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Rio responde a Costa: "Este OE não é o melhor, nem o pior. É um OE de continuidade"
Depois de o primeiro-ministro ter considerado que este é o melhor orçamento dos últimos cinco anos, Rui Rio disse que não é bem assim. Para o líder do PSD, a manutenção da carga fiscal e da falta de estratégia fazem da proposta de Orçamento um documento de continuidade e, por isso, negativo.
"Este orçamento não é o melhor, nem o pior. Antes pelo contrário. É um orçamento de continuidade", criticou Rui Rio. Foi assim que o presidente e líder da bancada do PSD deu o pontapé de saída no primeiro dia de debate da proposta orçamental deste ano na generalidade.
Rui Rio questionou ainda qual será a estratégia do Governo na proposta orçamental, no geral, e para quando as taxas de juro subirem, no concreto. "Agora que o tal superavit deve-se exclusivamente à carga fiscal e poupança de juros, o que é que via fazer? Vai aumentar carga fiscal?", questionou.
O ainda presidente do PSD - que volta a disputar a liderança do partido no sábado (e que, por isso, António Costa agradeceu, de forma irónica, a disponibilidade de tempo do social-democrata para poder participar no debate) - considerou ainda que o orçamento não tem uma estratégia. "O OE para funcionar devia ser como uma roda dentada, mas é como um saco de bolas que abana de vez em quando para acontecer alguma coisa", disse.
Rui Rio insistiu à polémica da discrepância de 590 milhões de euros entre dois quadros do OE 2020. "Onde estão os 590 milhões de euros?", questionou, admitindo que nem o primeiro-ministro sabe. "Estou convencido de que o ministro das Finanças até a si o enganou", disse Rio, dirigindo-se a António Costa.
Na resposta, o primeiro-ministro lembrou que Portugal tem uma carga fiscal abaixo da média da União Europeia e da OCDE e repetiu as medidas de redução de IRC para as pequenas e médias empresas (em 60 milhões de euros) e de IRS para jovens e famílias com filhos (em 50 milhões de euros). Na estimativa do peso das receitas fiscais do PIB, disse, "não há quaisquer alterações". O aumento da carga fiscal, afirmou o chefe de Governo, "resulta das contribuições sociais". "Porquê? Aumentámos a TSU ou criámos alguma nova contirbuição? Não. O que está a fazer aumentar as contribuições sociais melhorando a sustentabilidade da Segurança Social é a criação de emprego", afirmou.
Quanto à falta de estratégia, Costa lembrou a intenção do Governo em aumentar o Complemento Social para Idosos até ao nível do limiar de pobreza. "Isto é uma verdadeira reforma estrutural na estrutura das desigualdades do nosso país", considerou.
Já António Costa criticou a intervenção do líder do PSD, considerando ser "particularmente frustrante" que Rui Rio se tenha refugiado "no debate de minudências técnicas" sobre as quais poderá receber, esta sexta-feira, durante a intervenção prevista de Mário Centeno, "uma pequena aula de contabilidade pública e nacional".
Pelo CDS, a deputada Cecília Meireles insistiu no aumento da carga fiscal e na polémica dos 590 milhões de euros em falta. Depois, dedicou-se ao Serviço Nacional de Saúde para criticar a "propaganda mediática" do Governo. Lembrando a inauguração das obras na ala pediátrica do São João em 2019, disse que a proposta de Orçamento do Estado diz que foram gastos "zero euros" nesta ala no ano passado.
Os novos partidos da direita com assento parlamentar também recorreram à prevista carga fiscal recorde em 2020 para atacar o Executivo socialista. O líder do Chega, André Ventura, salientou que Bruxelas diz que se trata da maior carga fiscal de sempre e que o Governo sustenta o contrário, concluir que "alguém está a enganar os portugueses e era bom que [isso] ficasse aqui esclarecido". Ventura perguntou ainda se, a exemplo dos anos anteriores, o que está no orçamento não é para cumprir devido às cativações do ministro das Finanças, Mário Centeno, e se estas vão aumentar neste ano.
O primeiro-ministro assegurou que em 2020 não haverá qualquer aumento das cativações e quanto ao nível da fiscalidade disse que até agora o "ministro das Finanças tem acertado sempre e a Comissão tem falhado sempre" no que diz respeito às previsões da carga fiscal, pelo que Costa mantém o "critério" de dar preferência à opinião de Centeno.
O deputado único do Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, até começou por elogiar previsão de redução da dívida pública - "um objetivo de macroeconomia muito importante" - para depois criticar a forma para conseguir esse objetivo. Figueiredo preferia que o excedente orçamental "fosse devolvido sob a forma de mais rendimento" e que o crescimento económico fosse maior.
O deputado do IL defendeu ainda que "reduzir impostos gera crescimento" e disse a Costa que "os dois anos em que [a economia] cresceu mais [na última legislatura] foi quando a carga fiscal foi mais baixa".
O primeiro-ministro discorda da perspetiva do parlamentar liberal e, pela sua parte, não partilha da ideia de que menos impostos é mais crescimento. "Os únicos anos em que Portugal cresceu acima da média da União Europeia, desde que aderimos ao euro, foi em 2017, 2018 e 2019", rematou o primeiro-ministro.
(Atualizada com declarações do CDS às 17:05)