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O abanão regional de Angela Merkel

Vistas como um referendo à política dos refugiados de Angela Merkel, as eleições regionais que decorreram este domingo, 13 de Março, não deixaram a chanceler descansada e já se fala em debates internos na CDU.

Reuters
13 de Março de 2016 às 23:44
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"Isto significa guerra [Das gibt Ärger]" é como titula o Der Spiegel, na versão online, o artigo onde já se fala das possíveis alianças regionais. Houve também, de acordo com o The Guardian, quem chamasse para a CDU o domingo negro. Não houve nas três eleições regionais que decorreram este domingo, 13 de Março, nenhum motivo para Merkel sorrir.

A política dos refugiados de Merkel, permissiva e de portas abertas, não agrada o seu próprio país. E o partido da direita radical, o Alternativa para a Alemanha (AfD) tirou partido disso mesmo e foi o grande vitorioso da noite eleitoral. Conquistou lugares nos parlamentos regionais dos três estados disputados. E conseguiu, mesmo, ser a segunda força mais votada no Estado de Leste da Saxónia-Anhalt, ultrapassando os sociais-democratas do SPD. Ainda assim, este foi o único estado em que a CDU saiu vitoriosa, podendo vir nos resultados finais a ficar com menos de 30%. 

O AfD deve garantir perto de 24% dos votos, segundo o Der Spiegel, que cita as duas sondagens divulgadas pela ARD e ZDF. Essa votação não dá, no entanto, à CDU a maioria no Estado, tendo de garantir uma coligação, à semelhança, aliás, da que mantinha neste estado com o SPD.  

A CDU, de Merkel, falhou, por outro lado, a pretensão de reconquistar a região Baden-Wüerttemberg, que já estava na liderança dos Verdes. Esta força política voltou a ganhar e até acrescentou votos, esperando-se que fique com uma percentagem em torno dos 30%. "Baden-Württemberg voltou a fazer história", declarou, pouco tempo depois de conhecidas as sondagens, Winfried Kretschmann, ministro-presidente da região.

A CDU perdeu votantes e o AfD, do nada, conquistou 15%. Uma coligação com a CDU dá uma maioria, mas nesta região a coligação que tem exercido o poder é a dos Verdes com o SPD. Mas a votação dos dois partidos, este ano, não é suficiente para garantir a maioria do parlamento regional. Apesar de há uns meses a CDU acreditar que a reconquista deste estado poderia estar ao seu alcance, não o ter conseguido acaba por não ter tão dramático como em 2011, quando perdeu as eleições pela primeira vez e mais de meio século a liderar esta região. Mas não se sabendo o desenho das coligações regionais, a CDU pode muito bem não conseguir chegar ao poder neste estado.

Tal como não se sabe ainda o que acontecerá na Renânia-Palatinado, em que também o SPD terá mantido a primeira posição, mas sem maioria de votos. A CDU foi, neste estado, a segunda força mais votada. Os Verdes, que são poder à força da coligação com o SPD, perderam, aqui, muitos votos. Mais uma vez a surpresa foi para o AfD com 12,6%, ficando, assim, à frente dos Verdes.



"Nenhum dos partidos estabelecidos no Parlamento alemão (Bundestag) teve uma noite particularmente boa", comentou, citado pela Bloomberg, Michael Grosse-Broemer, deputado pela CDU. Também escusou-se a caracterizar o AfD como partido do protesto. Certo é que este partido, liderado por Frauke Petry (na foto), estará, agora, em oito dos 16 parlamentos regionais e também tem assento no Parlamento Europeu. O partido defende uma linha dura contra a imigração está assim a preparar-se para as eleições nacionais de 2017.

Segundo o The Guardian, nos três estados, o AfD ganhou os seus votos a quem votava pela primeira vez e não a outras forças políticas. Na Saxónia, 40% dos seus votos foram precisamente de debutantes nas eleições, enquanto 56% dos votantes no AfD disseram ter escolhido o partido pela sua posição na crise dos refugiados. Andre Poggenburg, o candidato-líder na Saxónia, clamou terem conseguido algo muito importante ao captar os votos de quem não ia às urnas, "algo que os partidos estabelecidos não conseguiram".

