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Trichet: Só a redução "consistente" mostrará que dívida de Portugal é sustentável

O ex-presidente do BCE aconselha os países do euro a "esquecer" a mutualização da dívida já contraída. O homem que assinou o último resgate da troika garante que a banca "não era na altura a primeira prioridade de Portugal".

14 de Novembro de 2016 às 10:26
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Se Portugal demostrar que, com a sua política macroeconómica, consegue "diminuir regular e consistentemente" a dívida pública, estará assim "a tranquilizar os seus próprios aforradores e também os potenciais investidores europeus e do resto do mundo", avisou Jean-Claude Trichet. "E então ela será sustentável", acrescentou.

 

Numa entrevista à RTP, o ex-presidente do Banco Central Europeu insistiu que o que Portugal "tem de fazer é reduzir regularmente a dívida em proporção do PIB". Quanto à proposta de mutualização das dívidas soberanas, Trichet considerou que essa apenas será uma possibilidade para compromissos futuros.

 

"Para a futura dívida, para o funcionamento futuro da Zona Euro, reservo essa possibilidade de haver um nível de mutualização. Mas para a dívida já contraída penso que temos de esquecer essa ideia. É a minha opinião e também em termos de viabilidade política", detalhou o francês que liderou o BCE entre 2003 e 2011.


Durante o debate orçamental no Parlamento, Mário Centeno admitiu pela primeira vez que Portugal precisará de uma renegociação das taxas de juro associadas aos empréstimos europeus feitos ao Estado português, que acumula uma dívida superior a 130% do PIB. "É necessário que Portugal tenha uma redução da taxa de juro que paga sobre o seu endividamento. Essa discussão é uma discussão que apenas pode ser tida no contexto europeu", afirmou.

Poucos dias depois, no final do encontro mensal dos ministros das Finanças da Zona Euro, a 7 de Novembro, o presidente do Eurogrupo repetiu a resposta negativa à renegociação da dívida portuguesa. "Não discutimos, nem vamos discutir [essa questão] porque Portugal é capaz de gerir a sua dívida. E não estamos certos que assim seja no caso da Grécia, é essa a grande diferença. Não vamos confundir" as situações, assinalou Jeroen Dijsselbloem.


Banca fora das prioridades da troika

Um dos documentos que Trichet assinou no seu último ano em Frankfurt foi o programa de assistência financeira a Portugal. Recorda agora que "o problema de Portugal nessa altura era recuperar o acesso ao crédito" e elogiou o "conjunto de medidas corajosas" adoptadas com essa finalidade e também para "ganhar competitividade". "Foi muito bem feito. Vejo que Portugal é agora mais competitivo. (…) E permitirá, a longo prazo, ter um país mais próspero", confiou.

 

Confrontado com o colapso de dois dos maiores bancos portugueses – BES e BANIF – já depois do resgate da troika, Jean-Claude Trichet assinalou na entrevista à televisão pública que "[sabia] que havia problemas na economia em geral", que os bancos também foram "atingidos pela recessão", mas que essa "não era na altura a primeira prioridade de Portugal".

 

"Em qualquer país europeu não podemos excluir que surgirão problemas e que haverá novos desafios no sector bancário. Isto é extremamente importante porque financiam a economia. E na Europa contamos com os nossos bancos para financiar entre 60% a 75% da economia. Não quero fazer previsões sobre qualquer país; diria apenas que temos de ter a certeza de que os bancos estão sólidos porque um banco que não tem solidez não concede empréstimos. É tão simples quanto isso. E quando isso acontece, a economia tem um problema", resumiu.

 

Dando um salto até a "acontecimentos com impacto histórico muito importante", como se referiu ao Brexit e à vitória de Trump nas eleições presidenciais americanas, Trichet frisou que em ambos os casos vê "a frustração dos cidadãos perante os avanços da economia" e a viverem "sob stress" pela intensificação da concorrência e pelo progresso tecnológico.

 

Esse stress para os trabalhadores, provocado também pela rapidez das transformações em todas as economias, "é provavelmente o maior problema político" que o mundo enfrenta. O ex-presidente do BCE e do banco central francês frisa que "seria muito ingénuo dizer que as pessoas estão erradas", uma vez que "elas expressam as suas ansiedades e isso é algo que temos de ter em conta".

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