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INE vence braço de ferro com Carlos Costa sobre Banif
O Banif, SA, que ficou com os destroços do banco, tem 295 milhões de euros de passivos que o INE, ao contrário do banco central, considerava que deveriam contar para a dívida pública.
Recuemos uns meses para perceber melhor os contornos deste confronto pouco comum. A 23 de Março, menos de 24 horas antes da data prevista, o INE anunciou que não enviaria no dia seguinte a notificação de défices de 2015 à Comissão Europeia, adiando a prestação de contas por uma semana, e limitando-se a dizer que lhe faltava informação.
Os técnicos de um lado e de outro continuaram a trabalhar na semana seguinte, mas o diferendo persistiu. No dia, 31, quando já não havia mais dias para adiar o envio da informação , o INE notificou um valor de dívida pública de 128,8% do PIB em 2015, mas avisou que na sua interpretação – e na do Eurostat, o gabinete de estatísticas da UE – a dívida pública seria 295 milhões de euros mais elevada, ou seja, ficaria nos 129% do PIB.
A divergência
Mas então em que divergem as duas instituições? A resolução do Banif foi concretizada em três passos: primeiro, e após limpeza do balanço e injecção de dinheiro público, foram vendidos activos e passivos do Banif ao Santander; foi depois criado um veículo financeiro com activos problemáticos, que ficou na esfera do Fundo de Resolução; finalmente restou, o Banif, SA, ou residual, que ficou com os accionistas e créditos subordinados, e que tem um passivo de 295 milhões de euros.
Foi a forma de registo deste Banif, SA que gerou o diferendo. Para o Banco de Portugal, embora não captando depósitos nem concedendo crédito, o Banif, SA deveria continuar a ser considerado uma instituição financeira prestando serviços ainda que limitados de intermediação. Além disso, eventuais perdas seriam suportadas pelos bancos e não pelo Estado, pelo que a entidade não deveria contar para a dívida pública. Já a interpretação do INE, que na altura recebeu a concordância do Eurostat, considera que o Banif, SA já não opera verdadeiramente como instituição financeira e está sob controlo do Fundo de Resolução – ele próprio uma entidade das Administrações Públicas (AP). O seu passivo deveria por isso somar aos das AP.
A decisão
Foi assim pedida a opinião sobre o tema a 27 bancos centrais, 27 institutos, ao Eurostat e ao BCE e os resultados foram conhecidos agora. A votação foi renhida: 27 votaram ao lado do INE, 24 foram convencidos pelos argumentos do Banco de Portugal, e 5 abstiveram-se, lê-se na nota síntese dos resultados publicada pelo CMFB. "A opção pela classificação (...) [nas Administrações Públicas] recebeu um voto maioritário", acrescenta o organismo, que conclui: "Baseado nos resultados da operação, o CMFB expressa a opinião de que a entidade Banif residual deve ser classificada dentro do sector das Administrações Públicas."
O Banif exigiu aos contribuintes cerca de três mil milhões de euros, dos quais parte serão pagos ao longo de décadas. O défice subiu 1,4% do PIB.