E é nestas que a incógnita é agora maior. Merkel vai à frente das sondagens. "A CDU está dividida entre os que consideram que acorrer aos refugiados é uma questão humanitária, e os que pensam que deve ser feita marcha-atrás e mostrar mais dureza. E estas eleições influenciarão esse debate e a decisão de Merkel de se apresentar a um quarto mandato", comentou ao El País Stefan Kornelius, responsável do internacional do Süddeutsche Zeitung.

Mas também há quem veja nestes resultados alguma chance para Merkel, que poderá atribuir culpas, escreve a Bloomberg, aos líderes regionais do partido, que criticaram a sua política de migração. Daniela Vates, comentadora em jornais como o Berliner Zeitung, citada pelo El Pais, diz mesmo que Merkel poderia mesmo argumentar que os líderes vencedores dos dois estados em que a CDU perdeu – Verdes e SPD – a apoiaram mais na política de migração que o seu próprio partido.

Foi de migração que Merkel falou no último comício, no sábado, antes das eleições, dizendo que o número de refugiados a entrar na Alemanha está a diminuir, e defendendo um acordo com a Turquia para travar a migração na Europa. Na quinta-feira, a União Europeia e a Turquia voltam a encontrar-se para tentar um acordo.

Mas os efeitos destas eleições podem ser mais drásticos para o líder do SPD. Sigmar Gabriel já disse que não se demitiria se os resultados fossem pior que as sondagens indicavam. Só que depois de ter sido reeleito à frente do partido com alguma contestação interna, uns maus resultados este domingo podem comprometer a sua intenção de se candidatar em 2017. "Esta noite marca uma ruptura", declarou citado pelo Le Fígaro.

Nas eleições de domingo um quinto da população alemã foi a votos.

um dos vencedores da noite
Quem é o AfD e Frauke  Petry? O Alternativa para a Alemanha é liderado por Frauke Petry, uma cientista nascida na Alemanha de leste. É a única semelhança com Angela Merkel, também nascida do lado de lá do muro de Berlim. Petry disse mesmo, segundo relata a BBC, que se necessário, a polícia alemã deveria matar os migrantes, que tentam entrar na Alemanha de forma ilegal. Tornou-se líder do AfD, nascido em 2013, em Julho de 2015, depois de uma luta interna com o fundadora e primeiro presidente do partido, Bernd Lucke. Petry venceu. O AfD (Alternative fuer Deutschland) foi criado em 2013 por um grupo de economistas - Bernd Lucke, Alexander Gauland e Konrad Adam - preocupados com as ajudas da Alemanha aos resgates dos países da zona euro. Bernd Lucke, professor de macroeconomia da Universidade de Hamburgo e antigo conselheiro do Banco Mundial, tinha sido militante da CDU de Kohl e de Merkel durante 33 anos. Deixou o partido em 2011 e em 2013 fundou o AfD. Em Fevereiro de 2014 deu uma entrevista ao Negócios na qual defendeu o fim do euro e dos resgates financeiros. Tornou-se o primeiro partido anti-euro a garantir lugares em parlamentos regionais na Alemanha.
Mas em Julho de 2015 deixou o partido, argumentando que se tornara uma força xenófoba. Petry tomou o seu lugar e com ela o partido voltou-se mais para o assunto dos refugiados e das migrações, depois de mais de um milhão de pessoas ter pedido asilo à Alemanha em 2015.
Petry faz parte do parlamento da Saxónia. Tem 40 anos e nasceu em Dresden, tendo-se mudado para a Alemanha Ocidental na adolescência e depois da reunificação dos dois lados. Estudou química na Universidade de Reading, doutorou-se na Universidade de Goettingen e, mais tarde, conta a BBC fundou uma companhia em Leipzig que produz materiais amigos do ambiente. Tem quatro filhos e já depois de assumir a liderança do AfD separou-se do marido.
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