabel dos Santos acusa João Lourenço de estar a seguir uma "agenda política e de vingança pessoal" para destruir a sua carreira empresarial e "usurpar ilegalmente os bens", dizendo ter gravações secretas que provam ser este o objetivo do homem que sucedeu ao pai, José Eduardo dos Santos, na presidência de Angola.

 

Naquilo que o Financial Times descreve na edição desta segunda-feira, 29 de março, como uma "retaliação significativa", a empresária alega que João Lourenço deu ordens a procuradores, juízes e espiões angolanos para lançarem uma "campanha política" e ações judiciais para desmantelar um império que vai da área da banca às telecomunicações, incluindo em Portugal.

 

Na resposta ao Tribunal Superior de Londres, no âmbito de um processo em que a Unitel reclama a devolução de empréstimos feitos à "holding" da acionista em 2012 e 2013, a defesa refere gravações secretas captadas pelo grupo israelita Black Cube, fundado por antigos membros da Mossad, que registaram membros da elite política e empresarial do país, como Carlos Saturnino (Sonangol) ou familiares do ex-vice-presidente Manuel Vicente.

 

Isabel dos Santos diz que escolheu os israelitas pela "experiência em descobrir conspirações, subornos e corrupção". Segundo o jornal britânico, que cita a existência deste documento apresentado na semana passada, essas conversas revelam alegadamente a existência de uma espécie de "task force" a nível governamental montada para atingir a empresária, incluindo através de "processos judiciais predeterminados", e que "usou os recursos do Estado angolano e do poder instituído".

 

Num comunicado enviado entretanto às redações, Isabel dos Santos frisa que estas novas provas "demonstram como os ataques do Estado angolano foram impulsionados não só por motivos políticos e financeiros, mas também como forma de distrair a opinião pública da corrupção e do suborno que assola o governo de João Lourenço, incluindo altos funcionários e a petrolífera estatal Sonangol", acrescenta.

 

As muitas horas de gravações áudio e vídeo fornecem um relato claro das inúmeras técnicas criminosas utilizadas ao longo de vários anos para enquadrar, difamar e isolar ilicitamente Isabel dos Santos. Michelle Duncan, assessora jurídica de Isabel dos Santos

Esta alegação de "campanha política" inclui ainda a compra por parte da Sonangol da participação de 25% da brasileira Oi na Unitel e até o processo Luanda Leaks, que Isabel dos Santos garante que foi um "ataque direcionado" dos serviços secretos angolanos e que "não foi realizado por denunciantes ‘whistleblowers’", mas apenas divulgado pelo "hacker" português Rui Pinto.

 

"Os materiais foram obtidos ilegalmente, manipulados e utilizados como elemento central de uma ampla estratégia de apropriação de ativos concebida pela administração de João Lourenço para acusar, difamar e isolar ilegalmente Isabel dos Santos, permitindo assim ao Estado angolano confiscar ilegitimamente os seus bens", lê-se no mesmo comunicado.

 

A assessora jurídica de Isabel dos Santos, Michelle Duncan, conclui que "as provas demonstram claramente que se trata de uma conspiração, concebida e sustentada sob a direção expressa da liderança angolana" e que "as muitas horas de gravações áudio e vídeo fornecem um relato claro das inúmeras técnicas criminosas utilizadas ao longo de vários anos para enquadrar, difamar e isolar ilicitamente Isabel dos Santos, permitindo ao Estado angolano confiscar ilegitimamente os seus bens".

 

Caixa e Galp em tribunal

 

Na semana passada, a Caixa Geral de Depósitos avançou para tribunal com uma ação de execução a uma empresa de Isabel dos Santos. O objeto da execução é Isabel dos Santos e a Kento Holding, através da qual tem uma posição indireta na Nos, através da Zopt, sociedade detida pela empresária angolana em conjunto com a Sonae.

Num outro processo, a Sonangol pediu a um tribunal holandês que proceda ao confisco da posição indireta da empresária no capital da Galp Energia. A petrolífera angolana pediu a devolução, alegando que a posição da Exem foi adquirida através de fraude e lavagem de dinheiro.

(Notícia atualizada às 12:15 com informações do comunicado de Isabel dos Santos)

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