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Merkel e Macron prometem acertar agulhas sobre o futuro do euro

Paris e Berlim estão alinhadas na intenção de fortalecer o eixo franco-alemão, que deverá redigir um guião para o reforço da União Europeia e da Zona Euro. Macron afiança que a revisão dos tratados europeus deixará de ser tema tabu.

Reuters
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Angela Merkel e Emmanuel Macron prometeram nesta segunda-feira, 15 de Maio, pôr o eixo franco-alemão (o duo é já designado de "Mercron") a funcionar em pleno, ao assumirem que apresentarão propostas conjuntas sobre os passos que a União Europeia e, em particular, a Zona Euro, deverão dar na próxima década para reduzir o risco de novas crises sistémicas e garantir a sobrevivência do projecto europeu de integração económica e política.

"Queremos um guião franco-alemão para a UE e a Zona Euro", disse Macron, citado pela Bloomberg, depois do encontro com a chanceler alemã que decorreu em Berlim. Durante a campanha eleitoral, o agora presidente francês defendeu o reforço da cooperação Paris-Berlim.

Numa altura em que a UE se prepara para perder o primeiro país-membro (o Reino Unido) e em que o eurocepticismo está a crescer, incluído na Alemanha onde haverá eleições em Setembro, os dois líderes admitiram ainda defender a possibilidade de uma nova alteração aos Tratados (e, logo, novos referendos e risco de chumbos), ainda que num prazo mais distante.

"No passado, a questão das alterações aos tratados era um tabu francês. Deixará de ser o caso", rematou Macron, presidente do país que, junto com a Holanda, rejeitou a Constituição Europeia. Já a chanceler alemã preferiu notar que "a Alemanha apenas será bem sucedida no longo prazo se a Europa o for, e a Europa apenas será bem sucedida com uma França forte".

 

Angela Merkel falava na capital alemã ao lado de Emmanuel Macron que, seguindo uma já longa tradição, cumpriu em Berlim a primeira visita oficial enquanto presidente francês, 24 horas depois de ter tomado posse, substituindo François Hollande.


Com Macron no Eliseu há agora uma banda mais larga de entendimento entre Paris e Berlim, que poderá voltar a ser ampliada em caso de vitória do SPD de Martin Schulz, defensor de uma maior intervenção financeira da Alemanha na resolução dos problemas crónicos do euro. Schulz, candidato à chancelaria alemã, já disse estar de acordo com a ideia de Macron acerca da criação de um orçamento comum no euro. 

Diferentemente de François Hollande, o novo presidente francês considera fundamental cumprir o Pacto de Estabilidade e o Tratado Orçamental (que ajudou a redigir, ao lado de Wolfgang Schäuble), e promete reduzir finalmente neste ano o défice, para ficar abaixo do limite de 3% do PIB. Macron quer "contas certas" e regras cumpridas com o rigor alemão, mas quer também que a Zona Euro passe a ser gerida numa "lógica positiva e não apenas punitiva".

Nesse contexto, defende a criação de um orçamento próprio para os países do euro e, dentro deste, de uma linha de investimento, financiada por títulos de dívida  europeus para  dinamizar projectos nos países que, em contrapartida, se comprometam com as chamadas reformas estruturais, geralmente muito impopulares, desde logo em França onde os direitos adquiridos são uma realidade estanque.

 

Macron muda de ideias sobre as "eurobonds"?

 

Questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de os países do euro emitirem dívida em conjunto (as ditas "eurobonds"), Emmanuel Macron frisou que nunca defendeu a ideia das eurobonds nem a mutualização de dívidas contraídas no passado.

 

Contudo, a garantia dada esta tarde em Berlim pelo recém-empossado presidente gaulês não corresponde àquilo que o próprio defendeu durante a campanha, inclusivamente numa entrevista concedida, em Abril, à RTP.

 

Nas declarações prestadas ao canal público, Macron falou na necessidade de maior "solidariedade" no âmbito das economias do euro, propondo a "mutualização de dívidas futuras" – o que seria assegurado com a emissão de dívida conjunta - e a criação de um "verdadeiro orçamento" capaz de garantir "uma nova capacidade de financiamento da Zona Euro". Na entrevista, Macron rejeitava, sim, a mutualização das dívidas passadas. 


A Alemanha torce o nariz às "eurobonds", mas numa clara aproximação às posições alemãs, o antigo ministro francês da Economia tem rejeitado, ao invés do que defendia o seu antecessor e o Governo de António Costa, que a Zona Euro possa, no futuro, criar mecanismos de partilha do fardo das dívidas públicas, especialmente elevadas nos países do Sul. "Sejamos realistas: eu aceito  o princípio moral de que cada um é responsável pela dívida que contraiu", frisou na entrevista à RTP.

 
"Quero um orçamento para a Zona Euro, um ministro responsável por esse orçamento, um parlamento para o controlar e uma verdadeira capacidade para investir e para corrigir os choques que existem na Zona Euro", explicou então.

Também Espanha partilha muitas destas ideias, tendo nesta segunda-feira entregue em Bruxelas um documento onde defende que o futuro orçamento exclusivo da Zona Euro possa suportar parte dos subsídios de desemprego. Espanha é, a par da Grécia, a recordista do desemprego na Europa.

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