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Marcelo sugere a Costa que evite pensar em "dividendos políticos" e veta progressão de professores
Numa longa nota de oito pontos, o Presidente da República justifica o veto do diploma do Governo e recomenda que o Executivo deve tentar ir mais longe nas negociações. "Uma coisa é não ser viável, num determinado contexto, ir mais além, outra é dar um sinal errado" escreve.
De acordo com uma nota divulgada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu aspetos positivos ao diploma - "alguns dos quais resultantes de aceitação de sugestões da Presidência da República" -, mas justificou a devolução do texto sem promulgação "apontando a frustração da esperança dos professores ao encerrar definitivamente o processo", acrescentando que cria "uma disparidade de tratamento entre o Continente e as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira".
Numa longa nota de justificação do veto, Marcelo Rebelo de Sousa começa por elencar as duas questões relacionadas com a "reclamação central dos professores - a da recuperação do tempo de serviço. Por um lado, refere o Presidente, "a da contagem do tempo de serviço prestado por todos os professores em funções no Continente, durante os períodos indicados de suspensão" e que difere do que se passa nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores em que a "contagem está a ser feita de forma faseada e gradual". Por outro, Marcelo Rebelo de Sousa aponta o tratamento diferenciado entre professores dependendo, em alguns casos, da antiguidade.
Na longa nota de justificação com oito pontos, o Presidente lembra que os docentes, tal como os profissionais de saúde, "têm e merecem ter uma importância essencial na nossa sociedade e em todas as sociedades que apostam na educação, no conhecimento, no futuro." E é aqui que surge a primeira grande crítica a António Costa: "Apostar na educação é mais do que pensar no curto prazo, ou em pessoas, situações, instituições, do passado próximo ou do presente, ou calcular dividendos políticos", pensando nos estudantes, mas também nos professores: "seus educadores, formadores e felizmente, em muitos casos, os seus inspiradores".
Marcelo Rebelo de Sousa, lembra, depois no ponto quatro, que a escola pública "não só é insubstituível, no que representa, como constitui a coluna vertebral do sistema escolar", justificando assim a "extrema atenção e apreço [com] que acompanhei o longuíssimo período de encontros entre Governo e Sindicatos de Professores. Mesmo se alguns deles infrutíferos ou desprovidos de avanços." E lembrou "que foi um anterior Governo, mas com o mesmo Primeiro-Ministro, que levantou a suspensão da contagem do tempo de serviço dos professores."
Duas limitações e meia
O Presidente da República lembra o "longuíssimo" período de encontros entre Governo e professores "de expetativas, de frustrações, de luta laboral e de gestão governamental." E deixa uma nota de avaliação política. "Governar é escolher prioridades. E saúde e educação são e deveriam ser prioridades se quisermos ir muito mais longe como sociedade desenvolvida e justa."
Faz notar que foram dados passos ao longo do processo, mas também que subsistem "limitações" à primeira versão do diploma. Uma - "sobre aceleração da progressão pudesse e possa incluir todos os docentes afetados pela suspensão da contagem do tempo de serviço" - que foi parcialmente alterada pelo Governo.
Por outro lado, é "limitada" porque mantém a "desigualdade entre professores da escola pública, nas Regiões Autónomas, que aceitaram a recuperação integral, ainda que faseada e gradual, e no Continente, sendo certo que não são invocáveis razões de exceção de necessidade específica para aquelas Regiões, já que a questão do tempo perdido ou suspenso é de âmbito nacional."
A terceira, e porventura mais relevante para o Presidente da República, o facto de fechar o diálogo futuro com os professores. Marcelo refere que "deveria figurar, no texto, a ideia de que se não encerra definitivamente o processo. A pensar no futuro". "Uma coisa é não ser viável, num determinado contexto, ir mais além, outra é dar um sinal errado num domínio tão sensível, como o é o da motivação para se ser professor no futuro.
Assim, dando ao Governo, a oportunidade, "com ou sem intervenção da Assembleia da República, de aproveitar o conteúdo do diploma, em nova iniciativa legislativa, nele inserindo a referência à disponibilidade para não encerrar, para sempre, o processo, sobre a matéria versada, devolvo sem promulgação (...) o Decreto que estabelece um regime de aceleração de progressão na carreira de alguns professores."
(Notícia atualizada às 16:20)