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Passos pede ao Governo para ser claro sobre a reestruturação da dívida
O líder do PSD acusou hoje o Governo de ter uma "posição dúbia" sobre a reestruturação da dívida, pedindo ao executivo de António Costa para ser mais "claro e cristalino" sobre esta matéria.
"Convidaria o Governo a ser mais claro, cristalino até, e rápido a esclarecer isto, porque isto são dúvidas que no mercado só podem penalizar ainda mais os portugueses e pagar ainda mais juros, quando a nossa intenção era justamente poder pagar menos juros", afirmou o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, em declarações aos jornalistas à saída de um encontro de duas horas e meia com a CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal.
Acusando o executivo socialista de ter tido uma "posição dúvida sobre esta matéria", Passos Coelho insistiu que era importante que o Governo dissesse "cabalmente que não vai suscitar nem junto dos credores, nem em Bruxelas um processo de renegociação da dívida", como defendem o PCP e o BE.
Passos Coelho - que falava aos jornalistas já depois de o ministro das Finanças ter hoje afirmado que a reestruturação da dívida "não é algo que esteja na agenda do Governo" e ter rejeitado qualquer contradição com o que afirmou na semana passada na Assembleia da República - insistiu que é preciso que o executivo diga cabalmente que não vai suscitar esse processo, nem junto dos credores, nem junto de Bruxelas.
Considerando que diferentes membros do Governo têm tido "o cuidado de não se contradizerem entre si", não dizendo "exatamente as mesmas coisas para nunca se perceber bem qual é o objetivo ou a intenção", o presidente social-democrata notou que qualquer processo de renegociação quebrará a confiança dos investidores em relação a Portugal, o que seria "trágico para o país".
"Não percebo porque é que o Governo de uma forma rápida e cristalina não põe um ponto final nessas dúvidas", vincou.
Passos Coelho admitiu, contudo, que Portugal pode vir a pagar menos juros pela dívida, mas para isso terá de tirar partido da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), à semelhança do que outros países estão a fazer, como a Espanha.
"Somos o único país que não está a tirar partido dessa situação, pelo contrário, estamos até a ter um agravamento das taxas de juro a cinco anos e a dez anos", disse, estimando que em 2016 o país vá pagar mais cerca de 350 milhões de euros de juros da dívida.
O líder do PSD falou ainda da possibilidade de Portugal reduzir a taxa de juro dos empréstimos oficiais, mas lembrou que, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) não aceita redução de juros, isso só seria possível se Portugal se financiasse nos mercados a taxas de juro mais baixas para pagar antecipadamente ao FMI os empréstimos que tem a taxas mais altas.
"Mas, como é sabido, o Governo está a fazer o contrário", sublinhou, recordando que o executivo já disse que, ao contrário do que estava programado, não irá pagar antecipadamente seis mil milhões de euros ao FMI até ao final do ano, "porque precisa do dinheiro para outras coisas".
"Relativamente aos empréstimos europeus, nós já estamos praticamente a pagar as taxas de juro que são suportadas pelos fundos europeus que nos emprestaram o dinheiro. Mais do que isso só se nos oferecessem os juros do dinheiro que nos emprestaram e parece-me pouco razoável", afirmou.
Passos Coelho foi ainda questionado sobre as primeiras indicações de Bruxelas sobre o Orçamento do Estado para 2017, assegurando que se a Comissão Europeia aceitar a proposta do Governo ficará "muito satisfeito", pois o PSD não está interessado que existam problemas orçamentais e financeiros no país.
Contudo, acrescentou, tal não significa que o partido não possa estar preocupado com "as perspetivas de crescimento da economia portuguesa e com a facilidade com que o Governo poderá ou não cumprir as suas metas".