Notícia
O bom filho a casa tornará
Alcides deverá ser forçado a ir viver com a mulher, Cristina, para casa da mãe.
Alcides Santos, 46 anos, sempre foi um bom filho. Até há dois anos, ganhava perto de dois mil euros líquidos. A vida não era um luxo, mas andava desafogado.
Trabalhou dez anos numa empresa de construção civil como informático, mas um dia resolveu aceitar o convite de uma outra empresa para um projecto que – julgava – "tinha pernas para andar". Seis meses depois, o projecto deixou de ter financiamento. Alcides ficou de mãos e pés atados. Os mesmos pés que o levaram ao balcão da Segurança Social e as mesmas mãos que preencheram o formulário do subsídio de desemprego.
"Vivemos com cerca de 1.800 euros por mês. Sei que parece muito, mas quem souber como é que quatro pessoas conseguem viver com 1.800 euros, pagar casa, água, luz, gás, propinas, escola e não passar fome, diga-me como é", desabafa Alcides.
E como tem sido, Alcides? "Neste momento, não estamos a pedir caridade nem nada disso, mas estamos a ir ao crédito." Alcides garante que vai ao crédito para pôr comida na mesa e já deve mais de cinco mil euros.
Dorme mal e anda agitado. Fala rápido e nervoso porque o relógio não para e o subsídio vai acabar em Março do próximo ano. Diz que não há emprego, farta-se de procurar e até tentou abrir uma empresa, mas a burocracia ainda é rainha em Portugal. O mesmo país que recusa abandonar.
Os pais divorciaram-se quando Alcides era pequeno. O pai foi obrigado a ir para fora, à procura de melhores condições e o casamento não resistiu. Alcides não quer separar-se de Cristina e repetir a história dos pais.
Aquele que sempre foi um bom filho, à casa da mãe vai ter de regressar se, até Março, não conseguir encontrar trabalho. Alcides, a mulher e dois filhos. "É inaceitável que seja a minha mãe, uma mulher com pouco mais de 500 euros de reforma que trabalhou a vida toda, a suportar uma renda de casa e ainda ter lá mais quatro pessoas".
Alcides dá por ele "a pensar em soluções mais drásticas e até mesmo violentas". Diz que é preciso fazer um grande esforço "para ser racional e não deixar a raiva vir cá para fora".
Rita Colaço, Antena 1